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Leituras no Mosteiro: O Grande e o Pequeno II

Leituras no Mosteiro: O Grande e o Pequeno II

LEITURAS NO MOSTEIRO
O Grande e o Pequeno 
Sessão 2

ROSENCRANTZ & GUILDENSTERN ESTÃO MORTOS, de Tom Stoppard, tradução de João Paulo Esteves da Silva

Rosencrantz e Guildenstern, personagens secundárias no Hamlet de Shakespeare, passam a personagens centrais na peça de Tom Stoppard; centrais e, quase que abusivamente, sempre presentes em cena, sem deixarem, ainda assim, de ser secundárias, subalternas, derivadas. É este o jogo e o gozo da escrita teatral de Stoppard. Gozo que não terá sido totalmente puro e inocente, antes contendo uma certa dose de maldade, talvez a necessária para que o jovem escritor – tinha 29 anos em 1966, quando a peça se estreou – se pudesse afirmar face ao dramaturgo dos dramaturgos. Não se arriscará muito sugerindo que entre os motores da criação terá funcionado este de fazer um pouco troça de Shakespeare, virando o Hamlet do avesso, reduzindo a obra-prima grandiosa à função de intriga secundária e de peça dentro da peça. Isto, por si só, há-de ter dado um certo gozo. Mas não chega para explicar o êxito estrondoso da peça de Stoppard, êxito no duplo sentido, quer junto do público quer como criação teatral. Porque, há que reconhecê-lo, Rosencrantz & Guildenstern Estão Mortos é uma excelente peça; cómica, por vezes extremamente cómica, mas também, aqui e ali, profunda, fornecendo abundante matéria de reflexão sobre algumas questões sempre inquietantes, tais como: a morte, a vida, a liberdade, o acaso, o destino, a verdade… mas, sobretudo, a morte, e morte “é o que os actores fazem melhor”, nas palavras do Actor, a terceira personagem central da peça. O Actor acaba mesmo por revelar-se a única personagem, por assim dizer, principal, o único leading role, o do especialista em morte. As personagens Rosencrantz e Guildenstern, permanecendo sempre em cena a vociferar, tendem a confundir-se com o vazio circundante (espaço incaracterístico nos dois primeiros actos, só uma mudança de luz a marcar a diferença exterior/interior, um barco em pleno oceano no terceiro acto), ao passo que a personagem Actor, aparecendo e desaparecendo em momentos cruciais, se destaca naturalmente, tal como uma figura se destaca de um fundo.

Excerto do texto de João Paulo Esteves da Silva publicado no programa de sala de “Rosencrantz & Guildenstern estão mortos”, espectáculo encenado por Marco Martins, estreado no TNSJ em 2013.
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O GRANDE E O PEQUENO
16 jan | O Grande Teatro do Mundo, de Pedro Calderón de la Barca
20 fev | Rosencrantz e Guildenstern Estão Mortos, de Tom Stoppard
20 mar | Hamlet, de William Shakespeare (excertos) + A Máquina Hamlet, de Heiner Müller

Começamos 2018 com vontade de colocar em movimento o grande – o mundo – no interior do mais pequeno – o palco de um teatro. Começamos com um chamamento. “Quem me chama / […] Quem me tira de mim e me dá vozes?”, pergunta o Mundo ao Autor, pergunta o Teatro a Deus, o encenador de tudo isto, no início de O Grande Teatro do Mundo (1635), de Pedro Calderón de la Barca, texto que inaugura mais um ano das Leituras no Mosteiro. O grande e o pequeno contêm-se e coincidem, “Todo o mundo é um palco”, dirá William Shakespeare, que em Hamlet inventou o pessimismo e inventou a melancolia, e de caminho gerou uma prole infecta de monstros. As Leituras no Mosteiro dão-nos a ler dois deles, desde logo, Rosencrantz e Guildenstern Estão Mortos (1966), de Tom Stoppard, que coloca duas personagens secundárias do drama de Shakespeare numa deriva existencialista a caminho de Elsinore, nome de um dos lugares onde o teatro mais se pensa a si mesmo. “Quem somos?”, perguntam-se Ros e Guil. “Eu era Hamlet”, parece responder-lhes Heiner Müller em A Máquina Hamlet (1977), texto curto e opaco, feito de citações, colagens, associações livres, imagens violentas e enigmáticas. Começa assim: “Eu era Hamlet. Estava de pé junto ao mar e falava com as ondas blá, blá, blá, atrás de mim, as ruínas da Europa.”

16 jan | O Grande Teatro do Mundo, de Pedro Calderón de la Barca
20 fev | Rosencrantz e Guildenstern Estão Mortos, de Tom Stoppard
20 mar | Hamlet, de William Shakespeare (excertos) + A Máquina Hamlet, de Heiner Müller
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