Fundada logo após a Revolução de Abril, pela parceria Óscar Alves e João Paulo Ferreira, a Cineground (1975) foi um grupo que se caracterizou por fazer uma primeira tentativa de comercialização de filmes em Super8, em pequenas 'salas de diversão' em Portugal (boîtes e clubes nocturnos). Esses seriam na época os locais de eleição para a divulgação desta cinematografia de carácter queer e underground (na origem do nome da produtora).
Com escassos recursos de produção e uma equipa técnica reduzida, a Cineground logrou a criação de 9 títulos durante o seu curto tempo de actividade: O Charme Indiscreto de Epifânia Sacadura (1975), Solidão Povoada (1976), Fatucha Super Star - Ópera Rock...Bufa (1976), Os Demónios da Liberdade (1976), Goodbye Chicago (1978), As Aventuras e Desventuras de Julieta Pipi (1978) (conhecidos). Trauma (1976), Tempo Vazio (1977) e Ruínas (1978) da autoria de João Paulo Ferreira não existem em arquivo, crendo-se que terão sido 'oferecidos' pelo autor à Cinemateca Russa (Fonte: Queer Lisboa).
Nos filmes encontramos representações de sexualidades, classificadas na década de 60/70 como ainda desviantes, e na linguagem empregue uma apropriação do 'jargão' e estereótipos negativos que lhes seriam atribuídos. Da mesma forma, a sátira aos falsos moralismos e a linguagem subliminar remetem-nos para as décadas antecedentes de repressão ditatorial e seus resquícios no imaginário dos portugueses. A ‘experiência do normativo’ terá agudizado a tendência do desviante, a resistência, e finalmente, liberdade conquistada na materialização destes registos, que constituem um exemplo de como a arte se pode tornar política.
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