Encontros da Imagem de Braga: Viktoria Sorochinsksi, Anne & Eve (Museu da Imagem, Braga)
O mote é dado pelos Joy Division: Love Will Tear Us Apart é o tema que reúne as impressões fotográficas dos mais de 30 autores de 10 países que este ano integram os Encontros da Imagem – Festival Internacional de Fotografia. “O tempo acelerou e as relações humanas, tornaram-se mais urgentes”, explica a curadora, Ângela Berlinde, que substitui Rui Prata, o responsável pelo evento no seu longo percurso de 25 anos. “Julgou-se oportuno construir uma narrativa que contribua para uma reflexão consequente em torno das velhas/novas relações interpessoais”, retira-se das palavras da organização.
Em 20 diferentes espaços de Braga, com extensão no Porto, Lisboa e Fortaleza, partimos de um olhar leigo sobre a fotografia contemporânea para viajar por espaços bracarenses e experiências alheias, que tomamos como nossas, nesta necessidade de saciar a curiosidade sobre as histórias por detrás das imagens e de querer ver-e-saber-mais-longe sem sair do lugar...
Encontros da Imagem de Braga: Duarte Amaral Neto, Do Que Nos Lembramos Quando nos Lembramos de Nós (Museu Nogueira da Silva, Braga)
E somos então uma das memórias do álbum de família de Duarte Amaral Neto, constituído por transferências de películas instantâneas para moleskines, numa espécie de caderno atemporal a lembrar que o registo físico é o que guardamos. Ou estamos sentados ao lado de uma tia de Lucía Herrero, a posar orgulhosamente num estúdio à beira-mar, para exibirmos as nossas férias no regresso ao trabalho. A experiência de mãe e filha, exiladas russas aos olhos de Viktoria Sorochinsksi, permitem espreitar a medo o processo solitário e fantasioso de uma experiência particular de maternidade. E se nos lembramos de uma relação que terminou, e do quanto podemos estar sozinhos com os outros, vemo-nos ao espelho de Laura Stevens, no incrível cenário do Mosteiro de Tibães, que vale por si a viagem no tempo. Os olhares tenros de cerca de 80 jovens propostas no âmbito do grande prémio de fotografia Emergentes DST são ainda um bom pretexto para beber da energia do espaço start up GNRation.
Estão representadas várias histórias de amor, várias memórias de família, várias experiências relacionais, as referências às coisas fundamentais da vida. Tal como no filme de Michel Gondry, os amigos, o amor, a gastronomia, a literatura. Mas aqui em cenários e poesias surreais, numa espécie de videoclip de realidades paralelas, igualmente numa alusão clara à reflexão que se impõe sobre a sociedade em imensa transformação.
Encontros da Imagem de Braga: Lucía Herrero, Tribos (Avenida da Liberdade, Braga)
L’Ecume des Jours/A Espuma dos Dias, com Romain Duris e Audrey Tautou, é a história surrealista e poética de um homem idealista e inventivo, Colin, que encontra Chloé, uma jovem mulher que parece encarnar o blues de Duke Ellington. E mais o cozinheiro Nicolas e Chick, um amigo fanático pelo filósofo Jean-Sol Partre. São os elementos centrais das palavras de Boris Vian e dos olhos de Michel Gondry: o amor, a doença e a morte, numa atmosfera jazzy de Paris, com o piano que faz cocktails musicais e pernas que crescem quando dançam, um passeio de nuvem e espingardas feitas de calor humano e, por fim,... um arranca-corações.
Encontros da Imagem de Braga: Laura Stevens, Us Alone (Mosteiro de Tibães, Braga)
O que encontramos nos Encontros da Imagem de Braga são espaços simples e despojados, o que invariavelmente reflete o esforço atual para manter as iniciativas culturais de pé, mas pode transformar-se numa interessante condição de liberdade de olhar, ver e assimilar o que nos é proposto. E assim também no filme de Michel Gondry: o inconsciente que se sobrepõe à realidade obriga a sair da zona de conforto para permitir olhar o mundo de forma diferente.
Os encontros estão a terminar, não faltar à próxima edição. O filme está para estrear, estar atento às datas. Tudo incerto, mas com liberdade de ver. Como na vida e no amor, e enquanto os dias se transformam em espuma.
Michel Gondry, L’Ecume des Jours (Trailer)