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Bem-vindos paraíso!

Señor Pelota


Bem-vindos ao paraíso!

Fazer um festival de música no meio do Atlântico poderia parecer uma ideia à partida um pouco utópica e no mínimo desafiante, mas o certo é que desde há 6 anos que o arquipélago dos Açores está no mapa dos eventos com relevância artística. A ilha de S. Miguel com a toda a sua envolvência e características de paraíso semi-tropical funciona como o engodo perfeito, e é sem dúvida a atração principal que acaba por funcionar como chamariz mais do que qualquer cabeça de cartaz. 

Os Açores é terra de festa e festivais, em especial no verão, que são às largas dezenas e para todos os gostos e géneros musicais. Esses são eventos que cumprem a sua função principal de entretenimento para um público maioritariamente local, mas nenhum se pode comparar a este evento com características únicas nas Ilhas. Não se enganem, falar do Tremor é falar de um festival de música a sério. Chamar a este evento de festival pode soar redutor, pois é bem mais do que um alinhamento de bandas a tocar num recinto para um grupo de pessoas. Aqui encontramos uma proposta completa num formato desafiante e de descoberta constante durante 5 dias, há concertos, performances e residências artísticas que acontecem nos sítios mais improváveis e que nos obrigam realmente a conhecer a ilha. 

Com a base no centro da cidade de Ponta Delgada (PDL), o festival estende-se a outras localidades como, por exemplo, a vila de Ribeira Grande. Existem também os concertos surpresa: o “Tremor na Estufa” e o “Tremor Todo-o-Terreno” com o mote de aventura, seguindo coordenas até um ponto de encontro e que depois nos levam por trilhos na natureza até aos locais mais improváveis da ilha, onde nunca ninguém imaginaria ouvir música. Este certame espalha-se um pouco por todo o lado e existem palcos para todos os gostos e que raramente se reptem: auditórios, coliseus, jardins, bares, garagens, lojas de roupa, cafés, teatros, centro culturais, clubes recreativos, mercados, cascatas, lagoas, piscinas naturais ou igrejas. É só escolher! 

Na programação há variedade, qualidade e muito desconhecido, o que é bom! Uma aposta clara na música emergente, muito espaço para experimentalismo, onde vamos provavelmente encontrar a next big thing, mas também poder ver aquele clássico improvável. Aqui não há qualquer barreira de géneros, música sem fronteiras ou tribos. Do folk ao pop, música ambiente, experimental, psicadélica, rock, eletrónica, tradicional, jazz, punk, disco, hip-hop, ou funaná. Também não é uma feira de marcas a poluir o ambiente e são apenas 1500 bilhetes vendidos, aqui está tudo sobre o Tremor.
Tremor tem muito amor! 




Destaques: 


Quinta-feira, 11 de Abril

Jacko Gardener foi um dos ovnis que aterrou em PDL, o cantor e multi-instrumentista apresentou o mais recente Somnium, o seu primeiro disco instrumental. Ele e a sua companheira de guerra, munidos de toda a parafernália de maquinaria sentaram-se formando uma ilha no meio do público, que por sua vez estavam sentados no chão do salão nobre do Teatro Micaelense.  O ambiente foi propício para a viagem, electrónica psicadélica dominantemente ambiental e low tempo com rasgos de pop futurista.

Atneu de Ponta Delgada esgotado com fila à porta, são os Pop Dell’Arte com estatuto de quase headliners e bem merecido. Deram dos melhores concertos que vi deles nos últimos tempos, e acreditem que já vi mesmo muitos.  Voltaram a ser 6 elementos em palco, há mais electrónicas, um violino e músicas novas do disco que está aí para sair. Ter visto isto tudo na primeira fila deixa-me mesmo feliz.

São 01am num Arco 8 esgotadíssimo com toda a gente espera dos Cave. Estes chegam de Chicago e são power quinteto do rock shoegaze mais psicadélico; no meio cabe o jazz, uns rasgos de punk ou até as influencias mais étnicas. Ao vivo é daquelas bandas de uma competência sem repreensão e que dá gosto de ver.

De seguida no mesmo palco aparecem os Yin Yin para dar o melhor concerto desta noite, ou pelo menos o mais divertido! Estes jovens holandeses, com casa no selo Bongo Joe Records, apenas começaram a gravar canções em 2017 e editaram o seu primeiro trabalho em K7. Assumem como principal influência a música do sudeste asiático dos 60’s e 70’s, mas dentro do caldeirão cabe funk, disco e eletrónica; o resultado é um explosão festiva cheia de ritmo; no meio de congas e cowbells pelo meio de potentes linhas de baixo. Resumindo, tocam que se fartam e ficava horas a fio sem nunca aborrecer a dançar ao som destes rapazes, quando houver disco sou comprador!




Sexta-feira, 12 de Abril

Começar o dia a caminho do “Tremor na Estufa”, que desta vez nos leva às ruas da típica vila de Rabo de Peixe, onde iria acontecer o espetáculo resultante de uma das residências artísticas do Festival. A improvável colaboração dos catalães Za!, duo que se assume como post world music onde cabe do jazz ao punk e com muita eletrónica à mistura; e das Despensas de Rabo Peixe + Ruben Monfort, falamos de tradição ancestral de cantares e danças às atividades das pescas e agricultura. Há chapéus de palha, lenços ao pescoço e castanholas a bater. 

Chovia; como aliás aconteceu durante quase todo esta edição do Tremor, terá sido a exceção à regra que nas ilhas fazem sempre as 4 estações do ano, aqui só deu inverno. Assim, o espetáculo, que começou nas ruas, passou para dentro da sala polivalente da associação da vila, onde a multidão misturava o público do festival com os locais, famílias de todas as gerações vestidas a rigor. Uma festa!

A noite de hoje era concentrada no lado norte da ilha, mais precisamente na Ribeira Grande, aquela que é a segunda cidade da ilha. O Arquipélago – Centro de Artes Contemporâneas foi o epicentro das atividades, com várias salas a uso deste incrível edifício recuperado de uma antiga fábrica ligada às industrias da baleias. Inaugurado em 2014, já foi distinguido com vários prémios internacionais de arquitetura e vale por si só a visita. Mas infelizmente o preço a pagar por uma bifana distinguida pelo Anthony Bourdain e que demorou horas, foi ter perdido alguns concertos do início da noite. O espaço aqui também começa a ficar curto pois não chegou para todos, relembrando que a lotação do festival é superior a todas salas com exceção do Coliseu Micaelense.

Ainda assim houve tempo para deitar o olho e ouvido nos Chupame El Dedo, projeto que tem como desafio ser uma banda de death metal com influências na música tropical. Teria tudo para ter resultado ali, apenas se se levassem só um pouco mais a sério e não tivesse a derreter o PA da sala. Fugi.



Foi tempo de ir conhecer outro espaço, o Mercado Municipal de Ribeira Grande para um dos grandes concertos da noite, Vive La Void, projeto da co-fundadora e teclista dos Moon Duo, Sanae Yamada. Aqui vive-se um lado cósmico psych-rock com electrónicas e apontamentos vocais subtis mas que funcionam perfeitamente num todo com a viagem visual que nos transporta para outra dimensão.

Para fechar a noite estava guardado o melhor no Teatro Ribeiragrandense, que é uma espécie de coliseu em ponto pequeno e a minha sala favorita. Aqui ia acontecer aquele que de longe foi o melhor e mais importante concerto do Tremor 2019. Sras e Srs: Teto Preto – coletivo que antes de ser banda já era uma comunidade ligada ao movimento feminista e hedonista que reinventou a cena eletrónica de São Paulo com o selo Mamba Negra. As influências vão do disco brasileiro dos anos 70, jazz, techno e house sempre com a dose certa de ritmo. Há assumidamente uma atitude de provocação, na dança, na performance e principalmente nas letras. Foi o seu primeiro concerto fora do Brasil e fomos abençoados por isso, mas também por essa razão quase ninguém naquela sala tinha ideia do que ia acontecer.



Ao fim de uns segundos da primeira música já tinham mostrado ao que vinham, épico e visceral. Não por ser a sua apresentação ao mundo aqui na Europa, pois desconfio que só sabem mesmo fazer assim, a dar tudo. Para a além da rica sonoridade a cargo dos rapazes com as máquinas, há percussão na medida certa e depois temos os dois protagonistas, ela canta e dança, ele dança e encanta. Há nudez e atitude desafiante desde o início que só podia culminar numa apoteótica invasão de palco com o tema “Bate Mais”. Resumindo: há muita esperança na vanguarda no Brasil, esta é a banda que o mundo ainda não está preparado para receber, mas aposto tudo que o vão conquistar!


Sábado, 13 de Abril

O último dia foi de maratona com mais de 10 concertos e 12h de festa, vamos a isso!

A loja de pronto a vestir Londrina no centro de PDL foi o palco para Trans Van Santos, Mark Matos, americano com ascendência açoriana, poeta cantautor que encantou com a sua viola acústica. Bom arranque do dia.



CZN é uma dupla formada por João Pais Filipe, que conhecemos de HHY & The Macumbas ou Black Bombaim, com Valentina Magaletti - mentora de Tomaga. Daqui nasce o disco 'The Golden Path' que deu o mote a este concerto improvável na lindíssima igreja de Santo André. Dois percussionistas exímios e que se completam na perfeição, o som é nocturno, visceral, errático mas tem um lado dançante e quase transformou aquele local sagrado numa pista de dança. 

The Sunflowers, estes miúdos portugueses são um furacão da natureza! É rock a sério para pessoas que gostam de rock a sério, e ninguém vai ficar indiferente à sua pujança em palco. São 3 mas fazem o barulho certo que se quer! Um vocalista / guitarrista que desaparece atrás do seu cabelo, um baixo potente e uma baterista que enche o palco. Foi o momento headbang do festival.

De volta á sala do Atneu temos mais Brasil, e do bom. Maria Belardo é tudo menos convencional e foi mais o alien bom que aterrou na ilha. Ficou conhecida com as participações na banda de Arrigo Barnabé e nos projetos Quartabê e Bolerinho. Agora Maria fez-se, em Cavala, compositora a solo. As canções são de afirmação lésbica e desafiam a pensarmos nas liberdades da sexualidade, temas quentes em terra de Bolsonaro. Linda de morrer, com um look futurista e andrógeno, luzes a sair da face como se nos hipnotizassem ao olhar para ela, enquanto canta, por cima das suas electrónicas e vai alternando entre a distorção da guitarra e o clarinete. Irresistível.

É mais um caso de sucesso das pesquisas de Awesome Tapes from Africa e desde que foi “apresentado” ao mundo em 2013 não lhe faltou reconhecimento e elogios de plataformas como a Pitchfork, The Wire ou The New York Times. Haliu Mergia é um músico ocupa um lugar na história e evolução do ethio-jazz, instrumentista forçado ao exílio por um regime ditatorial hostil para com as artes e que acabou a conduzir táxis por mais de 30 anos. A sua música é hipnotizante, e confortavelmente sentado na cadeira da sala principal do Teatro Micaelense, foi só seguir a viagem que ele e a sua irrepreensível banda propuseram. Na muche.



Os Bulimundo eram uns dos cabeça de cartaz deste festival, e encontraram um Coliseu Micaelense completamente cheio para os receber. Estes veteranos de Cabo Verde são provavelmente a mais significativa banda de funaná da actualidade. No activo desde 1978 tiveram papel seminal na divulgação do género. São mais de uma dezena em palco e quase todos de idade avançada, mas a festa está feita. Ritmo quentes a oscilar entre as mornas mais lentas e com o uptempo do funaná mais rápido e progressivo. Há guitarras e baixos elétricos e um jogo constante entre o acordeão diatónico e o ferro-gaita e já toda a minha gente dançou sozinho ou acompanhado. 

Logo de seguida na mesma sala os segundos cabeça de cartaz, e provavelmente o momento mais aguardado da noite, os Moon Duo. O que nos leva a mais uma reflexão sobre o Tremor, não haverá muitos palcos que transitam sem espinhas, do funaná para o psicadelismo! Os Moon Duo nunca vem fazer amigos e a sua missão parece ser sempre desafiar os limites da nossa mente nesta sua viagem ao cosmos. Além das guitarras e sintetizadores, a caixa de ritmos foi substituída por um baterista, não que realmente acrescente algo significativo à sua música.  Já em termos estéticos funciona muito bem, uma espécie de triângulo, sempre na penumbra de fumos e contraluz do jogo visual que sai do palco. O minimalismo progressivo das suas texturas sonoras levam-nos para o ritual, como se de um mantra se tratasse. É desligar o chip e deixar ir, eu e toda a gente à volta lá fomos.

Madugada avançada e num Arco 8 a rebentar pelas costuras chegam os Free Love para aquele que seria o último concerto do festival. A banda escolheu um grande nome que fez jus ao seu lema e que é uma espécie de culto: Freedom, luxury, love: this world will be ours again. Este duo que tem dado que falar a abrir concertos para Liars ou Flaming Lips pela europa fora, chegaram aos Açores para converter alguns (in)fieis à sua causa. Ele, Lewis Cook, é dono e senhor das máquinas, sintetizadores e caixas de ritmos alternando entre os 4 por 4 ao estilo house e techno francês e o som quebrado de um electro ou breakbeat mais futurista. Ela, Suzanne Roden, transborda sensualidade e com uma voz e presença que nos vai conquistando acabou por fazer metade do concerto no meio do público, ora no chão, ora em crowdsurfing. Tudo certo para deixar as hormonas aos saltos neste final de noite.

Houve ainda tempo para dançar mais umas horas ao som de DJ Fitz, um irlandês residente no Porto é já velho conhecido do público português: do Milhões de Festa, ao Lounge ou Music Box em Lisboa. Estamos em boas mãos, pois sabe mais de música do que nós todos. As latitudes dos seus sets são tão distantes como imprevisíveis, funk, reggae, disco, afro, samba e tudo com a dose certa de entrega de improviso. As passagens tecnicamente menos conseguidas são superadas pela entrega e passos de dança. Fitz é um grande entertainer e sabe levar a multidão. Dançamos todos até de manhã.



Até 2020, para um Tremor cheio de amor!

A 1ª, a 5ª e última foto por Carlos Brummelo. As restantes fotos por André Soares.

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