U.S. National Archieves
Ainda há pouco mais de um mês chegaste de férias e já te parece que passou uma década? Achas que serias muito mais produtivo se não estivesses fechado num escritório das nove às cinco? Então este artigo é para ti...
Jack Kerouac e os beats não eram parvos nenhuns e rapidamente perceberam que, se os tempos estavam difíceis, mais valia esquecerem o típico emprego-seca das 9 às 5 e aproveitarem a miséria em que se convertera o mercado de trabalho como uma boa desculpa para se porem a andar dali pra fora.
Munido de uma autocaravana bem organizada e alguns truques tecnológicos, tu também podes ser o teu próprio patrão e criar um estilo de vida flexível na estrada. O hippie mandrião do passado é o viajante sem fios do presente: troca a hipoteca da casa por horários flexíveis e por uma – sempre nova – vista de luxo pela estrada fora.
Pega no teu Trabalho e Mete-o… numa Caravana
1. Tacho: O mais provável é que os teus clientes se estejam olimpicamente marimbando se tu estás sentado num escritório nos arredores de Famalicão ou se pelo contrário te estás a pôr moreno numa qualquer ilha da Polinésia Francesa: segundo Josh Strike - um programador web que passou os últimos anos a fazer o seu trabalho enquanto desbravava as estradas australianas - talvez tenhas que reduzir um pouco os teus honorários visto não estares constantemente disponível, mas a verdade é que sem uma casa para pagar podes-te com certeza permitir um salário ligeiramente mais reduzido. Gere bem o teu tempo e contactos, adianta-te aos prazos das entregas: mostra-lhes que podes ser ainda mais profissional em movimento do que parado.
2. Veículo: Não precisas da máquina mais topo-de-gama-com-estofos-de-não-sei-quê para te fazeres à estrada: os web designers Nathan Swarts e Olivia Meiring enfiaram o seu trabalho e o filho de sete anos numa diminuta roulotte Dutchmen de 1996 que compraram por cerca de 10.000€, e partiram sem medos para a vida errante. “A caravana funciona mais como um quarto do que com uma casa” – afirma Swartz – “De resto temos todos os espaços exteriores como local de trabalho.” Em Portugal há autocaravanas baratas e em óptimas condições. Os mais aventureiros considerarão no entanto começar a viagem mais cedo e ir agarrar uma à Alemanha, ultra-ultra-kitada e por preços ainda mais atractivos.
3. Energia: A não ser que estejas a pensar em passar a viagem toda a fazer café com um Game Boy, o mais provável é que o isqueiro da tua caravana não vá ser suficiente. Uns painéis fotovoltaicos no tejadilho, por outro lado, já são capazes de estar à altura para te fazer desfrutar desses artefactos que te são tão queridos, como o portátil, router, discos externos, impressora e praticamente tudo aquilo que precises para trabalhar.
4. Conectividade: Com a hegemonia das companhias de telecomunicações, é difícil encontrar hoje em dia um caminho de terra no Alto Alentejo onde não haja cobertura de alguma operadora de internet móvel. Mas se a tua intenção é sair mesmo do mapa, vais provavelmente querer tomar medidas mais drásticas, como usar um telefone satélite. Felizmente tanto os preços como as dimensões destes aparelhos diminuíram bastante nos últimos anos, podendo-se actualmente encontra-los usados algures entre os 500 e os 1500€. Um telefone satélite garante-te o acesso a chamadas de voz e e-mail em praticamente qualquer sítio de onde consigas ver o céu: as velocidades de transmissão variam, mas podes ir tirando o cavalinho da chuva se estás a contar com épicas desgarradas de Youtube.
5. Combustível: Dada a metamorfose esquizofrénica diária dos preços da gasolina, uma viagem do Porto ao Algarve pela nacional no dia errado pode levar qualquer um à bancarrota. Considera converter a tua casa móvel ao GPL ou – indo um passo mais à frente – ao óleo vegetal (mas isso já é assunto para outro tutorial…) Sara Janssen, uma fotógrafa freelancer que passou 18 meses na estrada, parava para abastecer a sua caravana não nas bombas de gasolina mas nos restaurantes, onde recolhia óleo usado e – adivinhas bem – gratuito.
Road por Moyan Brenn
Usa a Força e Faz-te à Estrada
Se és freelancer e tens uma base de clientes definida, ou se trabalhas para uma empresa onde a tua presença física não é essencial – apenas o trabalho bem feito e acabado a tempo e horas – considera a hipótese de largar as arcaicas convenções que desde tempos imemoriáveis nos agrilhoam ao local de trabalho como dóceis bestas com almas feridas, e faz-te à estrada. Além de alimentar o intelecto e massajar o espírito, está mais que provado que as oportunidades se multiplicam quando estamos em movimento. Já te estás a ver ao volante de uma Mercedes-Benz com uma camisa havaiana meia desabotoada e a doce brisa marítima a lamber-te as orelhas? Vai mandando postais.