Bicicletas Normann Copenhagen
A propósito de um debate sobre bicicletas que vi anunciado aqui na Viral, e a que singelamente chamaram “Bicicleta: moda, crise ou ecologia”, comecei a pensar em todas as modas pelas quais passámos neste nosso influenciável país. Desde que me conheço, ou pelo menos desde que retenho recordações, que estas febres passageiras invadem o nosso território, infestando os nossos familiares, vizinhos, patrões, colegas, chegando por vezes a contagiar-nos a nós próprios e, passe a redundância, afectando indelevelmente a nossa forma de viver. Se algumas dessas modas são de facto tão boas que vêm para ficar, outras há que, passado o vírus, não deixarão grandes saudades, nem sequer a um povo tão saudosista como o nosso.
Hamburger Telephone
A primeira moda de que me recordo é a dos hambúrgueres. As viagens a Lisboa para provar a iguaria norte-americana eram uma aventura para qualquer puto suburbano como eu, sobretudo quando regada com a recém-chegada Coca-Cola. Lembram-se do Great American Disaster? Falando de modas gastronómicas consigo citar mais de uma dúzia delas de cor.
The Great American Disaster por Joana Pink
Os restaurantes chineses, que já se encontravam nas ruas da amargura e foram sentenciados à morte por uma reportagem televisiva; os croissants à francesa, dos tais feitos com massa folhada, uma maravilhosa inovação em relação ao típico croissant farfalhudo de massa brioche, que eram depois recheados com tudo e mais alguma coisa, desde compotas a cremes, e dos quais só sobreviveram o recheado com ovo ou chocolate da Panike; depois tivemos as Gaufres com os mais imaginativos toppings; as baguetes francesas acabadas de cozer, e lambuzadas com as mais diversas pastas; os restaurantes de rodízio de carnes sul-americanas cheias de gordura a pingar e, já agora, o mais recente rodízio de sushi; os coloridos, e ainda por provar, cupcakes; as lojas gourmet; o porco preto grelhado e o porco no espeto; o cake design; caramba quem não se lembra da febre do Pisang Ambon, do Gold Strike ou do Frangelico, se pensarmos em modinhas etílicas?
MDR-V700 (a passar som dá sempre jeito ter uma mão ocupada...)
Mas nós, como povo, vamos mais longe que todos e, se começarmos pelos centros comerciais construídos nos subúrbios a la americana, passarmos pelos Audi A3 e Seat Ibizas, e terminarmos nos Nokias trinta e três dez, sem esquecermos os sensacionais mono-fones utilizados pelos dj’s no inicio da década passada, chegamos à conclusão que não houve febre que não tenha batido, com mais ou menos atraso, na nossa sociedade. É nestes dias que compreendo a Isabel Jonet, não fosse isto de ajudar os pobrezinhos uma modinha da alta sociedade, corriqueira nos tempos da outra senhora, recuperada agora pela nova geração de dondocas jet-seteiras.
De Camino al Ikea en Esbovägen por Borja
Chegados agora ao fim do ciclo, com o retorno da primeira moda de que me lembro, ou seja, os hambúrgueres - se bem que, desta vez falamos de hambúrgueres mariquinhas, feitos à mão por gourmandes que de gordura de porco pouco entendem - e claro, as bicicletas, que me fizeram escrever sobre isto. Deixo aqui um apelo: deixem-se de modinhas, descubram algo de que gostem de verdade e vão adquirindo novos gostos sem esquecer os que ficam para trás. É que de Marias-vão-com-as-outras está o planeta cheio.
Agora se me dão licença vou ali dar uma voltinha de patins em linha, ou melhor ainda, de BMX, e depois venho-me deitar na minha chaise longue a comer fondue de chocolate, enquanto assisto, no meu plasma com som dolby surround, ao director’s cut do Titanic.