Nas suas próprias palavras, esta exposição é "um trabalho de figuração acerca do ir e do ímpeto da deslocação e das suas cargas". Cansado de trabalhar como mercenário a soldo da engrenagem corporativa, Pantónio abandonou um dia os meandros do Design e da publicidade para se deslocar ele também em direcção a um estilo de vida mais de acordo consigo próprio.
Além do trabalho, livrou-se de outras cargas, como o impulso coleccionista - essa acumulação de objectos típica de quem sempre viveu numa casa. Livrou-se da casa propriamente dita. Apesar de certas limitações – electricidade, água corrente, espaço… – viver numa carrinha proporcionou-lhe uma maior proximidade com o aqui e o agora, lugar que é seu por excelência. Largar o trabalho e dedicar-se àquilo de que realmente gosta permitiu-lhe ainda sacrificar o resultado para abraçar o processo, e passar mais tempo na rua, a viver e a divertir-se. É que o trabalho deste artista urbano nascido nos Açores não obedece a templates nem a fórmulas pré-concebidas: desenvolve-se pelo contrário a partir das coincidências, do momento, deixando-se transformar consoante o local e o contexto.
De porta aberta para o mundo, algures entre as latas de tinta e a (sua própria) metafísica, Pantónio vive assim o dia-a-dia na brincadeira: passeia balões, vende o país aos chineses, vira-o ao contrário, joga Pacman nas ciclovias, dominó nas paragens de autocarro, e pinta. Pinta paredes, móveis, pedras, troncos de árvore e - confessa - nutre um especial carinho por barcos.
Curiosamente, embora tenha por diversas vezes ludibriado a autoridade durante as suas intervenções urbanas, foi na sequência de estar a pintar um vidrão a convite da Câmara Municipal de Lisboa, que foi aterrar de cabeça no banco de trás de um carro da polícia, vítima da subtil diplomacia de um Agente Geraldes em dia não. À charmosa tirada - "Ó artista, eu é que tenho a faca e o queijo, o teu papel não serve de nada!" - seguiram-se, já na esquadra, as desculpas da Agente Carla Jorge, que "até já tinha visto na televisão que este era o mês da cultura em Lisboa".
Embora Pantónio não considere propriamente "Acções" as suas acções de rua (preferindo pensar nestas como algo que acontece quando se faz o que se gosta e se está no sítio certo no momento certo) a adrenalina e clandestinidade do seu processo artístico fazem com que se sinta uma espécie de agente secreto num filme de espionagem, onde constantemente subverte as regras do jogo, num convite à surpresa ou inesperada lucidez de quem passa: “o essencial é saber ver”.