A comunidade artística internacional tem boas razões para estar em alvoroço: na passada Quinta-Feira dia 7 de Fevereiro, um hacker de alcunha Guccifer (Gucci vs. Lucifer?) e pouco depois o portal norte-americano Smoking Gun, tornavam públicas as fotos de dois quadros alegadamente pintados pelo ex-presidente George W. Bush.
A família Bush não negou a autenticidade dos quadros, que se viu corroborada também pela técnica e estilo, dignos de um pré-adolescente. Embora as perplexas reacções à obra do ex-presidente assumam, como seria de esperar, contornos amplamente divergentes, parece no entanto haver um motivo de consenso: Bush é melhor pintor do que presidente.
O facto de ambos os quadros serem auto-retratos (quem diria) e representarem cenas de banho (George W. Bush no chuveiro, George W. Bush na banheira…) revela – na opinião de psicólogos, críticos de arte e outros especialistas – uma “necessidade de purificação” ou de “auto-absolução” de eventuais pecados cometidos. Se tal for o caso, as contas da água na residência Bush devem ser de cortar os pulsos.
Não me surpreenderia de todo que, tal como certas Armas de Destruição Massiva, não existisse qualquer Guccifer (até a alcunha parece passível de ter origem no imaginário católico-homofóbico de um ex-presidente republicano) e que as ditas fotos tivessem na realidade vindo a público pelas mãos indirectas do próprio George W. Bush, numa infantil e desesperada tentativa de revelar ao mundo o "lado humano” que nunca teve nem terá jamais. Casos mais estranhos já se viram e, se considerarmos que não há até hoje provas conclusivas sobre o papel desempenhado pela sua administração no incidente de 11 de Setembro de 2001, tudo parece ser permitido neste campeonato.
Teorias da Conspiração à parte, não acredito que a recém-desvelada veia artística de Bush (ainda que os seus quadros possam sugerir uma eventual capacidade de auto-reflexão) logre gerar qualquer tipo de empatia pública por alguém que dedicou dois mandatos como presidente de uma das mais poderosas nações do mundo, a perseguir uma agenda própria em prejuízo da paz, da sustentabilidade, dos direitos humanos e das liberdades individuais mais elementares. A não ser, claro, que decida passar das cenas de banho para as naturezas mortas: a comunidade artística que se ponha a pau.