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Mesada Electrónica: 10 discos portugueses de Novembro e Dezembro

Gabi Von Dub


Entramos hoje em modo de retrospectiva, com a certeza de que 2014 foi massivo e rico em novidades e começos promissores, tanto no que diz respeito a editoras como a mais músicos e DJs a terem bastante exposição no éter e mais trabalho em eventos.

Dividido entre o meu trabalho/prazer com as editoras e os deleites da solidão melómana  ou as noites à paisana no clube com mais propulsão da cidade, servindo de cenário aos encontros mais imediatos de, sei lá, sétimo grau — este ano aproximou-se vertiginosamente do fim, acarretando todo o stress e actividade próprios da quadra, levando-me a adiar para agora esta segunda Mesada Electrónica onde, libertos já da intoxicação de refinados vinhos, licores e doçarias várias, nos poderemos finalmente debruçar de ouvidos bem afinados sobre as propostas que aqui vos deixo: 10 discos que mostram um país consolidado nas novas vertentes e cada vez mais amplo e elástico na sua expressão.

 

 

1.  Mind Safari – Burning Cosmos II 


(Extended Records)

 

PLAY: Mind Safari - Andromeda's Chain (Onto Hek Corruptive Edit)

 

Na sequela de Burning Cosmos, um EP dedicado ao rave mais cru e funky, quase em indução anti -perfeccionista e o retorno aos básicos, Mind Safari, projecto de João Melo, cabecilha do radioshow/podcast Batida, faz questão  de explanar que apesar de simples, o objecto sonoro consegue sempre crescer e ser remodelado inspiradamente para voos mais altos. Daí nasce este disco de remisturas.

Andromeda´s Chain é aqui o tema revisitado por Lukkas, Shcuro e Onto Hek, com três propostas diferentes, a primeira mais uplifting acid com certezas de festa garantida e sorrisos na pista aglutinados pelo brilho da produção de Lukkas, Schcuro criando o contraste, fugindo à luz e criando uma tensão digna de um warehouse à beira de um ataque de nervos. E Onto Hek servindo uma versão proteica de techno minimal  hipnótico como manda a lei. Seixlack completa o EP, remisturando Meteor of Pegasus no seu laboratório além-atlântico e remete-nos uma versão bem suja quase em jeito de uma 909 a cair no meio da aldeia no filme Os Deuses Devem Estar Loucos. Dançar é a palavra de ordem aqui. For Cosmos´ sake.

 


 


2 . Perial – The Journey (Reaktivate)

 

 PLAY: Perial - Gateway

 

Há discos que são difíceis de comentar por palavras e este é um deles. Tanto o título do EP como  os quatro temas que o compõem são bastante auto-explicativos. Apetece-me dizer tudo e, ao mesmo tempo, está aqui um exemplo de disco do qual não apetece dizer nada, apenas ouvir, ouvir e ouvir mais.

Perial prefere deixar identidades e exposição para último plano, preferindo que a sua música fale por si. E aqui não só fala, como nos leva numa expedição pelo espaço sideral, numa narrativa aberta do nosso espaço interior também. Ou como se o meio ambiente fosse apenas uma fina película  que podemos facilmente rasgar e aceder a dimensões maiores e longínquas (e ao mesmo tempo tão perto, cá dentro).

A música provoca emoções, mas aqui é essencialmente criada por elas. Irónica e provavelmente arquivado em dark ambient techno, este  é um EP cheio de luz, nebulosas, supernovas, revelação, condensação, liberdade, consciência e mais outras tantas explosões  de pensamentos para descobrir palavras justas e aplicáveis. A Reaktivate volta mesmo em força depois de alguns meses em pausa. E se recomeça assim...... Descubram(-se)!

 


 


3. Cloche – Sweet Romantic  Sexy Tunes (Con+ainer)

 

 PLAY: Cloche - Vicious

 

Foi certamente um ano em grande para Ludovic e para a sua Con+ainer, o que lhe valeu gigs um pouco por todo o lado, bastante airplay nas rádios mais dedicadas e a sua marca no panorama nacional. Em Setembro a Con+ainer celebrou os seus dois anos com a compilação Mmm Container i Love You e traz agora o EP do seu alter-ego de french touch quasi-genético e geográfico, Cloche.

Naked Party é um tema em crescendo de disco contagiante e ao mesmo tempo hipnótica, acordando os mais distraídos para a pista e criando uma envolvência orquestral com a cerejinha a cair no groove housy e muuuito sexy, pois claro!

Vicious  agarra-nos pelos colarinhos e o seu groove punchy e implacável não nos dá descanso enquanto as pads clássicas de um bom anthem nos atiram lá para cima. Em equipa que ganha não se mexe. E esta vai criar momentos de euforia.

No entanto, Early Jacker, projecto paralelo de Miguel Torga, arrisca uma visão mais progressiva e viajante a Vicious dando um enlevo melódico e de celebração house ao tema
acabando assim este EP em grande.

 


 


4. Robert S. – Cumulonimbus EP (Monocline)

 

PLAY: Robert S - Cumulonimbus EP

 

Novembro começou para a Monocline como um rastilho aceso e cada vez mais luminoso.
Da Madeira vem este poderoso EP de Robert S cheio de bangers para os amantes de sons mais mentais e pesados.

Complexo e Cumulonimbus são os temas, com revisitações de Re:Axis, XHEI e Itzone,
em que cabeça e corpo são testados em ambiente controlado, num qualquer laboratório lunar e clínicamente revistos por seres avançados de um planeta sem nome, mas que falam techno.

Embora a força energética esteja mais presente em Complexo, com três propostas coesas de techno vaso-dilatador e de contornos cibernéticos, é talvez em Cumulonimbus que a coisa sobe de nível, construindo um ambiente sabiamente manipulador e mental a deixar-nos no limiar da realidade.

 


 


5. Photonz – Osiris Ressurected (Hot Haus)

 

Photonz - Osiris Resurrected - Palms Trax Remix   

 

Um EP apelativamente exótico é este Osiris Ressurected de Photonz  pela incansável Hot Haus. É impossível ficar indiferente à sedução perigosa deste  tema, alicerçado em ritmos quentes, demarcados e de simplicidade melódica e cativante, e uma flauta aplicada com algum efeito que tem tanto de divertido como de Muslimgauziano (de Muslimgauze).

A remistura de Palms Trax revela-nos um outro lado mais urbano, saltando para a dinâmica  breakbeat, com um baixo simplesmente irresistível e melodias nostálgicas de um futuro próximo a fazer lembrar Humanoid e a proto-rave dos inícios de 90. Curiosa combinação neste 12”, que surpreenderá muita gente na pista.

 


 


6. V/A  -  Cycle 1 – One year of Elements

 

    PLAY: Naus - Maga   

 

A Elements , promotora insurrecta de Coimbra, em actividade desde há 14 anos, lançou-se por consequência óbvia da melomania dos seus membros, nas lides da edição, tendo agora cumprido um ano, com 4 EPs e um álbum que se destacou na cena nacional pela sua irreverência. Para marcar este primeiro ano dá-nos a ouvir uma compilação de temas de artistas portugueses e mentores de editoras pares, e um projecto americano com base em Portugal, na sua maior parte inéditos.

A primeira parte, por assim dizer, incide sobre territórios ambient e exploratórios , equilibrados entre a luminosidade e o “noir” enquanto à medida que avançamos no disco, as coisas se tornam mais rítmicas e marcadas. Momentos de pura abstracção vindos de ocp ou Anders Blickmann, ambient imenso e psicadélico pela batuta de Aqob, The Positronics, Ludovic e The Push, ou incursões  intemporais  e vertiginosas pelos confins do desconhecido, trazidas por projectos como Naus, Mauno Koivisto a remisturar o prolífico Reverb ou o “monstro” Alex Fx, esta compilação compreende antes de mais, uma visão abrangente e musical de olhos postos no crossover em constante mutação, mas ansiando a durabilidade das músicas como produto e objecto artístico.

Longe da maximalidade dos nossos dias, é a banda sonora perfeita para quem gosta de se deixar ir na música. Esta edição é ainda acompanhada  por um pequeno manifesto pelo qual a editora faz saber a sua posição e directrizes para os próximos tempos. O futuro parece auspicioso e nós aguardamos com curiosidade o desenrolar dos próximos meses.

 


 


7. CocoDaSilva – Make It (Kismet Records)

 

 

Não é possível resistir à sedução irrepreensível de Rui da Silva, quer a solo, quer através dos seus projectos paralelos. A mestria técnica e a obstinação com que se dedica ao som, valeram-lhe aquilo que todos já sabemos e ainda hoje os seus maiores hits soam frescos e implacáveis.

Juntamente com Chris Coco, formam o duo Coco Da Silva, recolhem-se no estúdio  e com emoção aplicadíssima, cirurgicamente matemática mas quente, fabricam temas certeiros e contagiantes repletos de estética e detalhe. Assim acontece em Make It, EP que marca o fim do ano na Kismet Records.

A versão original é glamorosa e nostálgica, mas nunca cedendo à resolução melódica, levando antes o ouvinte numa ascendência hipnótica, enquanto reconfortante .
Lee Penington dá- lhe um ar gracioso com a sua dinâmica dançante e liberta, situando –a numa outra hora na pista, onde  a instrumentação eficaz  sincopada  e uplifting trará muitos sorrisos ao de cima.

Missing Beats é por seu lado uma das faces mais transgressoras de Rui, cumprindo com remisturas que vão às entranhas do dancefloor e acordam as suas forças primordiais, transformando o leve em pesado e o pesado em leve. Dance music perfeita! Tremendo!

 


 


8. V/A – All Things Converge  (Womblabel)

 

    PLAY: Metadata - Ubik   

 

Em dois anos de existência  a Womblabel trouxe à baila músicos com edição irregular ou em completa estreia, não só de Portugal, como de alguns sítios do mundo. Focados em criar um output  de som electrónico extra-pista, numa visão idílica do conceito chill out como espaço  de exploração emocional  e mental, abrangem várias vertentes abrigadas sob a insígnia Ambient.

All Things Converge é a primeira edição física da editora, um CD duplo cheio de viagens distintas aos confins do puro ócio e contemplação. Existem convidados de luxo como Reagenz, Mick Chillage ou Leandro Fresco, representantes mundiais do circuito desde os 90s, época de explosão do género, outros mais actuais como Jefferson Shulgin, Dimitar Dodovski ou Dave Wesley que foram nesta compilação sabiamente complementados com artistas do catálogo da Womblabel, como Aqob , Moai, Metadata ou Angular Momentum apenas para salientar alguns.

São dois CDs que fazem abrandar os ritmos apressados do quotidiano e nos dão tempo para apreciar a biosfera, os movimentos internos do mundo e a complexidade vasta das emoções que nos vão sendo sugestionadas através de puro drone,  guitarras etéreas, ambient dub abstracto, IDM límpida e luzidia ou odisseias de space music pura. A descobrir.  De olhos fechados.

 


 


9. Oniris – Mystic  Sunset (Flow Records)

 

     PLAY: Shcuro - Black Acid      

 

Mantendo um “flow “ constante de autênticos monumentos musicais, a editora de DJ Pena  continua a apontar o caminho a quem se perde nos voos mais crossover da electrónica de dança. Congregando várias abordagens que passam pelo house, techno e trance, veio contribuir para a união de elementos que andaram uns anos separados, e que tanto apelam ao cultivador de clube mais exigente, como ao viajante de festivais open air...

Mystic Sunset é o perfeito reflexo disso. Música com secções rítmicas proeminentes, melodias esvoaçantes de house intemporal e um fluxo trancey ao longo de toda a faixa que abrem este EP em total êxtase. A remistura do mítico Secret Cinema uma vez mais prova a grandeza deste produtor entregando a Mystic Sunset um compasso mágico em constante crescendo a explodir em arrepios ,alicerçado por ritmos e groove suculento, rumo ao infinito.

Infected Groove é implacável e eficaz, um tema para o raver em hora de pico, onde a pista se torna uma longa estrada. Steve Ward por seu lado preenche a acutilância deste tema resolvendo-o de forma deep, mais envolvente, sexy e cool. Na estrada da Flow nada se perde, tudo se transforma e se funde para o futuro.

 


 


10. Edistant – Muse EP (Release /Sustain)

 

     PLAY: Edistant - Atypical Affair (Kind Of People Raw Mix)

 

A Release/Sustain, portuguesa de genes e germinada em Londres, não falha em pontaria quando se trata de atrair para o seu catálogo música de tradição house assente em conteúdo etéreo,  de arrojo melódico e planante.

Edistant, artista de poucas descrições , deixa que a sua música nos invada de forma suave mas firme, explodindo mais uma vez neste Muse EP como músico educado e confiante na maneira como junta instrumentos e maneja formas aparentemente simples para as transformar em hinos inesquecíveis. Bleeps repetitivos, pads luxuriosas, baixos carnudos cheios  dos seus anos à volta de um dos seus instrumentos preferidos, há um pouco de tudo e, sobretudo, de libertação. É progressivo e viajante, música para descomprimir à escala global.

As remisturas estão a cargo de Kind of People e Mr.Fiel, que trazem soluções impregnadas de groove e subtileza com vozes numa narrativa que nos ancora por momentos mas que nos dilui outra vez de volta ao som.

 





Não há desculpa para não dançar, sentir paz ou simples libertação com estes discos.
Um óptimo ano para o mundo, é o que desejo, e que a paz seja uma força maior.
Espero que a música continue a fazer a sua parte. Até breve!

(P.S.  Como devem ter percebido os mais atentos, escrevi sobre duas edições com as quais estou envolvido directamente, no entanto parecem-me propostas válidas e interessantes no panorama actual porque munidas de vários projectos valiosos em território português  e ademais, uma vez cá fora, os discos são vossos e para vós.)

(CC) Foto de capa por Jacob Joaquin.
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