Chef Rø: Taste My Clothes por Filipe Quaresma
Quando o prato principal não é homem, não é branco, não é hetero, não é católico, nem é americano: Risotto de açafrão & queijo da Ilha c/ rapsódia de cogumelos vaporizados & salada de agrumes.
Entre tesouros bio-dissociativos e insólitas empreitadas gastronómicas, Golden Cyborg é um dos apetitosos menus descritos no blog “Vou Á Tua Mesa”, nascido do incesto culinário entre o artista Rogério Nuno Costa e o seu charmoso alter-ego Chef Rø.
Naufragado num exótico caldo à base de Arte, Gastronomia, Filosofia e Tecnologia, Chef Rø explora as fronteiras tecno-emocionais da panela conceptual que dá pelo nome de Sensual Absoluto, e aí vai deixando apurar uma mão cheia de projectos híbridos entre os quais se contam performances, vídeo-documentários, workshops, livros, programas de rádio e televisão, pop-up restaurants e instalações.
Chef Rø eating a bifana por António MV
Sob o signo do Pop Rø – que, segundo o próprio, consiste na “fabricação de experiências culinárias únicas e irrepetíveis em ambiente familiar com muita rave alemã e bubblegum dance à mistura” – este sacerdote das artes gastronómicas já deu à colher no seio de estruturas culturais como o Pavilhão do Conhecimento, Binaural/Nodar, Circular - Festival de Artes Performativas de Vila do Conde, Teatro Municipal S. Luiz, ou Goethe Institut (e a lista continua).
Tendo colaborado também com uma multitude de artistas em diversas áreas, Chef Rø tem vindo a criar pratos específicos inspirados no imaginário estético e filosófico destes, e conta já com 84 receitas: 84 homenagens culinárias a artistas com quem se tem cruzado, num projecto intitulado ® [Marca Registada]. De destacar também o pseudo-programa de televisão sobre a sua visita ao Alentejo (aguardamos ansiosamente as duas próximas temporadas, passadas respectivamente no Minho e na Serra da Gralheira…).
Chef Rø Goes Alentejo S01E05
Depois da trilogia performativa “Vou a Tua Casa“ (que tomava com palco as casas dos espectadores) surge, em 2006, “Vou à Tua Mesa”. Ameaças à parte, Chef Rø – “vai mesmo a sua casa, cozinha para si e consigo, partilha dicas com os seus convidados, ensina-lhe a técnica do ovo escalfado (com ou sem filtros moleculares), reaproveita-lhe os restos, arruma-lhe os tupperwares, brinca às casinhas e deixa-se instagramar de sifão na mão, com muito charme e duck faces.” – Consta que se desloca a qualquer parte do país e estrangeiro, desde que em executiva.
Chef Rø durante uma tempestade de fruta por Cátia Cóias
Em 2013 – revela-nos – pretende “continuar a invadir a casa de gente gulosa”, dar seguimento a uma certa aventura radiofónica, e reescrever o roteiro turístico-gastronómico de várias cidades Europeias na perspectiva do home cooking e com a participação de vários chefs amadores nas suas próprias casas, dando assim ênfase àquela que considera ser a única verdadeira cultura gastronómica – longe de restaurantes, festivais, feiras e lojas gourmet. Se além disso ouviram dizer que Chef Rø passará brevemente a integrar a ilustre equipa de colaboradores do Sistema Imunitário, o mais provável é que tenham ouvido mal. E se foi um passarinho que vos disse, fiquem a saber que há passarinhos que acabam no forno em programas de culinária passados no Alentejo.
A Arte devia ser elevada à categoria de Gastronomia, pois o contrário já foi feito.
Confrontados com tal cabaz, tivemos a princípio uma certa dificuldade em acreditar que existia realmente alguém assim, que fizesse vídeos sobre bifanas e afirmasse que "a Arte devia ser elevada à categoria de Gastronomia, pois o contrário já foi feito”. Se também estão na dúvida, ou ou se por outro lado ficaram cheios de vontade de o convidar para ir à vossa mesa, façam como os Irmãos Génios e escrevam-lhe uma carta: o.chef.ro@gmail.com