Desta vez a selecção musical fica nas mãos de dois tipos que muito têm feito para que os mais excitantes sons cheguem às pessoas, das mais diversas maneiras: são eles João Pedro Moreira e Nicolai Sarbib. O primeiro é normalmente um rosto invisível, mas tem estado por detrás de uma quantidade enorme dos mais inventivos videoclipes (são vários os de Buraka Som Sistema) e documentários (muitos deles focados em música) filmados em Portugal. Além do trabalho que assume na Cutfilms, e que já atraiu até a atenção dos The XX, João Pedro Moreira é também músico e um dos mais trabalhadores artistas no nosso horizonte. Por sua vez, Nicolai Sarbib, também conhecido por Cvlt, não só é um DJ cheio de ideias, como também um divulgador de música que desfaz as fronteiras entre géneros e encontra ligações entre as mais diversas bandas e produtores. Cada actuação sua é um abanão sensorial que permanece connosco durante dias. Precisamos de mais pessoas com esta fibra. São deles as respostas que se seguem.
João Pedro Moreira
Olá, João Pedro. Que tipo de escolhas musicais trarás para a Cutty Cocktails?
Vou passar essencialmente o inicio do hip-hop até aos anos 90. Grand Master Flash, Run Dmc, Salt & Peppa, 2Pac, por aí.
Houve algum disco, de infância, do qual nunca te tivesses conseguido separar?
Há vários, sempre ouvi musica de todos os estilos, e há um disco que ainda toco em casa com frequência, que tem não só haver com a sonoridade mas com as imagens que me transmite, a banda sonora do filme Blade Runner produzida por Vangelis. Não sou seguidor da sua obra e até acho que há algumas cenas que nem gosto muito, mas considero este trabalho uma obra prima, que serve muito bem outra obra prima que é o filme.
Que características e coisas da Alcântara de há vinte anos achas que fazem falta nesse mesmo bairro hoje em dia?
Sempre vivi aqui desde que nasci, o bairro cresceu desde então, com bastantes melhorias em muitos dos casos, no entanto se hoje fosse criança iria sentir falta de poder brincar na rua, e jogar à bola no passeio, mas creio que este é um sinal dos tempos em quase todo o lado.
Há alguma hora do dia em que Lisboa te pareça especialmente inspiradora?
Como realizador, a maior parte do tempo estou à procura de inspiração. Acho que o que me inspira são as situações em si e não uma hora especifica do dia. Ontem vi o Frank que começa com a personagem principal na praia a olhar para tudo o que a rodeia e a tentar criar uma letra de uma música, revi-me um pouco nessa personagem, no que diz respeito a essa busca de ideias em pequenas coisas que nos envolvem todos os dias.
Nicolai Sarbib
VIRAL: Olá, Nicolai. Quem passa muito tempo à procura de discos alimenta fantasias que existem só mesmo na mente. Eras capaz de descrever um disco que mantenhas na imaginação há já algum tempo?
Nicolai Sarbib: Não sei se tenho alguma fantasia em particular, um dos meus "fetiches" é encontrar música improvável, isso muitas vezes acontece quando encontras um disco de certa forma experimental de algum artista. Muita gente "brincou" com música electrónica nos anos 80.
Um coleccionador tem também alguns arrependimentos que o perseguem para sempre. Não te queremos atormentar, mas há algum disco que ainda hoje te deixe louco por não o teres trazido para casa?
Não me consigo lembrar de nenhuma situação em específico, já vendi um disco da minha colecção de que me arrependi logo a seguir, e demorei uns dois anos para encontrar outra cópia. Normalmente não vendo discos.
Há algum país africano em que gostasses de fazer uma digressão enquanto CVLT?
Alguns dos países árabes do norte de África talvez, mas talvez não seja a melhor ideia neste momento.
O que podemos esperar do teu set na Cutty Cocktails? A selecção muda consideravelmente quando passas música num espaço aberto?