Eu já andava a namorar o Restaurant Day desde o ano da sua fundação (Helsínquia, 2011), quando ainda se chamava Ravintolapäivää (no original Finlandês) e estava prestes a tornar-se no evento internacional que é hoje. Dois anos depois, numa das minhas viagens espirituais à Maamme Suomi, em Agosto de 2013, decidi participar: juntei-me a um outro ex-Masterchef (Klaus Ittonen) e juntos abrimos o nosso pop-up restaurant de comida luso-finna na Galleria Nunes, no número 17 da Pohjoinen Rautatiekatu de Helsínquia. Na edição seguinte (Novembro), repetimos a experiência, mas "ao contrário": veio o Klaus a Portugal e juntos servimos um menu de degustação de pratos finlandeses com um toque "minhoto" na Miss'Opo (Porto). No início do ano corrente, dei o passo óbvio: tornei-me embaixador do evento em Portugal.
Quem me conhece, sabe que eu tenho uma afinidade meio doentia com a Finlândia e outra não menos fetichista com a comida, por isso não é de estranhar que me tenha apaixonado por um projecto que junta estas duas coisas através de um filtro que explica quase tudo aquilo que faço/digo: por um lado, a total (e radical) democratização da prática gastronómica; por outro, a "hipsterização" dessa prática (vivam as redes sociais!) colocada no único espaço onde ela é suportável — a relação que se estabelece entre as pessoas, com as pessoas e para as pessoas, através de um elemento-pretexto que é a comida.
Tudo o resto é, como aliás o subtítulo do projecto em Inglês sugere, "carnaval": dos temas que se escolhem ao tipo de comida que se serve, do espaço que se ocupa ao tipo de clientes que se atrai, das estratégias de "marketing" caseiro que se inventam aos dispositivos documentais que se montam para capturar momentos especiais às garras do efémero.
O Restaurant Day é, na sua essência, um “organismo”, mais do que uma organização; é a sua dimensão meramente enunciativa e viral, como se de um hashtag se tratasse, que torna os participantes (e respectivos clientes) os verdadeiros protagonistas do evento — amadores ou não, experimentam o seu "negócio" culinário durante 24 horas, 4 vezes por ano, vendendo os seus signature dishes onde querem (em casa, na rua, numa galeria, num centro comercial, num parque de estacionamento...), quando querem (ao pequeno-almoço, ao brunch, ao almoço, ao jantar, à ceia, ao after hours...), a quem querem (amigos, desconhecidos, colegas de trabalho...), e como querem (de bicicleta, à janela, em modo supper club, ou dinner party, ou vernissage, numa roulotte, numa barraca de feira, na mala do carro, no vão de uma escada, em modo pregão...).
Devem, contudo, praticar preços acessíveis — mais do que competir directamente com os restaurantes convencionais (que podem, aliás, participar, desde que realizem um menu especial a um preço especial para esse dia), pretende-se criar alternativas ao que já existe no roteiro gastronómico das cidades. A questão do preço não é, de todo, um dado banal; trata-se de um pressuposto ético em cima do qual se ergue toda a filosofia Restaurant Day: um organismo feito por todos, para todos, e com todos, sem os elitismos incoerentes que assistem à grande maioria dos eventos gastronómicos de grande envergadura. Restaurant Day é, assim, sobre o prazer de estar próximo, é sobre a partilha, é sobre o espírito de equipa, é sobre a vizinhança.
Na sua missão subsiste essa maravilhosa utopia de dar aos 4 dias anuais (um por cada estação do ano) a mesma dimensão que têm outras celebrações internacionais (o Natal, por exemplo), quando todos sabemos o que fazer; o Restaurant Day é isso, só que sem credos, sem política, sem geografia, sem Kapital. Uma materialização quase perfeita do meu universo sensível (artístico e não só!), que me predispus a ajudar a disseminar em território português.
Convido assim todos os food lovers de Portugal a juntarem-se ao resto do Mundo e a inundarem as ruas de comida já no próximo dia 17 de Agosto de 2014! Descubram como em www.restaurantday.org ou www.facebook.com/RestaurantDayPortugal.