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Sobre Hemingway, Screenshots e Pontapés na Obsolescência

Hugo Branco


Ilustração de Mark Summers para o New York Times

 

No outro dia estava a tomar banho e veio-me à cabeça o filme que tinha visto na noite anterior antes de adormecer – Hemingway & Gellhorn, de Philip Kaufman – sobre o tumultuoso romance entre o escritor Ernest Hemingway (protagonizado por Clive Owen) e a correspondente de guerra Martha Gellhorn (Nicole Kidman).

Se o filme me marcou – para além da cena em que uma Martha Gellhorn bem ressacada pergunta ao seu interlocutor como é que ele consegue acordar tão cedo e pôr-se imediatamente a escrever depois de uma noite generosamente regada a champanhe e absinto – foi por constatar que Hemingway escrevia de pé: usava uma estante que tinha ao lado da cama como apoio para a máquina de escrever que – TEK TETEK TEK! – atacava a um ritmo selvagem como só os grandes escritores sabem fazer.

Hemingway escrevia... de pé?

Não obstante a força da imagem em si, o que realmente fez soar os alarmes cá dentro foi o facto de também eu andar desde há uns meses a planear a metamorfose do meu estúdio de som para uma configuração mais vertical. Aliada à progressiva substituição do PC por máquinas ruidistas de raças diversas (susceptíveis de serem manipuladas de um modo mais físico, mais real, mais imediato) dei por mim a idealizar esta medida como resposta à opressão cada vez mais rectangular do ecrã, num gesto de reconciliação com esse ritmo selvagem dos grandes escritores e das improvisações de jazz.



O facto é que, bem antes de a meados de 2011 terem começado a ganhar popularidade no seio das principais empresas de Silicon Valley, as secretárias de pé eram já as preferidas de outros grande nomes da história como Dickens, Churchill, Thomas Jefferson ou Otto von Bismarck, para citar apenas alguns. E embora a minha razão para idealizar um estúdio de pé tenha haver sobretudo com uma evolução a nível de workflow, parecem não faltar boas razões para mudarmos a nossa posição na vida.

Parecem não faltar boas razões para mudarmos a nossa posição na vida.

A razão mais evidente é que nós pura e simplesmente não fomos feitos para estar o dia todo sentados: estudos recentes afirmam que quem passa mais de 6 horas sentado por dia, pertence a um grupo com um índice de mortalidade 20% mais elevado do que quem passa 3 horas ou menos nessa posição. Afirmam também que os homens nesta situação têm 64% mais probabilidades de morrer devido a doenças cardíacas. Isto deve-se ao facto da nossa actividade muscular descer a níveis insignificantes (menor do que quando mascamos uma chiclet) e do nosso corpo quase não gastar energia quando estamos sentados, o que durante longos períodos de tempo acarreta uma avalanche de consequências negativas.


Locus Desk + Locus Seat, uma "almost-standing desk" da Focal

 

Outras razões relevantes para alterarmos os nossos hábitos neste campo incluem perder peso, evitar problemas de costas e aumentar a concentração, já para não falar da agradável sensação de cansaço corporal de quem "realmente fez alguma coisa", por oposição aos olhos cansados, costas atrofiadas e sensação geral de desconforto de quem como eu passou as últimas 14 horas em frente ao computador e tem a cabeça tão infestada de screenshots que só consegue realmente adormecer substituindo-os pela aconchegante narrativa de um filme na TV. É triste, eu sei, mas voltemos ao que aqui me trouxe.

Estava portanto no banho, e tinha-me vindo à cabeça o tal filme em que Hemingway escrevia à máquina de pé, quando me lembrei das saudades que sentia de escrever com uma máquina a sério – do objecto e da actividade em si, mas particularmente do som assertivo com que as letras martelavam incansavelmente o papel – TEK! – até atingirem a iluminação – PLIM! – ao fim de cada linha. Embora o "Enter" produza um som ligeiramente diferente das outras teclas, convenha-se que não é a mesma coisa.

Mas lembrei-me também que as máquinas de escrever não tinham backspace e que - entre tirinhas, pincéis e canetas correctoras - um engano conduzia inevitavelmente a uma certa javardeira, pelo que acabava sempre por deitar fora uma quantidade considerável de papel - punhados de sonhos amarfanhados em bola no caixote do lixo. Ainda no banho, ocorreu-me o que pensei ser uma boa solução para o problema: porque não combinar o interface de uma máquina de escrever com um toque de tecnologia actual? Seria relativamente fácil criar um protótipo a partir de uma máquina de escrever antiga, uma placa de Arduino e uns quantos sensores. – Deve haver imensos nostálgicos da dactilografia analógica, ainda fazia um bom guito... – pensei – Mas o mais provável é que já alguém se tenha lembrado disso… – consegui ainda concluir antes que me acabasse a água quente.



Arduino

 

Ontem, enquanto folheava as páginas virtuais da revista brasileira Obvious – já com outros pensamentos e screenshots na cabeça – cruzei-me por acaso com um artigo intitulado "iTypewriter: Reviver o Som do Teclado" e apercebi-me que a minha grande ideia já tinha sido efectivamente posta em prática, e de um modo bem mais inteligente no que toca à simplicidade dos recursos utilizados. Da autoria do designer industrial Austin Yang, o iTypewriter não precisa de sensores nem de placas Arduino: sendo o iPad um interface táctil, basta as hastes mecânicas deste novo acessório baterem nas letras correspondentes do aparelho... et voilà.




O trabalho de Austin Yang está fundamentalmente ligado à combinação de objectos vintage com tecnologia recente, materializando assim o "peso histórico e sentimental dos produtos" e contribuindo para que as pessoas criem uma maior ligação afectiva com estes. Exemplo disso é também o iTurntable, uma base para iPod que se parece e funciona como um gira-discos antigo.

Superado o choque inicial, pareceu-me no entanto que, embora sumamente simples, aplicado a um suporte móvel, e aparentemente eficaz, esta primeira versão do iTypewriter ficava um pouco aquém das eventuais espectativas dos nostálgicos da dactilografia analógica mais ferranhos, no que diz respeito a reproduzir a sensação de uma máquina de escrever a sério. Aprofundei então a busca e acertei na mouche – PLIM! – Hacker, engenheiro e designer, Jack Zylkin dá o verdadeiro pontapé no cú da obsolescência com USB Typewriter, um kit de conversão que transforma qualquer máquina de escrever clássica num teclado USB, mantendo no entanto a milagrosa capacidade de imprimir letras com tinta numa folha de papel.


USB Typewriter de Jack Zylkin

 

A obsolescência, especialmente aquela que é programada, é um assunto sério e que merece bastante atenção, e prometo voltar a ela num futuro próximo. Para já, se pertences ao grupo dos que preferem estar de pé do que sentados na vida, e se partilhas das saudades de dactilografar à moda antiga, já não tens desculpa: recupera a tua velha máquina de escrever e ataca-a a um ritmo selvagem – TEK TETEK TEK! – como só os grandes escritores sabem fazer.

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