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2013. Teremos sempre Sines…

Mário Caeiro

Danseuse-chanteuse de Femi Kuti em acção no FMM 2013

 


Aqui em Sines apostávamos na diversidade cultural, na inexistência de fronteiras entre géneros ou geografias, no diálogo intercultural, na contaminação resultante entre tradições e realidades estéticas aparentemente distantes. O conceito de músicas do mundo ultrapassava desde logo a ortodoxia dominante. — Carlos Seixas

Há eventos que desafiam todas as análises, inovando na criação de um público fiel que ano após ano reafirma a visão dos seus mentores. Aos 15 anos de actividade, o FMM Festival Músicas do Mundo em Sines é daqueles mistérios com que a globalização gosta de nos surpreender.

O FMM nasceu da cumplicidade entre duas figuras complementares: de um lado o autarca, o político – Manuel Coelho; do outro o programador musical, o homem do sonho – Carlos Seixas. Estabelecidos desde o início os parâmetros de uma relação de cumplicidade entre presidente da câmara e programador cultural, hoje o reconhecimento fiel do público fala por si, confirmando a consistência da ideia inicial. Sines é um milagre.

Afirmar e depois fazer crescer a marca FMM-Sines passou desde o início por criar uma dinâmica local e sobretudo internacional que parte da experiência universal da música para daí retirar consequências ao nível da cidadania e da cultura, não menos que do marketing urbano e da criação de valor turístico. O estabelecer do fortíssimo conceito passaria pela entrada em cena de patrocinadores cruciais, entrada essa que, ao contrário do que tem acontecido noutros festivais, não desvirtuou a essência: Sines. ‘Sines’, o FMM, é uma espécie de shazam da arte de atravessar o Verão.






Shibusa Shirazu Orchestra, FMM 2013

 


World quê?


É importante recordar a origem do Festival (e passo a citar a Organização):

O FMM Sines nasce em 1999 e tem a sua génese numa concepção e visão de Sines a partir das componentes da sua história, com particular destaque para a figura de Vasco da Gama e do Castelo onde nasceu e cresceu, bem como do carácter de Sines como cidade portuária, aberta ao mundo, multicultural e cosmopolita. Assim, o objectivo deste grande projecto – caracterizado pela diversidade, a qualidade e o universalismo – foram (e são): valorizar e projectar esta cidade a partir do Castelo – berço de Vasco da Gama – e fazer de Sines uma marca cultural e um destino turístico.

Em Sines, estes motivos de atracção estão portanto amalgamados numa lógica de cidade e comunidade:

O centro de Sines vive da relação íntima e dinâmica entre a malha urbana histórica e a frente marítima, caracterizada por um cenário paisagístico acolhedor e de grande beleza, com uma baía abrigada onde se situa uma praia urbana e a grande avenida marginal em forma de praça alongada. O festival, com um palco montado no coração do centro histórico – o Castelo – e outro na frente marítima, no centro da avenida, reforça essa ligação e potencia a utilização dos percursos que os unem.

 


Orquestra Sopros Alentejo Ensemble + Skalabá Tuka, FMM 2013

 



DaWangGang em workshop matinal, FMM 2013

 


Isto é, ir a Sines é percorrer esta dinâmica. Vivê-la. E tanto melhor quanto se repetem as estadias, ano após ano; e se revisitam os lugares de encontro (paisagens, equipamentos culturais, restaurantes…). É todo um conceito de implantação e animação espacial que se tem mantido – com reforço, nestes últimos anos, da importância do palco da frente marítima, que tenderá a crescer, na sequência das obras do Programa de Regeneração Urbana.

Nos e entre os dois palcos (Castelo e Praia), em triangulação com o Centro de Artes, define-se um território de rara oferta cultural. Com a cidade em festa, o público está ali para dar corpo ao slogan ‘Música com espírito de aventura’ e pode-se falar de tudo menos… de publicidade enganosa. É esse espírito que define a força desta comunidade efémera, reunida em torno de uma utopia de convivência que assenta num ponto único: a qualidade e a originalidade da aventura musical.

Isto é, o que Sines oferece é a radical resiliência do seu originalíssimo produto cultural: uma ‘world music’ incorrigível, seleccionada a dedo para arrasar com todas as barreiras, em que de concertos inteiros de que não se percebe uma palavra até celebrações de transe colectivo, vislumbramos uma verdadeira estética de resistência ao mainstream. Por exemplo, da mesma forma que, há um ano, Staff Benda Bilili puseram o Castelo ao rubro, como se estivéssemos num terreiro eléctrico, este ano o concerto dos chineses DaWangGang ficará para a história pelo nível de comunicação… não-verbal!

Na verdade, ao nível do que acontece no palco – o espaço sagrado para onde confluem os olhares – podermos dizer que este festival é um surpreendente ao nível das mais inusitadas fusões musicais. O conceito ‘músicas do mundo’ é apropriado com um critério de tal modo preciso e ao mesmo tempo aberto que, de cada vez que um artista começa o seu set, a emoção que temos começa sempre pela surpresa. Esse mesmo artista constrói depois o seu próprio espaço progressivamente, dando da sua própria música uma noção cada vez mais completa. É assim que a ideia de fusão se vai consolidando, não apenas na ideia mas na memória do público (que de Tartit a Marful, de 34 Puñaladas a Bombino ou Tamikrest – estou a pensar nas minhas memórias mais pessoais… – vai desenhando e habitando as geografias que alimentam o seu desejo e curiosidade).

 


Tamikrest, FMM 2013

 


Esta abordagem da exigência artística é o tipo de detalhe que define a pertinência de uma programação. Esta passa por definir uma identidade própria a partir do que é a ‘música-nossa-de-cada-dia’ – veja-se os ‘piscares de olho’ que certos músicos fazem ao cancioneiro pop universal (lembro-me de The Bad Plus a tocar Nirvana ou Erika Stucki a yodellar Hendrix…). Mas passa igualmente pela fé na evolução, consolidando uma perspectiva progressiva (como no rock homónimo) sobre o quotidiano dos sons. No FMM, explora-se a fundo as hipóteses de a música ser o símbolo maior do encontro entre culturas, o que acontece ainda mais espectacularmente quando vemos os géneros e linguagens serem misceginados diante dos nossos ouvidos.

O fio condutor de sonoridades tão díspares esse, ao fim destes anos, acabou entretanto por se tornar evidente. Carlos é um filho dos anos 60 – há-de portanto ser o jazz mais livre e o rock mais ousado, entendidos como espaços de invenção, reverberando as tradições popular, erudita e experimental, a definir os parâmetros da coisa. Mas mais uma vez, aqui não se trata de impor um gosto de programador; é antes, genuinamente, um retrato cirúrgico do Mundo em toda a sua diversidade e emergência actuais, um mundo ligado hoje pela net e o youtube, animado (apesar de tudo) por uma acessibilidade tecnológica e mobilidade inéditas, mas também, e disso o Festival faz gala em estar consciente, separado por guerras e problemas de mobilidade (e de vistos), bem como por embargos e assimetrias brutais ao nível da riqueza ou dos direitos civis.



Centro de Artes


Cá fora, o evento estabelece com a cidade o sempre difícil compromisso entre os dias da festa e o dia-a-dia das populações. Este será mais um desafio a que a organização vai respondendo (por tentativa e erro, que é como as coisas se fazem, quando há sensibilidade social), num caminho comum que está a ser feito através da autorização para grupos de músicos ocuparem pequenos largos com as suas improvisações, mas sobretudo dos workshops com as crianças durante as manhãs, da Escola das Artes, ou das extensões do Festival ao campo dos livros – encontros com autores –, do cinema – documentários sobre música –, e da arte contemporânea – as incontornáveis mostras no Centro de Artes, um edifício que foi Vencedor do prémio AICA/MC 2005 e finalista do Prémio Mies van der Rohe 2007.

Entretanto, no Centro de Artes, edifício puro desenhado por Aires Mateus & Associados, impossível não destacar este ano a exposição ‘Improvisos’, de José Manuel Rodrigues. Trata-de de um poderoso acervo de várias décadas de trabalho, dando destaque a um núcleo de obras dos anos 80 em que o artista rompeu com as duas dimensões da imagem fotográfica e se lançou, secundado por uma leitura muito pessoal do conceptualismo, do cinema experimental e das artes performativas, numa viagem cuja liberdade formal se contém magnificamente na cuidada informalidade dos dispositivos expositivos.

É uma lição de arte contemporânea como há muito este País não via (o que alias motivou a vinda de vários curadores de topo mundial para vir ver, in loco, estes ‘improvisos’ – como o José Manuel Rodrigues lhes chamou, dada a velocidade relâmpago com que teve de preparar e montar a mostra!).

 





‘Improvisos’, de José Manuel Rodrigues, no Centro de Artes, FMM 2013

 


Concluindo: É a alegria da surpresa quando se gosta de música (Carlos Seixas), o ‘fio de prumo’ que coloca o Festival entre os melhores do mundo (para a revista Songlines); para além das actividades paralelas (livros, exposições, debates, workshops…) é a exigência, evidente da preparação aos detalhes de cada performance; é essa exigência (técnica, estética, mas também ética) que faz com que, ao fim destes anos, muitos projectos internacionais estreiem primeiro em Sines e só depois disso em festivais como o WOMEX. Sines exporta a música como acontecimento.


FMM é fruto de um trabalho árduo anual de pesquisa e óptimo relacionamento com agentes e responsáveis próximos dos músicos. Ao princípio foi difícil mas passados anos e com o prestígio internacional do festival  – ainda sem prémios mas com um “passa palavra” dos que vinham cá – há sempre um grande interesse no circuito world em participarem no FMM. E há um factor muito importante: como sabes aqui quer a nível técnico, quer logístico e mesmo de divulgação mediática todos os projectos e músicos têm a mesma oportunidade porque todos eles são tratados como iguais. Não há titulares e suplentes! Não há tendas para uns e palco principal para os outros.


É isto que faz com que certos músicos ‘fiquem da família’ desde o momento da chegada; e faz com que o público se sinta parente próximo; e portanto, o cocktail de emoção está garantido – doses generosamente equilibradas de amizade e profissionalismo, tradição e risco.

 

'Abanicos', de Andreia Tocha, FMM 2013



Sines: entre a concentração (de um concerto íntimo) e o êxtase (da celebração colectiva)

 


15 anos é pouco tempo


Venha tudo isto a propósito da décima-quinta edição, a deste ano, em que o programador teve o cuidado de proporcionar um olhar retrospectivo para a história do festival, com a presença de alguns dos artistas (e géneros) que mais o marcaram desde 1999. Ora quando o tradicional fogo de artifício começou, no início da actuação de Femi Kuti, perante um Castelo a abarrotar de ravers de todas as idades, e depois de no intervalo termos ouvido as palavras do Presidente Manuel Coelho, dizendo que este final não pode acabar, não podemos deixar de reflectir também sobre o futuro desta iniciativa.

Afinal este é o lugar inédito em Portugal onde podem conviver, em diálogo de estéticas e à distância de poucas horas, com toda a dignidade dos grandes eventos, a world deep tuga de Carlos Guerreiro e sus Gaiteiros de Lisboa; os blues psicadélicos dos tuaregs Tamikrest; as subtilezas líricas de um pianista como o arménio Tigran Hamasyan radicalmente a braços com o seu piano; e os excessos espectaculares da Shibusa Shirazu Orchestra – 26 músicos e performers em palco, tripando como se o mundo estivesse a acabar e fosse preciso banda sonora à altura.

Nas últimas edições (2010 a 2013) tem sido muito importante o apoio conseguido em fundos comunitários, com um co-financiamento das despesas elegíveis do festival pelo FEDER (no âmbito do programa operacional INALENTEJO do QREN 2007-2013) em cerca de 80%. Quanto aos patrocinadores-chave que garantiram a componente nacional, têm chegado naturalmente das grandes e médias empresas do concelho, na sua maioria dos sectores industrial, portuário e logístico. Pela dimensão, a Galp Energia / Petrogal tem sido o sponsor-chave. É esta economia de boas vontades que tem conseguido angariar os cerca de 800 000 euros necessários para que a o evento se realize.

Esperemos por isso que nos próximos anos continue a haver visão, vontade política e capacidade financeira – nacional e se possível europeia –, bem como o tradicional know how de gestão e promoção, que façam o festival entrar em novo ciclo de afirmação, como este público merece. E esperemos também que esse público – respondendo ao apelo do Carlos no programa deste ano – reconheça ao mesmo tempo que faz parte da solução de continuidade, na exacta medida em que souber valorizar a sua participação – e essa começa… na aquisição do bilhete.

 


DaWangGang (Song Yuzhe), FMM 2013

 


De resto, e pelo que nos toca – àqueles que como eu dizem, olhando para trás… Teremos sempre Sines – o que importa é acarinhar as memórias da mais recente edição, na qual, por uma questão simbólica – no sentido de que o exotismo pode falar por si – destaco a participação do cantautor-compositor chinês Song Yuzhe e sua banda DaWangGang. Cito Gonçalo Frota, no Público:

Junto à praia de Sines, ao cair da tarde de sábado, o concerto dos Dawanggang foi um conflito constante entre céu e inferno. À voz demoníaca de Song Yuzhe e às suas guitarras e banjo atacados sempre do avesso, procurando dissonâncias e não harmonias, e mesmo ao troar com voz de Tuva do intenso violinista Zeng Xiaogang, opunha-se o canto celestial e virginal da cantora Cao Yuhan. A aproximação tentada de Yuzhe a sonoridades ocidentais resultaria quase sempre num flirt envenenado, começando pela sua evocação ortodoxa para logo as corroer. Sempre que traficaram estas referências e polarizaram as vozes de Yuzhe e Yuhan, os Dawanggang andaram próximos de um combate sublime e primordial.


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