Foi em 1982 — época do Fame — que Maria do Carmo Costa e Helena Feteira, duas amigas apaixonadas pela dança, decidiram criar um grupo de dança em Aveiro. Lideraram assim o grupo de Dança Jazz do Beira Mar em várias actuações, sendo pontualmente acompanhadas por José Luís Martins Pereira, actual director executivo da Companhia de Dança de Aveiro, que registava os eventos em fotografia ou vídeo.
Em 1983, em memória de Helena Feteira, que falecera vítima de uma doença óssea, Maria do Carmo e Zé Lu, desta feita acompanhados por Lourenço, decidem dar continuidade ao projecto, criando assim o GEMDA (Grupo Experimental de Música e Dança de Aveiro), com o apoio de grandes nomes da história da dança em Portugal (como Rui Horta, Liliane Viegas, Ana Macara, Michel de Roubaix e Silvia Nevjinsky) que contribuíram para enriquecer o primeiro espectáculo, realizado no Teatro Aveirense. Neste incluía-se a coreografia “Origens”, de Rui Horta, que dirigiu toda a apresentação. Foi há 30 anos, mais precisamente no dia 30 de Junho de 1983.
O grupo teve um enorme sucesso por todo o país. Em 1986, a Secretaria de Estado da Cultura decidiu apoiar o projecto, havendo, para tal, necessidade do grupo se ligar a uma estrutura local. Optou-se pela Câmara Municipal de Aveiro — era presidente o Dr. Girão Pereira — entidade com a qual o grupo estabeleceu um protocolo, do qual resultou a criação da Companhia de Dança de Aveiro. A companhia teve apoio simultâneo da CMA e da Secretaria ou Ministério da Cultura (conforme o que existisse no governo), entre 1986 e 2009. Em 2008 foi-lhes atribuída pelo Município Aveirense a “Medalha de Mérito Cultural” e o “Prémio Carreira” pela Rádio Moliceiro.
Desde que foi fundada, a companhia já actuou em mais de uma centena de locais diferentes no nosso país, incluindo as ilhas da Madeira e dos Açores, com repetições em muitos deles, apresentando-se um espectáculo de dança pela primeira vez em muitos desses locais. No estrangeiro, a companhia já esteve em Espanha (muitas vezes), França, Macau e Brasil (já por 3 vezes).
Em 2009, foi criado um novo projecto na companhia, a CIA Jovem, que permitia aos jovens talentosos e empenhados o acesso a formações nas áreas da dança e do espectáculo, mesmo àqueles que não tivessem capacidade financeira para assumir essa formação. Esta actividade encontra-se hoje em dia suspensa por falta de verbas, mas foi contudo possível, em 2012, ajudar na criação da Associação de Dança de Leiria, também direccionada para a formação de jovens, já com um grupo chamado CIA J Project, este também dirigido artisticamente por Álvaro Ribeiro, director artístico da Companhia de Dança de Aveiro.
Uma das mais antigas de Portugal, a Companhia de Dança de Aveiro mantém-se actualmente empenhada em reunir um conjunto de autarquias que possam solidificar esta estrutura e viabilizar a circulação dos seus espectáculos, promovendo a Dança e a Região de Aveiro. Neste momento, a companhia está a apresentar o bailado “Amadeus”, um espectáculo que trata do corpo, da sua descoberta e aperfeiçoamento, onde as suas formas e cores se comunicam ao ritmo das obras de Wolfgang Amadeus Mozart. É uma obra endeusada, que faz soltar os corpos no espaço e que os preenche, ora quando estão sós, ora quando estão juntos, experimentando e permitindo a arte de se relacionarem, investigarem e se doarem. Foi criado por Álvaro Ribeiro, que empresta já também o seu empenho e dedicação a uma nova criação com o nome de “Metamorphosis”.
AS COMPANHIAS DE DANÇA
CONTEMPORÂNEA E O FUTURO
A generalidade das companhias independentes de dança contemporânea estão a passar por sérias dificuldades financeiras, que poderiam até ser decorrentes da progressiva diminuição do número de espectadores pagantes, mas que são de facto fundamentalmente agravadas pela redução drástica, ou corte radical, dos apoios públicos e pelas irregularidades dos concursos e candidaturas a esses apoios, como têm contestado diversas companhias e estruturas.
A autora sul-americana Valerie Chávez, atenta ao fenómeno do insucesso de algumas organizações culturais no México, afirmou já que às companhias independentes de dança contemporânea, para terem êxito, falta sobretudo uma visão empresarial. Com essa visão, segundo a autora, e o domínio de vários instrumentos de gestão, como as relações públicas, a gestão de recursos humanos e a gestão financeira, estas poderiam optimizar os seus desempenhos, obtendo maior visibilidade e conseguindo melhores resultados financeiros e artísticos.
É natural que, para sobreviverem à presente crise, algumas companhias de dança portuguesas, se ainda não o fizeram, se vejam mesmo obrigadas a adoptar essa visão empresarial, abandonando de vez a dependência financeira do Estado. No entanto, tal não bastará. O público português fora dos grandes centros urbanos ainda não sabe bem o que é a Dança. E esta é uma das razões pelas quais o Estado deve financiar esta arte, e em especial aquelas entidades que levam a cabo a missão de correr o país, dando-a a conhecer, e dando origem a preferências pelo público. Se não tiver acesso aos espectáculos, o público nunca irá pagar para ver uma Arte que não conhece.
É também necessário uma boa dose de criatividade e de flexibilidade por parte dos seus gestores. O estabelecimento de parcerias com outras entidades poderá resolver algumas carências, como a falta de recintos adequados para ensaios ou espectáculos; a diversificação das áreas de acção, como a criação de cursos profissionais, poderá trazer mais receitas e mais potenciais bailarinos; a integração da dança no currículo escolar — seguindo o exemplo de alguns países orientais — e a exploração de outras vertentes da dança contemporânea poderão também atrair novos públicos.
Licenciado em Design na Universidade de Aveiro, Daniel Soares formou-se também no Curso de Especialização Tecnológica de Design de Calçado e Marroquinaria na Escola Superior Aveiro Norte - Universidade de Aveiro, e no Curso Tecnológico de Design de Comunicação na Escola Secundária de José Estêvão, em 2007. Ocupa actualmente o cargo de Director Técnico e Designer da Companhia de Dança de Aveiro.