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Apoderar-se dos Media - Pt.1

Irmãos Génios
Em 1989, algures entre Nova Iorque, Amsterdão e Seattle, o colectivo Immediast Underground, líderado pelo media-hacker Greg Ruggiero, lançava a versão 1.1 do panfleto "Seizing The Media".

Este manifesto expunha ao público alguns dos métodos de coerção e controlo levados a cabo pelo Estado e corporações através dos meios de comunicação social, e sugeria possíveis manobras de contra-ataque por parte do público. Traduzimos finalmente esse importante documento para português e, sendo um texto algo extenso, dividimo-lo em duas partes para facilitar a sua leitura. Aqui fica a primeira:

 

Apoderar-se dos Media


A Filosofia Oriental ensina a iluminação. Mas — dada a nossa exposição diária a uma enxurrada de mensagens persuasivas, monólogos, campanhas comerciais, flirts publicitários e notícias hiper-sensacionais não-informativas — como chegar à iluminação se nos é tão difícil proteger coisas simples como o nosso próprio senso comum e a nossa intimidade.

Hoje em dia, temos já consciência do modo como a exposição prolongada à televisão e aos mass media estupidifica as pessoas, imergindo-as numa sensação de dormência e náusea. De cada espaço público brota um monólogo de coerção que penetra os nossos sentidos e viola a nossa atenção.




Para onde quer que olhemos, aonde quer que vamos, somos forçosamente invadidos pela a pornografia dos cartazes publicitários, dos MUPIs, dos espalhafatosos letreiros iluminados das lojas, pelo acumular diário de publicidade no correio, por aviões que sobrevoam a praia com anúncios imbecis, cupões de descontos, autocolantes e pins, posters e bandeirolas de plástico, pessoas a distribuir panfletos nas esquinas, flyers entalados nos limpa pára-brisas, publicidade nos isqueiros, nas fachadas, nos autocarros, cartões de negócios, rádios aos berros, jornais diários, por cada nano-segundo de televisão, pelo pacote que embrulha cada uma das coisas que compramos diariamente — desde a etiqueta da nossa roupa interior à embalagem do nosso computador portátil.

As camadas superiores da atmosfera e o fundo dos oceanos parecem ser hoje em dia os únicos refúgios a esta ecologia de coerção. A cada esquina esperam-nos monólogos, prontos para nos impingir esses mutagenes psicológicos que nos persuadem a tornarmo-nos patéticos clientes e porta-estandartes incondicionais. Em cada esquina, estamos sob subtil ataque.

Em cada esquinas estamos sob ataque

 

Os media servem os interesses do Estado e de outras corporações, mas nunca os interesses do público. O ecrã de agressão e sedução dos media está desenhado para hipnotizar e cativar o maior sector possível da população, cuja atenção é depois vendida como sucata aos anunciantes, e violada em grupo pelos seus slogans, jingles, e imagens bipolares. Protegidos por um intransponível fosso mediático, os agentes do Estado lucram com a guerra e deixam-se relaxar por detrás de uma teia de leis da informação, poderes de censura, e insípidas explicações que desencorajam o escrutínio público e a resistência em massa.

Enquanto não controlarmos o nosso próprio governo, o nosso próprio Estado, e os nossos próprios meios de comunicação — o espelho através do qual reflectimos sobre a realidade das nossas vidas — continuaremos a ser forçados a olhar para distorções de nós próprios nos espelhos dos parques de diversões, projectadas numa lixeira de produtos que prometem fazer-nos mais desejáveis, sofisticados e correctos. Em cada esquina estamos sob ataque.



 

O Incesto das Corporações e do Estado


O Estado controla a informação, a dívida e a violência, e tem como alvo a identidade colectiva. As corporações controlam a mercantilização, o trabalho e os media, e têm como alvo a identidade individual. Ambos empregam o mesmo tipo de estratégias psicológicas para impregnar o público com as suas mensagens e directivas.

Nunca as estratégias habituais do governo foram tão transparentes como quando o serviço de propaganda e desinformação dos EUA — a infame USIA — decidiu dar ainda mais um passo na sua guerrilha psicológica contra o povo de Cuba, na Primavera de 1989. Até então, todas as tentativas para destabilizar psicologicamente o povo cubano se tinham concentrado nas transmissões da Radio Marti — a estação de rádio pirata sediada na Florida e controlada pelo governo dos EUA — que ainda hoje transmite ilegalmente propaganda e desinformação para os rádios domésticos cubanos. Na Primavera de 1989, a USIA adicionou a imagem em movimento ao seu arsenal de guerrilha psicológica, e começou a transmitir conteúdos televisivos, a partir de um balão de ar quente controlado pela estação de sinal de Key West. Como irmão mais novo do projecto Radio Marti, o projecto foi oportunamente baptizado de TV Marti.




Será curioso apontar que, depois da Comissão Creel ter saturado os Estados Unidos com propaganda pró-guerra durante a Primeira Guerra Mundial, o nível de descontentamento do público era tão alto que foram decretadas leis que proibiam o Estado de voltar a sujeitar o público a esse tipo de propaganda. Assim, é no mínimo revelador que a transmissão propagandística da USIA, intitulada "Voice of America" — que podemos hoje em dia ouvir em Amsterdão, Berlim, Praga — esteja proibida nos próprios EUA. A propaganda provou assim ser algo de tão desorientador e obtuso, que os próprios americanos aprovaram leis que a proíbem (pelo menos nas suas formas mais cruas e verificáveis) dentro do seu território.




Devemos agora enfrentar o facto de que a publicidade, o entretenimento e as notícias, se converteram no Cavalo de Tróia do governo, um artefacto cuidadosamente introduzido na mente colectiva. Conseguem imaginar quais as primeiras transmissões propagandísticas da TV Marti dirigidas às mentes dos cubanos? MTV. Pensem nisso: as primeiras transmissões de tele-propaganda da USIA consistiram em vídeoclips de rock da MTV... Em cada esquina estamos sob ataque.

A publicidade, o entretenimento e as notícias, converteram-se no Cavalo de Tróia do governo

Esta investida por parte dos media do espectáculo provoca um efeito duplo: ao mesmo tempo que imergem o público numa enxurrada de mensagens coercivas, os media comerciais actuam como cúmplices do delito político, assassinato e traição, ao censurarem os detalhes e as dimensões da actividade do Estado, afastando-os dos processos democráticos e do escrutínio público.




A cultura, a percepção e o poder democrático são alguns dos bens preciosos que entregamos de mão beijada, em troca de uma economia interna que depende da venda implacável e da preparação da atenção pública para ser impregnada pela publicidade das corporações e do Estado. O Imediatismo é solidário com todos os grupos e indivíduos que agem em oposição a esta situação e cujo trabalho apoia a vocalização omnicultural, as Bibliotecas de Produção Pública, os media públicos e um Estado aberto.

 

Métodos de Controlo Mental


Pesquisas Imediatistas descobriram duas fontes de inestimável valor que revelam tácticas do Estado no que toca à modificação comportamental, manipulação subliminar e controlo mental. A primeira é o "Manual de Guerrilha Psicológica", desenvolvido e distribuído pela CIA aos terroristas da Nicarágua (os Contras). Algumas das directivas deste manual de instruções declaram:

De facto, o ser humano deve ser considerado o objectivo prioritário numa guerra política. E concebido como alvo militar da guerra de guerrilha, o ser humano possui o ponto mais crítico na sua mente. Uma vez que esta tenha sido conquistada, o animal político foi derrotado, sem mesmo ter sido atingido por balas (...)

Esta concepção da guerra de guerrilha como guerra política transforma as Operações Psicológicas no factor decisivo dos resultados. Os alvos são então as mentes da população, de toda a população: as nossas tropas, as tropas inimigas e os civis de ambos os lados (...)

O manual continua, instruindo os leitores acerca de como ludibriar, chantagear e assassinar eficientemente indivíduos antagónicos aos imperativos do Estado.




A segunda fonte de documentação que expõe os programas de subversão mediática conduzidos pelo Estado encontra-se nos vídeo-documentários e nos artigos publicados por Fred Landis. A primeira vez que Landis identificou a presença de técnicas de controlo mental nas transmissões de media comerciais foi através da monitorização de jornais diários produzidos pela CIA no Chile em 1973. A tese de doutoramento resultante da sua pesquisa delineava as tácticas de manipulação subliminar e de controlo mental da CIA e foi usada contra esta agência no Volume 7 das Audiências do Comité Selecto do Senado de 1975 — "A CIA e os Media" — e nas Audiências de Comité de Inteligência Doméstica de 1977-78. A investigação e as observações de Landis expunham um método agora facilmente identificável, utilizado pelo Estado para destabilizar psicologicamente e coagir subliminarmente determinada população. Apoiado na teoria linguística transcultural e na investigação levada a cabo por Charles Osgood (subsidiada pela CIA), o governo aplica o seguinte método, conhecido como Diferencial Semântico:

Antes de mais, os agentes mediáticos identificam os símbolos culturais que detêm associações emocionais profundas integradas no seio das vidas doméstica, cultural e espiritual de uma determinada população-alvo. Os agentes usam então esses símbolos como estradas internas para o inconsciente das pessoas e manipulam-nos como implantes subliminares que podem ser antagonizados ou reafirmados de acordo com as situações que estão a ser manufacturadas pela CIA. "Ataques indirectos a representantes de um governo empregam, por exemplo, a justaposição de fotos do indivíduo-alvo com machetes sem relação, propaganda subliminar e associações de palavras pré-seleccionadas. O simples acto de colocar uma palavra-chave ao pé da foto de um chefe de Estado, representa um tentativa de controlo comportamental em bruto para condicionar novas associações e valores a uma personalidade familiar."

"O esforço combinado da associação de palavras (derivadas do diferencial semântico) com implantes subliminares é tão forte que se sobrepõe a qualquer outra mensagem" — mesmo aquelas que refutem as conotações e significado do truque.

As tácticas de controlo mental do Estado apresentam directivas subliminares e desinformativas disfarçadas de notícias. Tomando como alvo os implantes psicológicos profundos presentes em todas as culturas, o Estado provoca choque, terror, confusão, estimulação sexual, temor ou incerteza, ao antagonizar ou reafirmar estes implantes através de manchetes sensacionalistas, que frequentemente associam conceitos como satanismo com inimigos, ou milagres religiosos e boa fortuna com líderes implementados ou utilizados como fantoche pelo Estado. Já os símbolos variam de cultura para cultura. Durante as Audiências de Nomeação de Clarence Thomas ao Tribunal Supremo dos EUA, o New York Times publicou uma foto de capa (Domingo, 13 de Outubro de 1991) do Senador Hatch segurando na mão uma cópia d"O Exorcista" e associando-a com Anita Hill. Isto não foi uma acusação, foi uma táctica psicológica. Segundo o diferencial semântico, os sentimentos profundamente negativos sentidos pelas pessoas quando provocadas por este tipo de associação, perduram mais do que as provas que demonstrem a sua falsidade e perversão.



 

Tácticas Imediatistas


A Filosofia Oriental ensina a auto-realização e o despertar mas, quando sob ataque, esta também ensina métodos para subjugar um agressor usando a força do seu próprio ataque. Nós subscrevemos esta abordagem. As tácticas Imediatistas têm como objectivo neutralizar as imagens e textos chave que estão a ser implantadas no público pelos media e pelo Estado. O nosso trabalho é a libertação do espaço público das mensagens transmitidas pelas corporações, negócios e departamentos do Estado, bem como a abolição do cativeiro público que nos converte em meros espectadores da interminável enxurrada de cartazes publicitários, imagens manipuladoras, propaganda e notícias manufacturadas pelo Estado. Mas como poderemos subjugar o espectáculo usando a sua própria força?

Devolver todas as transmissões comerciais aéreas à direcção, acesso e controlo do público, é algo que irá naturalmente libertar forças culturais difíceis sequer de imaginar no presente — a mente virada do avesso não apresentará com certeza uma imagem ou slogan viral num cartaz publicitário da McDonalds, mas sim pessoas vivas e presentes nas ondas de rádio e nas ruas.




Interpretamos a Liberdade de Discurso como a capacidade de aceder e de produzir informação e material cultural através do desenvolvimento de Bibliotecas de Produção Pública onde todo e qualquer um de nós possa produzir imprensa, rádio, televisão e outros meios, em estúdios equipados com sistemas editoriais computadorizados, tecnologia gráfica, gravadores de áudio multi-pistas, câmaras de filmar, e equipamento de edição. A liberdade para transmitir pode estar em poder do público. As corporações podem ser erradicadas das ondas aéreas. Podemos cobrar-lhes rendas astronómicas pelas baixas frequências se quisermos. O Estado, sob um implacável escrutínio público, pode ser desapossado do seu poder para se esconder, endividar e subverter o público. A Democracia pode ser tão aberta e dinâmica como as nossas bibliotecas públicas.

A Democracia pode ser tão aberta e dinâmica como as nossas bibliotecas públicas.

Prevê-se obviamente resistência por parte do Estado e das corporações. Deixem-nos espernear: ao fazerem-no abrem-se novas fendas e pontos de acesso. Entretanto contamos convosco para levarem a cabo as vossas próprias acções. Apelamos aos artistas, escritores, desenhadores de cartazes, activistas e networkers de todas as nações para nos apoiarem no nosso projecto. Vocalizem o vosso descontentamento. Levantem a voz. Contra-ataquem. Libertem os espaços públicos nas zonas que mais o necessitam — aquelas que fazem parte do vosso quotidiano. Organizem congressos de networkers. Façam greve. Enviem-nos as vossas declarações, manifestos, críticas, tácticas, poesia, posters, collages, documentação, imagens e arte para o nosso jornal "Noospapers". Juntos podemos começar a libertação dos espaços públicos e acabar com esta situação de cativeiro forçado numa democracia de espectadores.



Brevemente, a segunda e última parte do panfleto da Immediast Underground "Seizing the Media"... Stay tuned!
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