30 Junho a 31 de Julho 2013
Artistas:
Eunice Artur
Alexandre A. R. Costa
Cláudio Lima
Pedro Cabral Santo
Moffat Takadiwa
Curadoria:
Mário Caeiro, ESAD.cr e José Moura, FCT-UNL
Good News? Comunicar é complicar
A ideia é apresentar cinco visões da resiliência artística ao fenómeno da comunicação massificada. Uma mancheia. O subtítulo – 'Comunicar é complicar' – é assumido no sentido de que há uma complexidade do artístico que joga com a comunicação, mas perturbando-lhe a transparência aparente sob várias formas: a decepção, o curto-circuito, a ambiguação do dispositivo, mecanismos de distanciação que se articulam como o silêncio, o irónico, o absurdo.
E porquê estes cinco magníficos? Conhecemo-los de diferentes contextos. Têm feito parte de uma descoberta contínua, ao longo destes últimos cinco anos, que ambos temos partilhado. Tem sido uma descoberta que anda a par de outra, a de como é importante e vital a arte interpelar o quotidiano do Campus da Caparica. Ora retraindo-se para um espaço de recolhimento e convidando-nos à introspecção; ora criando momentos dialógicos de interpelação e confronto, a arte contemporânea tem tido na Biblioteca um espaço assertivo cada vez mais indispensável. Estas cinco propostas, na simplicidade da ocasião criada, visam reforçar a ideia da arte como coisa útil ao dia-a-dia de uma Universidade.
Mas chegou a altura de complicar o jogo. É altura de partir de um entendimento da arte como instância que complica o óbvio, o expectável, o que nos menoriza, rodeia e corrói. Assim se posiciona esta exposição. Cinco artistas – uma pequena-grande mancheia de ‘vasos comunicantes’ – foram escolhidos por serem outras tantas vias para ensaiarmos o possível da comunicação. E depois para dizer que a materia da arte é uma experiência total de que não podemos ser espoliados, seja pela trivialidade dos media ou o rame-rame das mensagens ideológicas, sejam ostensivamente brutificantes, sejam subliminarmente condicionadoras da nossa autonomia.
Os 5 Magníficos
Mas chega de teoria! O que Eunice, Alexandre, Cláudio, Pedro e Moffat – aqui antes de tudo o mais cidadãos-artistas que se predispõem a mostrar como nos complicam a vida – o que estes cinco autores nos propõem, é algo de muito mais singelo; a pura experiência estética da complexidade. Recorrem à tradição da acção, da performance, do objecto, do pictórico, para nos surpreender através do que não deixa de ser um acervo efémero de objectos de contemplação e contacto. Talvez o suficiente para que se crie um verdadeiro ambiente de comunicação.
Eunice Artur apresenta o resultado de uma micro-performance que se estabiliza e engrandece até tomar conta de uma estrutura metálica no exterior da Biblioteca. Nas suas intervenções, onde termina (o sentido d)a natureza e começa o senso da obra? Na interacção com o natural, a artista propõe o fazer de um lugar que possa ser interpretado pelo transeunte. Para a presente exposição, Eunice Artur propõe uma performance íntima que se desdobra em intervenção escultórica, no exterior e no interior do espaço de exposição.
Já Alexandre A. R. Costa, propõe uma mesa de trabalho impossível de utilizar – pelo menos sem uma inflexão crítica acerca do que é o próprio trabalho e a colaboração. Na prática, esta é uma espécie de móvel de centro para uma exposição que aspira a complicar a vida ao espectador. As regras são para se quebrar, mas também para se ridicularizar, não existindo condições para a comunicação social quando não houver abertura para a sua continua refundação.
Quanto a Pedro Cabral Santo, o essencial joga-se na questão do devir da linguagem (David Santos). O artista propõe muitas vezes ficções intermedia em forma de dispositivos de imagem, isto é, dispositivos visual e operativamente deceptivos que, na sua estranheza que convive com a familiaridade, funcionam como aforismos tecnológicos de enorme profundidade filosófica. Também aqui, com três peças que já são de antologia, em particular NO TIME, NO MONEY de 2012.
Cláudio Lima mostra uma série de frágeis pinturas em cartão, contraplacado ou tela que são representações de imagens resgatadas ao everyday dos jornais. A verdade destas imagens está nessa moral de citação. Oscilamos, enquanto espectadores, entre envolvimento e deleite. Boas notícias, sem dúvida, tanto quanto dizem da irredutibilidade do humano mesmo após sucessivas degradações do sentido.
Finalmente Moffat Takadiwa apresenta objectos-lixo reunidos e suspensos na parede por forma a refrescar a nossa apetência para o sensível… Citemos Valerie Kabov, da FIRST FLOOR GALLERY em Harare:
O interesse crescente pela obra de Moffat é compreensível. Takadiwa utiliza objectos do dia-a-dia abandonados, facilmente reconhecíveis como parte da nossa vida quotidiana, e insufla-lhes uma magia e uma espiritualidade que transportam o espectador para o reino da imaginação, da meditação e do maravilhamento. Esta afectação permite ao mesmo tempo que nos questionemos acerca do ambiente que nos rodeia e dos nossos hábitos, ou não fôssemos nós mesmos responsáveis por fazer chegar a Takadiwa os materiais básicos com que o artista realiza a sua obra. Para GoodNews, Takadiwa apresenta um conjunto recente da série Africa Not Reachable, que encara os objectos como mensageiros e guias de uma viagem que nos traz uma reflexão sobre o Zimbábue de hoje. Lanternas improvisadas a partir de materiais de produtos de origem chinesa tornam-se um testemunho da criatividade que luta por moldar a sua identidade face a pressões internacionais, tanto culturais cmo económicas. - Valerie Kabov
Eis como uma pequena exposição mostra como há sempre um momento para nos deixarmos emocionar por aquela arte que, nos termos propostos por Jean-Claude Pinson em L’art après le grand art, é dotada de uma grandeza tão difícil de reconhecer quanto necessária para, também na metafísica, e como disse um dia Ortega y Gasset, ganharmos a vida.
Mário Caeiro, ESAD.cr & José Moura, FCT-UNL
in catálogo: