Um - Exposição de Dayana Lucas

Inauguração -  27 Janeiro às 16:00

Dayana Lucas (Caracas, 1987) foi um dos membros fundadores da Oficina Arara no Porto (com Miguel Carneiro, Luis Silva e a dupla de artistas Von Calhau!). Esta plataforma de produção representou, a partir de 2010, uma viragem na perceção pública da importância do experimentalismo possível no âmbito das artes gráficas, não só na vertente produtiva (pensando modos de produção próximos do DIY e na rentabilização social e artística desses mesmos meios de produção), como também tornando visível a presença de uma arte tendencialmente interventiva e anónima no espaço público.
Dayana Lucas tem formação em design gráfico, mas as suas preocupações estéticas expandem-se para o território das artes visuais e para um empenhado questionamento dos limites sociais e éticos da atividade criativa. Essa desterritorialização disciplinar ancora-se essencialmente na prática do desenho que se vai estabelecer como entidade híbrida a determinar e ser determinado tanto pela página ou suporte impresso, como pela ocupação do espaço expositivo.
É no contexto desse intervalo em que o desenho se assume como possibilidade de presença para-escultural que agora se apresenta a exposição Um. No espaço do projeto Right Cloud @ Wrong Weather, a artista apresenta três desenhos sobre tecido de uma simplicidade desarmante. Criados a partir de uma série de desenhos elaborados a partir da observação direta de feijões, a artista vai criar entidades orgânicas que se inscrevem no espaço criando um ambiente em potencial crescimento, mutação e transformação. A linearidade embrionária aponta nesse sentido e dialoga e confronta as áreas e alturas irregulares do espaço expositivo. Como se a linha, na sua pureza de demarcação da composição evidenciasse a hipótese de variação infinita, espelhando o natural numa circunstância cultural. A decetiva economia de meios é aqui a asserção da eficácia e força da imagem simplificada. Sem conteúdo, sem deriva representacional explícita, as formas interagem com o espaço, tanto quanto com a perceção do espectador. 
A atenção desviada que reclamam é a substantivação de um desejo de máxima eficácia com um mínimo de meios. A aspereza crua desta proposta é uma alegoria da simplicidade mais complexa de todas: a da natureza mutante, a da vida em transformação.

Miguel von Hafe Pérez