Regresso aqui a casa deste incendiário colectivo norte-americano, cujos elementos têm sido, também eles e em diferentes configurações, presença regular por estes lados. Formado por Camae Ayewa tcp Moor Mother na voz, Tcheser Holmes na bateria, Aquiles Navarro no trompete, Keir Neuringer no saxofone e Luke Stewart no baixo, este quinteto invoca da forma mais pura e urgente o espírito comunal e contestatário da fire music dos anos 60, época de convulsões profundas em que a música e luta pelos direitos civis se revelaram indissociáveis. “We Insist!” já proclamava a Freedom Now Suite de Max Roach e volvidas décadas e décadas o mesmo grito tem ainda de ecoar. Sem qualquer ponta de revisionismo.
Desse legado espiritual e revolucionário, constroem todo um mosaico vivo da diáspora negra, da poesia de Amiri Baraka a Nathaniel Mackey, da realidade de Gil-Scott Heron às visões de Sun Ra e linhagem Afrofuturista como postulada em ‘More Brilliant Than the Sun’ de Kodwo Eshun – cuja urgente reedição tem sido infinitamente adiada. Nascidos no evento Musicians Against Brutality em 2015, foram parte responsável pelo crescente reconhecimento da International Anthem como editora pivotal dos dias de hoje, lançando por lá os seus três primeiros álbuns e delineando uma linguagem que continua hoje a ser continuamente revista, actualizada e projectada para o futuro. A revolução que não será televisionada.
‘Protect Your Light’ lançado em 2023 pela lendária Impulse! voltou a escalar as listas de melhores discos do ano, num movimento contínuo de ascensão que encontra o colectivo a abandonar parte da fúria improvisada de tratados anteriores para assumir um lado mais reflectido e pausado, na palavra e nos arranjos, com o estúdio a assumir um papel mais preponderante, sem que isso se traduza numa menor urgência. Antes inconformismo = mutação. Os sopros de Navarro e Neuringer entre o rugido e a contemplação atenta, a bateria de múltiplos recursos de Holmes em enredo com o baixo de Stewart, capaz de ir da desconstrução funk ao balanço free mais abençoado e a lírica, sempre acutilante e preciosa de Ayewa, da resignação desesperada da realidade à libertação utópica que habita as mentes. Essencial. BS
Recomendamos que confirme toda a informação junto do promotor oficial deste evento. Por favor contacte-nos se detectar que existe alguma informação incorrecta.
