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CAVEIRA - — lançamento de 'ficar vivo'
©António Júlio Duarte

CAVEIRA - — lançamento de 'ficar vivo'

Em contramaré da velocidade e da subjacente efemeridade dos nossos tempos, o processo de maturação em redor da obra já é raro. Ao longo de quase duas décadas, CAVEIRA transformou-se numa entidade algo errante, mas portadora de uma certa mitologia. As escassas e fogosas aparições em palco fizeram dos seus concertos genuínos acontecimentos. Entre 2005 e 2006, e num viveiro de edições de autor, surgiram registos de algumas gravações caseiras – hoje em dia espécie de artefactos. África e Cena Espírita foram registos em formato CDr que materializaram, de modo espontâneo e apaixonado, todo o fervor de uma herança jazz e blues camuflada de um manto rock sem amarras. Quebranto surgiu, na mesma altura, na editora Rafflesia (de Afonso Simões, dos Gala Drop), casa que albergou toda uma corrente criativa de gente como Calhau!, Tropa Macaca ou Coclea. Breves documentos, mais ou menos oficiais, cujos valores históricos e artísticos fazem-nos chegar agora a esta nova vida de CAVEIRA.

ficar vivo parece assim afirmação estóica, natural nesta lógica que serve de enquadramento para o surgimento e título do primeiro álbum (digno dessa identidade formal) da banda de Pedro Gomes. Consigo, o saxofone de Pedro Sousa, alinha-se à bateria de Gabriel Ferrandini e ao baixo elétrico de Miguel Abras. Gravado nos estúdios Namouche, conta com a masterização do mestre Tó Pinheiro da Silva, talvez o mais importante engenheiro de som português de sempre, responsável por obras chave que molduram a cultura popular nacional. Os três temas que compõem ficar vivo trazem a eletricidade das cordas de Gomes (mais telúricas que nunca) para um festim sensorial além do rock e do ruído. A construção catártica sente-se real e oferece uma ascensão ora dantesca, ora redentora – mas sempre com um crepitar fumegante de fundo. Há espaço para o lume brando e para a detonação num cenário onde cada instrumento vibra e ecoa, tão delicado quanto portentoso. Um disco ritualístico à sua maneira, ancorado no desejo de romper e transcender. Por outro lado, uma oferenda tremenda após uma longa espera – e que esta noite se apresenta na sala onde mais vezes se testemunhou essa energia sísmica de CAVEIRA. Celebremos. NA

Fonte: https://zedosbois.org/programa/caveira-3/
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