Que realidade é esta? De que é feita? E de que forma conseguimos sair (fugir?) da mesma? Em Exit Simulation, o seu álbum de estreia, Niecy Blues (responsável pela escrita, produção e arranjos do projecto – a excepção é “The Architect”, produzida por T. Morris Wilson) apresenta o seu conjunto de respostas sussurradas/filtradas para resolver estas questões, criando uma tapeçaria sónica, que fica entre o ambient, o r&b e o gospel (e uma dose de experimentação considerável à mistura), para fazer sentir algo (para alguns, isso é muito) e lidar com sentimentos que estavam bem enterrados e que só agora consegue enxergar a partir da superfície.
Com uma identidade vincada que tanto a coloca perto de uma abordagem moderna à neblina do trip-hop como de expressões particulares de visionárias do agora como Kelela ou Solange (tal como elas, tem vocalizações, melodias e harmonias com elegância para dar e vender), a artista americana chamou para este disco um colaborador de sempre, Khari Lucas (aka Contour), mas também Mary Lattimore (harpista que dá um ar da sua graça em “Exits”), KeiyaA (que empresta voz e toca saxofone em “Soma”, único tema que conta com banda alargada para imaginar jazz com espíritos lá dentro), Durand Bernarr, Brian Foote, Zeroh ou Qur’an Shaheed, nomes próximos, cada um à sua maneira, do universo singular que ergueu.
Depois de uma juventude com presença forte de igrejas, cultos e religião, Blues bate com a porta a esse passado neste primeiro esforço em formato longa-duração e entrega-se a uma espiritualidade que vem de um desconhecido menos opressivo (e que a transporta para um lugar mais livre). Se clicarem no play para ouvir as suas canções e se sentirem desorientados, não se preocupem: no fim tudo fará sentido (basta que saibam onde fica a saída…). (Alexandre Ribeiro)
Mafalda Silva, natural de Braga a viver no Porto, é uma jovem compositora, produtora e cantautora. A sua relação com a música está enraizada através do piano, instrumento que começou a estudar aos 6 anos no Conservatório de Música de Braga. Apesar da sua relação com o piano clássico e com o palco académico ter sido sempre um pouco ambígua, desde cedo que nutriu um especial interesse por compor, improvisar e abordar a música de uma forma mais criativa.
Aos 16 anos, enquanto estudava composição, começou a explorar paralelamente a produção musical e a voz de uma forma autodidata. No entanto, só após uma experiência académica em Roterdão, onde começou uma licenciatura em composição, que abandonou passado pouco mais de um ano, é que se apaixonou verdadeiramente por produzir começando também a abordar a composição de uma forma menos erudita.
Nesse regresso a casa, onde explorou a música como nunca tinha feito antes, surge o embrião do seu primeiro projeto a solo, “Canto em Cantos”.
O EP é o resultado de longos meses de exploração no campo da produção, da composição e da lírica, nada mais que uma forma de falar consigo própria, numa procura constante da sua linguagem musical. Em 2022 foi bolseira do curso de Studio Engineering nos estúdios Arda Recorders, no Porto, onde aprendeu sobre práticas de gravação, mistura e masterização.
Nos últimos anos tem vindo a colaborar com artistas e bandas como Ocenpsiea, Francisco Carneiro, Frank Lucas, Mazda Fields, gonsalocomc, Alcrud3, e outros amigos com quem faz música regularmente.
Fonte: https://zedosbois.org/programa/niecy-blues-mafalda-bs/
