18:30 até às 20:00
Apresentação Meditação, a Liberdade Silenciosa, de Paulo Borges

Apresentação Meditação, a Liberdade Silenciosa, de Paulo Borges

Maurício Pereira e o autor apresentarão o livro "Meditação, a Liberdade Silenciosa. Da mindfulness ao despertar da consciência", de Paulo Borges.

Segue um excerto da "Introdução":

"Este é um livro sobre a meditação, sobre todas as suas potencialidades e ambiguidades, sobretudo neste momento histórico e civilizacional em que a cultura ocidental redescobre, vinda do Oriente, sobretudo budista, uma prática que esteve nas suas raízes e depois esqueceu. Após O Coração da Vida. Visão, meditação, transformação integral (2015), que é essencialmente um guia prático de meditação, desenvolvemos aqui a reflexão aí esboçada sobre a natureza e sentido profundos da experiência meditativa e contemplativa, num momento em que começa a tornar-se um fenómeno mainstream, mas também, e por isso mesmo, a ser instrumentalizada e mercantilizada pela cultura dominante, que é a cultura do passarinho, do poleiro e da gaiola que não existem, mas onde se leva demasiado a sério a ficção de serem reais. 

No primeiro capítulo apontamos alguns aspectos essenciais da contemporânea redescoberta da meditação, bem como da sua natureza e presença na Antiguidade greco-latina, na Cristandade e no ensinamento do Buda, de onde procede a sua laicização sob a forma da mindfulness, pela qual está maioritariamente a ser conhecida e divulgada no Ocidente. Terminamos este capítulo iniciando uma reflexão crítica, que atravessa todo este livro, sobre o que nos parece ser a insuficiência das propostas da New Age e do movimento da mindfulness para corresponderem à renovada ânsia de espiritualidade no mundo contemporâneo, tornando assim urgente a redescoberta da experiência meditativa profunda, que vise o despertar pleno da consciência e não uma mera melhoria das condições de vida segundo critérios mundanos.

No segundo capítulo defendemos ser do reencontro em larga escala da experiência meditativa e contemplativa profunda que depende a também urgente mutação do paradigma de consciência dominante, que é o da ilusória separação entre o eu e o mundo, e com isso o da cultura e civilização antropocêntricas responsáveis pela destruição acelerada da Vida sobre a Terra. Quando o aparente triunfo do projecto da modernidade, o de instaurar o Império da humanidade sobre a Terra, movido pela nova religião do crescimento económico infinito, revela o seu fundamental fracasso, quer na grave crise ecológica e na massiva extinção da biodiversidade que caracteriza o Antropoceno, quer na emergência de uma sociedade cada vez mais injusta, alienada, cansada, esgotada e deprimida, só a reorientação da vida activa para a contemplativa pode ser uma alternativa ao desastre já presente no modo catastrófico de pensar e viver induzido pela cultura social e institucionalmente dominante, que é a do trabalho, da produção e do consumo, do ter, fazer e agir cada vez mais e do ser, contemplar e amar cada vez menos. O reencontro e aprofundamento de outras possibilidades da consciência e da experiência humanas, como o maravilhamento contemplativo ante a beleza do mundo, o reconhecimento da não-separação entre observador e observado e o silenciamento da mente e do pensamento conceptuais, permite reabrir as portas da percepção para a superabundância do Real e libertar a nossa experiência do mundo da estreiteza e consequente sentimento de escassez e avidez que em geral a domina, com profundas consequências na economia global. Retomamos aqui a reflexão sobre o fenómeno da mindfulness, ponderando que a sua prática - apesar das motivações mundanas de comercialização que parecem presidir à sua oferta e de maior bem-estar e rentabilidade escolar e empresarial que parecem presidir à sua busca - , ao acalmar a turbulência mental, pode até certo ponto e nalguns casos facilitar a irrupção de dimensões mais vastas e profundas da consciência. Nesse sentido, a crescente prática da mindfulness e de outras formas de meditação pode ser um Cavalo de Tróia que a cultura egocêntrica dominante está a puxar para dentro dos muros da sua cidade e que pode dar lugar a algo imprevisto, a Revolução Silenciosa da experiência meditativa profunda, caso sobreviva, o que é incerto, à crescente tentativa da sua recuperação e integração para reforçar os muros da consciência egocentrada.

	É desta questão que nos ocupamos a fundo no terceiro capítulo, considerando que a meditação se encontra hoje numa encruzilhada crítica entre as muitas e crescentes ambiguidades da mindfulness – de que aqui procuramos assinalar as principais, ecoando o debate sério que neste momento tem lugar na comunidade científica e na comunidade de praticantes de meditação sobre as suas vantagens e riscos – e a sua integração tradicional em vias espirituais com mestres qualificados onde a prática meditativa não surge desvinculada de uma vida ética e sábia e apenas visa o despertar da consciência e a plena realização de si. Procuramos aqui recordar a origem do fenómeno da mindfulness, notando o contraste entre as intenções do seu fundador, Jon Kabat-Zinn, e os seus desenvolvimentos posteriores e actuais, ponderando se a mindfulness está a cumprir o desígnio do seu criador, de ser uma estratégia compassiva para minorar o sofrimento humano, ou se está, em nome disso e da busca do bem-estar, a converter-se numa nova mercadoria e num novo negócio movido pela avidez de lucro e pelo consumismo dominantes.  Para o efeito recordamos também o lugar que a atenção plena (mindfulness) tem na tradição do Buda, de onde foi extraída e decontextualizada, onde é apenas o sétimo aspecto do Nobre Caminho Óctuplo e é inseparável da ética e da sabedoria, minimizadas ou ausentes na mindfulness contemporânea. Terminamos reflectindo sobre a oportunidade de uma via espiritual secular, para quem aspire a uma prática espiritual profunda, onde a meditação e a contemplação não surjam desvinculadas da ética, da sabedoria e de uma busca de realização plena de si, mas por algum motivo não se reconheça nalguma via espiritual tradicional nem nas propostas contemporâneas da New Age e da mindfulness.
	
O quarto e último capítulo é precisamente a proposta de uma via espiritual universal, aberta a todos, religiosos, ateus ou agnósticos, a ser facilitada mediante um programa de prática por nós concebido e formulado a partir da nossa prática da meditação, desde 1981, e do budismo tibetano, desde 1983, que seguimos como uma via para ir além de todas as vias, realizando ao mesmo tempo a essência de todas elas. O programa intitula-se O Coração da Vida. Uma Via de Consciência, Bondade e Sabedoria, e visa ajudar à realização do nosso melhor potencial humano, baseada no treino meditativo da consciência, no cultivo de um bom coração e no despertar da nossa sabedoria inata. O programa tem três níveis – Consciência, Bondade e Sabedoria – e é composto de exercícios diários, que conciliam a reflexão com a experiência meditativa e contemplativa, faseados semanal e mensalmente ao longo de um ano, que visam conduzir a uma vida com sentido, aberta, florescente e harmoniosa, na relação consigo, com os outros e o mundo. Sendo um programa inspirado nas grandes tradições espirituais da humanidade e particularmente no budismo tibetano, o cerne da sua proposta consiste todavia em apresentar estes contributos numa perspectiva e numa linguagem universais, orientadas para uma prática baseada na experiência meditativa pessoal. O programa acentua a importância desta experiência, como alternativa a especulações intelectuais abstractas ou à crença em doutrinas que não sejam comprovadas experiencialmente. (...) Para toda a informação: circuloentreser.org
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