Caríssimos amigos, gostaria de vos deixar o convite para, no sábado, dia 20 de dezembro, pelas 18h30, estarem presentes na inauguração da minha exposição, que será seguida, no dia 9 de janeiro, por uma conversa de loja e outra intervenção.
A exposição estará patente até ao dia 25 de janeiro.
https://ricardopintovisualart.weebly.com
R. Gomes Freire 161, 1150-085 Lisboa
Inspirada pelo tom autobiográfico fragmentado de Beneath the Underdog uma autobiografia de Charles Mingus e pela reflexão foucaultiana sobre a imagem e a representação em Ceci n’est pas une pipe, Mind the Box propõe um percurso onde a identidade artística se revela e se desmonta ao mesmo tempo. Aqui, a caixa — objeto banal, suporte de arquivo, transporte ou ocultação — surge transfigurada em plano pictórico: dez caixas de cartão “aplanadas”, pintadas em 2D, compõem o título da exposição como um aviso e um enigma. Mind the Box tanto alerta como sugere: proteger o que se guarda ou desconfiar do que parece estar guardado. Um saco de artista, cheio de pinturas em formato A1, funciona como extensão íntima desse arquivo vivo — um corpo de trabalho em trânsito permanente, tal como na narrativa musical e pictórica de Ricardo Pinto. A escultura do cão boxer dourado, agora intitulada DOGOD, apoiado numa luva de boxe cravada numa pata partida, introduz humor, fragilidade e resistência: a luta como metáfora da criação, o brilho como máscara para a fratura, a pose heroica quebrada por dentro. As três pinturas A0, intituladas GODOG A, GODOG B e GODOG C, derivam de impressões fotográficas posteriormente trabalhadas digitalmente e depois reintervencionadas em acrílico e tinta da China, instalando o espectador numa reflexão sobre a “pintura infinita” — um processo que não termina porque reescreve continuamente o seu próprio meio, colocando em crise os limites entre original, reprodução e pós-produção. Tal como em Foucault, a imagem afirma e nega simultaneamente o seu estatuto; tal como em Mingus, há uma voz subterrânea que tenta organizar o caos sem o domesticar.
Os vinis God also goes to the Gym, cada um deles peça única com pinturas de Francisco Vidal, assumem um papel escultórico e pictórico dentro da exposição. Não são apenas discos: são objetos plásticos, unidades singulares onde música e pintura se tocam. Um gira-discos a tocar o álbum em loop cria uma paisagem sonora contínua, prolongando o diálogo entre som e imagem — ligação já presente nos últimos trabalhos musicais do artista (A Sul, Gomorra, God also goes to the Gym).
A memória biográfica entra de forma direta com o vídeo Porra fui-me embora (2003), uma breve autobiografia do pai do artista — a fuga do Alentejo na adolescência como gesto inaugural de sobrevivência, ruptura e reinvenção. Uma história íntima que, como em Mingus, se transforma em matéria poética; e que, como em Foucault, revela o arquivo como lugar crítico.
Entre caixas que escondem e revelam, pinturas que se multiplicam, esculturas que ironizam a força, vinis-pintura que soam e brilham, e histórias familiares que atravessam silenciosamente o espaço, Mind the Box afirma uma prática híbrida que pensa a condição contemporânea através do gesto artístico e da escuta. É uma coreografia de imagens, sons e objetos que, como a própria obra de Ricardo Pinto, recusa ficar “dentro da caixa” — mesmo quando a caixa é o ponto de partida.
Na Loja de arte do LARGO ResidênciasR. Gomes Freire 161, 1150-085 Lisboa . 218884520 . info@largoresidencias.com . www.largoresidencias.com