A Galeria Ana Lama, em colaboração com A Montanha, apresenta Reféns do Presente, uma performance de Nieves Correa e Abel Loureda, no domingo dia 26 de Janeiro, às 19h, na Rua Lucinda Simões 2. A entrada é gratuita. Galeria Ana Lama, in collaboration with A Montanha, presents Reféns do Presente, a performance by Nieves Correa and Abel Loureda, on Sunday, January 26, at 7pm, in Rua Lucinda Simões 2. Entrance is free. // performance // PT Ao falarmos de artes visuais e performance em Espanha tem que se destacar o trabalho realizado por Nieves Correa, não só como performer mas também como aglutinadora, organizadora, de entre outros projetos realizou o maior festival de performance a acontecer continuamente durante 16 anos, na península, o Acción!MAD. Nieves Correa numa entrevista diz-nos que começou a fazer performance vendo performance e interessando-se pela componente musical de Walter Machetti e Juan Hidalgo (músicos de formação), participantes do movimento ZAJ que foi muito importante para si. Que aí tomou atenção ao que considera serem ferramentas de principal importância na arte de ação: o ritmo, o tempo e a partitura. Nieves, com o poeta e perfomer Abel Loureda, começam em 2005 a fazer performances enquanto duo. Deles devemos frisar que além da performance, praticam outras artes, são também ladrões de bancos e é surpreendente que sejam mais conhecidos pelo público geral como ladrões do que como artistas; a sua glória foi consagrada pela série “La Casa de Papel” que passa na Netflix. Nieves Correa y Abel Loureda são ladrões de bancos e mendigos convictos, cabecilhas de uma rede que se dedicou durante anos a roubar obras de arte de coleções privadas guardadas em Bancos. Apresentam-se agora entre nós com as suas últimas performances -pós pausa forçada- que são um conjunto de exercícios rigorosos da semântica de um ladrão, a arte de ser ninja, as suas performances visam agora a invisibilidade. A invisibilidade material. O que queremos dizer com isto!? Sabemos que a prática da performance de ambos é direta e ao mesmo tempo enigmática, nutre-se de uma espécie de quotidianidade expandida. Algo que podemos encontrar também nas peças clássicas do movimento Fluxos; porem, enquanto no movimento fluxos, como proposta política, se fala de não arte, aqui falamos antes de artistas invisíveis. Invisíveis porque nos parece mais correto, misturando a não-arte do passado - o cruzamento da arte e da vida - com o ceticismo atual, podemos propor as praticas atuais que evocam o quotidiano como práticas de invisibilidade. Nieves Correa y Abel Loureda, muitas vezes apresentam-se nus. A nudez é possivelmente o mais parecido que um ser humano tem (de forma social) de se tornar materialmente invisível. É através de um estado de nudez em que ambos estão numa performance, que a sua visibilidade é diminuída como arbítrio - nus, só vestidos com a roupa que Deus lhes deu -. Os processos de invisibilidade na performance ao contrário do que se possa pensar são positivos, já que, despoletam forças do acaso que são contrárias à paranóia e à obsessão e ao controle racional das situações (uma certa humanização de tudo). A invisibilidade na performance também nos ajuda a falar da presunção plástica. No geral o artista pode modificar a plasticidade de si, Abel Loureda e Nieves Correa optam pelo minimalismo, apresentam-se nus, agem nas suas performances tirando plasticidade desnecessária ao mundo. Quantos artistas além de usarem aquela boina de pintor, não andam com o cavalete na rua, de baixo do braço e a tela, as tintas e os pincéis numa caixa de madeira, só para dizerem que são artistas!? Os artistas excêntricos, em relação à presunção plástica do mundo, são muito histéricos e maximalistas, eles são minimalistas. No maximalismo as pessoas vêm ao longe que dada pessoa é artista. Há aqui uma visão do que é o peso do artefacto necessário para fazer arte ou apresentar-se como tal. Porem quando vemos ao longe dois “artistas” nus na rua, regra geral as pessoas chamam a polícia acusando-os de atentado ao pudor. Neste duo há também amor, estão nus e há amor, ou pelo menos uma relação de confiança, usada na semântica da construção de sentido, uma espécie de não/pornografia. Desnudam o conjunto das imagens que criam enquanto instalação plástica que apresentam também com os seus corpos, evocando intimidade e proximidade, é como se a pornografia se tornasse poesia. Este duo de performers segundo é descrito na sua biografia continuou a fazer performance depois de terem sido presos por roubar um grande número de obras de arte guardadas em Bancos, sabemos que acabaram por ver a suas penas comutadas. Apesar de ser uma obrigatoriedade já clássica no mundo da performance apresentar-se o nu, essa forma de arte como terapia ocupacional num estabelecimento de correção é impossível de ser trabalhada com total liberdade. Como os mesmos Nieves Correa y Abel Loureda teimosamente queriam fazer performance dentro da instituição, acabaram por criar uma incompatibilidade burocrática e por sair antes de cumprir a pena. Um dos quadros mais importantes que este duo roubou foi o Autorretrato com a Orelha Cortada de Van Gogh, pintado num acesso de loucura em 1889. Como homenagem a Van Gogh e a Antonin Artaud. Antonin Artaud escreveu uma ode ao pintor Van Gogh e ao feito de cortar a própria orelha e oferecê-la como um ato de carinho a uma prostituta. Nieves Correa y Abel Loureda quando estavam na prisão cada um deles cortou também uma das orelhas como prova de amor à arte, trocando-as entre si. Segundo Nieves y Abel, a arte deixou de interessar à sociedade em geral, eles parecem querer assim (com atos dramáticos como é cortar uma orelha) ser mártires, mártires de uma coisa que deixou de interessar e de ter uma função na sociedade, a arte. Hoje e de repente, com conflitos geopolíticos, religiosos, com graves ameaças ecológicas ao planeta, com atentados à civilização e aos direitos do homem, submersos que nos encontramos de urgências políticas, em que nos perguntamos que sentido tem fazer arte, o mártir é o herói frágil que se dá ao absurdo. Nieves y Abel são mártires desse paradoxo que é pensarmos o homem como função. Nieves y Abel passaram uma vida a assaltar coleções privadas de arte depositadas em Bancos, para construírem A Primeira Coleção de Arte Anti-Capitalista, mas agora por desinteresse veem a sua coleção ser desvalorizada. “Reféns do Presente” a performance de Nieves Correa e Abel Loureda vai ser apresentada em Lisboa pela Galeria Ana Lama em parceria com a Galeria A Montanha pelas 19h. Como interlúdio será tatuada a orelha do assistente Nuno Oliveira de negro… Ana Lama Lisboa 15/01/2020 // performance // EN When we speak of the performing and visual arts in Spain special mention must be given to the work of Nieves Correa, not only as a performer, but also as someone who stands out for organising important cultural events in the country, chief among them Acción!MAD, the largest performance art festival in the Iberian Peninsula, now in its 16th year. Correa said in an interview that she started doing performance after seeing the work of Walter Marchetti and Juan Hidalgo and becoming interested in its musical elements. Musicians by training, Marchetti and Hidalgo founded the experimental performance and music group ZAJ, which had a huge influence on Correa. It was at this time that she became aware of what she considers the core elements of live art: rhythm, time, and score. In 2005 Nieves started performing as a duo together with the poet and performer Abel Loureda. It should be noted that, in addition to doing performance, Nieves and Loureda also practice other arts, namely they are also bank robbers, and, surprisingly enough, they are better known by the public at large for this rather than for being artists. In fact, their most successful exploits were depicted in the Netflix series “La Casa de Papel”. Nieves Correa and Abel Loureda are bank robbers and convicted beggars, leaders of a gang that, for years, was committed to stealing works of art from the private collections of banks. Following an imposed hiatus, they now bring us their latest performances which are a set of rigorous exercises in the semantics of a thief, the art of being a ninja, with the aim of achieving invisibility. Material invisibility. But what do we mean by this!? We do know that the performance practice of the two artists is direct and yet enigmatic, inspired by a kind of expanded everyday-ness. This is something we also find in the classical works of the Fluxus movement. However, while Fluxus proposes a politics of non-art, here we are dealing with invisible artists. Invisible because it seems fairer to say that, if we combine past practices of non-art (the crossroads between art and life) with the skepticism pervading nowadays, it is possible to describe current practices that evoke the everyday as practices of invisibility. Nieves Correa and Abel Loureda often perform naked. Nudity is perhaps the closest a person can get to becoming invisible, in a social context. It is through this state of nakedness in which both find themselves during a performance that their visibility is reduced at their own discretion; naked, dressed only with the clothes God gave them. Contrary to what one might assume, moving towards invisibility can be a positive thing in a performance, because it triggers dynamics of chance that go against the obsessive need for control, thereby humanising everything. Moreover, invisibility in a performance also allows us to speak of the conceit of plasticity. In general, artists are able to change their plasticity, and Loureda and Correa tend towards minimalism, showing themselves naked and therefore removing any unnecessary plasticity from the world. Plenty of artists go around with a painter's beret, as well as an easel and canvas under their arm, and a wooden box with paints and brushes, just so they can claim to be artists! While, in relation to the world’s conceit of plasticity, eccentric artists are over the top, Correa and Loureda like to keep things simple. If someone wears the typical signifiers of being an artist, they are easily identified as such. Here, therefore, there is a view of what is the necessary weight of an artefact to make art or to present something as such. On the other hand, when we see naked “artists” in the street, we accuse them of indecency. In this duo there is also love. They are naked and there is love, or at least a trust between them, used in the semantics of the building of meaning, a kind of non/pornography. They expose the set of images they have created through installation, presenting them also with their bodies, evoking intimacy and closeness, and it is as if pornography turns into poetry. According to their biographies, this performance duo continued to perform even after having been arrested for having robbed a large number of works of art from banks, and we also know that their sentences were pardoned. In spite of the fact that nakedness has become an already classical move in the world of performance, it is impossible to have total freedom when carrying out this art form as occupational therapy in a correctional facility. And since Nieves Correa and Abel Loureda were intent on doing their performance in this institution, there emerged a bureaucratic incompatibility that forced them to leave before serving their full sentences. One of the most important artworks that this duo has stolen (as a homage to Van Gogh and Antonin Artaud) is Van Gogh’s Self-Portrait with Bandaged Ear, painted in a fit of madness in 1889. Artaud wrote an ode to the painter and to the fact that he had cut off his ear and had offered it as a sign of his affection to a prostitute. When Correa and Loureda were in prison, they each cut off one of their ears, as a symbol of their love for art, and offered it to the other. According to them, since society in general is no longer interested in art, through these types of dramatic acts, such as cutting one’s ear, they seem to want to be martyrs, martyrs to something that is no longer of any interest to and that no longer serves a function in society: art. Now, all of a sudden, with geopolitical and religious conflicts, with catastrophic threats to the environment, with attacks on civilisations and on human rights, overwhelmed as we are by political crises, when we ask ourselves what is the point of making art, martyrs are fragile heroes who surrender to the absurd. Correa and Loureda are, therefore, martyrs of this paradox which is to think of humans as having a function. They spent their whole lives robbing works of art from private collections kept in banks in order to build The First Collection of Anti-Capitalist Art, but now their collection is losing all its value, due to general indifference. “Reféns do Presente” (“Hostages to the Present”) a performance by Nieves Correa and Abel Loureda will be presented in Lisbon by Galeria Ana Lama, in collaboration with Galeria A Montanha, on Sunday, January 26, at 7pm. There will be an interlude in which the assistant Nuno Oliveira will have his ear tattooed black… Ana Lama Lisboa 15/01/2020
