10:00 até às 11:30
A História da Arte face à criação estética

A História da Arte face à criação estética

Grátis
A História da Arte face à criação estética, ao comprometimento ético e ao infinito poder artístico
Masterclass FOLIO EDUCA
Vítor Serrão (Centro ARTis-IHA-Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa)
O poder das obras de arte foi sempre imenso: intervêm, agitam, espalham beleza, dão testemunho, trazem irreverência e, na sua mais profunda essência, uma marca trans-contextual. Por isso são, tantas vezes, alvo de actos de iconoclasma, justamente porque a sua dimensão afectiva é inefável e aurática: as obras de arte geram afecto, debate, contemplação, senão polémica, hoje como ontem, hoje como amanhã… Face a esse poder, a barbárie e a destruição tornam-se impotentes pois outra das características identitárias da arte é a sua sempre renovada carga trans-memorial. Ao definir a História da Arte como uma mais-valia social há que lembrar que esta disciplina estuda não só as ferramentas metodológicas com que a evolução estilística e a análise das formas se percebem, como ajuda a valorizar e defender os patrimónios comuns, mas é, também, uma arma fundamental de diálogo plural, no quadro de uma verdadeira cultura de partilha. Poder e êxtase, liberdade e obscurantismo, tragédia e dor, atracção e repulsa, estão patentes nas obras de arte, desde sempre, em linguagens por vezes contraditórias mas sempre de forte ênfase testemunhal, com o não-escondido objectivo de tornar o mundo mais fraternal. 
     No século XVI, um grande vulto do Humanismo, Benito Arias Montano (1527-1598), defendia justamente que a prática e fruição das artes eram remédio para enfrentar os males da guerra e as dores que oprimiam as pessoas. A Europa vivia então uma das crises mais cruéis, em que se generalizavam sintomas saturnianos de melancolia face à violência e ao medo. As guerras de religião, entre outras, geravam descrença e desagregavam o anterior edifício de valores do Renascimento: ao invés da harmonia, da ordem antropocêntrica, do sentido regulador da ‘geometria do mundo’, seguia-se um quadro de conflitos políticos, sectarismo e intolerância que levam à repressão. Arias contribuiu para sedimentar uma teoria da arte ecumenista e pacifista, ao defender o diálogo através da representação artística apta a gerar concórdia e uma cultura de tolerância com relações meta-textuais e imagéticas. O poema que escreve para a gravura A verdadeira Inteligência inspira o Pintor, de Cornelis Cort (1533-1578), segundo desenho de Frederico Zuccaro (1542-1609), é exemplo dessa tese de que a arte tem papel curativo, supera divergências, traz um sinal de paz em sociedades desavindas. Nesse poema latino (1577-78), a Caritas, a Prudentia, a Benignitas e a Fortitutio são eleitas como grandes valores qualificantes das imagens artísticas, capazes de pacificar as feras e humanizar os beligerantes.
     Na medida em que estes postulados se podem considerar actuais e efectivamente práticos, a História da Arte dos nossos dias pode constituir um serviço público contra os obscurantismos e as exclusões, na medida em que ensina a olhar, a ver e a perceber o sentido das formas e a razão de ser das obras artísticas. Ao admirar neste museu a exposição organizada por Ana Calçada sobre o modo como a arte pode conduzir à reflexão sobre a dor e dela dar testemunho convincente sobre os seus limites e não-limites, seriando obras que «provocam e inquietam», enfatiza-se o papel da arte como contínuo lugar de trans-memórias em movimento contínuo (à luz do que nos ensinou a iconologia de Aby Warburg). Temos, assim, um espaço de debate que se configura muito interessante e apelativo e que suscita uma salutar controvérsia.
Inscrição obrigatória. Gratuita. joana.cabacos@cm-obidos.pt
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