18:30 até às 21:00
Inauguração da exposição Deriva - Bruno Castro Santos, desenho

Inauguração da exposição Deriva - Bruno Castro Santos, desenho

Lado a lado, pelas suas formas abstratas, geométricas, pelos grafismos lineares e coloridos as peças cerâmicas da Fábrica Aleluia e os desenhos de Bruno Castro Santos parecem partilhar um espaço comum. Mas estas afinidades, apesar dos ecos formais, são ilusórias. Não é que não se verifiquem correspondências entre ambos; trata-se, todavia, não de semelhanças, mas de complementaridades, de modos de extrair as formas do mundo – etimologicamente, a palavra abstrato vem do latim abs-trahere, que significa separado, removido pela força, do espaço do concreto. Que é precisamente aquilo que a arte faz.
As cerâmicas são, na sua materialidade, coisas concretas. Da roda do oleiro às tecnologias do molde, a sua produção resultou sempre de procedimentos técnicos bem definidos, da procura de uma certeza artesanal sem arbitrariedades. Neste sentido, a sua geometria abstrata é análoga àquela das cerâmicas produzidas na China ou na Grécia antigas. As peças Aleluia das décadas de 1950/60 eram objetos decorativos que testemunhavam uma nova sensibilidade e as suas formas abstratas, emprestadas do mundo da arte, assinalavam, no espaço doméstico, um estilo de vida moderno (as artes aplicadas, outrora conhecidas por decorativas, servem melhor as problemáticas da história da cultura material do que as artes plásticas). Face aos desenhos de Bruno Castro Santos não conseguimos, como fazemos com as cerâmicas Aleluia, separar o que neles é abstrato daquilo que é concreto. Nas artes plásticas, a abstração configura uma história complexa, uma genealogia que recua outros 50 anos, aos primórdios do século XX, onde se inventavam os programas estéticos e políticos para uma nova perceção. Com Malevich, Delaunay, Kandinsky ou Klee (“A arte não reproduz o visível, ela torna visível”), a abstração cumpria uma agenda que era, essencialmente, uma resistência. Porém, um
século depois, a dicotomia entre o figurativo e o abstrato que sustentou aqueles programas não é a mesma e cedo percebemos que estes desenhos não obedecem a um qualquer manifesto, não
cumprem uma agenda decorativa, nem tratam sequer da exploração analítica das formas, à maneira da Gestalt... Tudo o que nele podemos testemunhar é o modo como aquelas linhas, nas
suas geometrias abertas, na sua estreita relação com o branco do papel servem um propósito concreto: a captura do espaço do desenho, do espaço físico que constitui cada desenho. Aquelas
formas abstratas não representam o espaço, elas convocam-no.
Philip Cabau, Setembro de 2017
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