Conversa com Tomás Maia, André Maranha, tradutor do argumento de "Filme" e elemento do Projecto Teatral, e Óscar Faria.
No domingo, dia 18, pelas 17h, é a vez de Tomás Maia apresentar o seu livro “O olho divino. Beckett e o cinema”, editado recentemente pela Sistema Solar/Documenta. A conversa com o autor será antecedida pela projecção de “Film” (24’), uma obra realizada em 1964 por Alan Schneider, com argumento do escritor irlandês – a estreia aconteceu, no ano seguinte, no Festival de Cinema de Veneza -, esta curta-metragem é protagonizada por Buster Keaton. O volume inclui a tradução integral do texto escrito por Beckett para “Filme”.
Como nota Tomás Maia no seu livro: “Proponho pensar que o olho divino é a ‘prótese’ não de um órgão em falta, mas de uma impossibilidade nativa: ‘a impossibilidade de ver a morte própria’. E proponho-o à semelhança de Bataille, que procurou na glândula pineal o vestígio do terceiro olho (único órgão capaz, entre outras coisas, de uma observação directa do Sol). E, adiante, acrescenta: “O olho divino: como compreender de outro modo o fascínio que o cinema exerce em nós? Como compreender que os homens procurem um lugar sombrio, se imobilizem por um momento diante de uma projecção frontal emitida por um único olho luminoso? Como compreender que nos retiremos da vida para ver seres de luz que iluminam a noite que não passa?”
Recorde-se que Gilles Deleuze escreveu um notável ensaio acerca da obra de Schneider/Beckett – e o filósofo francês foi também um autor que publicou várias obras a dois, nomeadamente com Félix Guattari –, intitulado “O maior filme irlandês (‘Film’ de Beckett). Este texto inicia-se com a exposição de um problema: “Se é verdade, como foi dito pelo bispo irlandês Berkeley, que ser é ser percebido (‘esse est percipi’), seria possível escapar à percepção? Como tornar-se imperceptível?”
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Tomás Maia tem uma Licenciatura em Artes Plásticas – Pintura pela Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa (1991); D.E.A. (Diplome d’Études Approfondies) no Centro de História e Teoria da Arte da École des Hautes Études en Sciences Sociales Paris (1993) (equivalência ao grau de Mestre atribuído pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, em Julho de 2002); Doutoramento em Filosofia de Arte na Université Marc Bloch – Strasbourg (2004). Em França, na qualidade de bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, do Centro Nacional de Cultura e da Fundação para a Ciência e a Tecnologia, foi aluno de Louis Marin, de Jean-Luc Nancy e de Philippe Lacoue-Labarthe. Publicou a obra Assombra. Ensaio Sobre a Origem da Imagem, livro com fotogramas de Marta Maranha e Diogo Saldanha (Lisboa, Assírio & Alvim, 2009), e Incandescência – Cézanne e a Pintura (Lisboa, Documenta, 2015). Desde 2004, retomou a sua actividade artística. O seu trabalho com André Maranha – Scena (para duas vozes) – foi apresentado em Lisboa (2008) e em Lucca (Itália, 2009). Em 2012 os dois autores publicaram em conjunto as obras Éden – O filme desta terra e Scena (para duas vozes).
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Next Sunday, 18th, at 5pm, will take place at Sismógrafo the presentation of Tomás Maia’s book “The divine eye. Beckett and the cinema”, recently edited by Sistema Solar/Documenta. The dialogue with the author will be preceded by the projection of the “Film” (24’), a piece from 1964, by Alan Schneider, with the Irish writer's argument - the film's debut took place at the Venice Film Festival, in the following year, - Buster Keaton stars in the short film. The volume includes the full translation of the text written by Beckett for "Film".
As Tomás Maia notes in his book: "I propose to think that the divine eye is the 'prosthesis' not of a missing organ, but of a native impossibility: 'the impossibility of seeing the death itself.’' And I propose it in the likeness of Bataille, who sought in the pineal gland the vestige of the third eye (the only organ capable, among other things, of a direct observation of the Sun). And, later, he adds: "The divine eye: how to understand in another way the fascination that cinema has in us? How can one understand that men seek for a dark place, to stand for a moment against a frontal projection emitted by a single luminous eye? How can we understand that we withdraw from life to see beings of light that illuminate the night that does not pass? "
It is to be remembered that Gilles Deleuze has written a notable essay about the work of Schneider/Beckett - the french philosopher was also an author who has published numerous works in collaboration, notably with Felix Guattari -, entitled "The greatest Irish film” (‘Film’, by Beckett). This text begins with the enunciation of a problem: "If it is true, as it was said by the Irish bishop Berkeley, that being is to be perceived ('esse est percipi'), would it be possible to escape from perception? How to become inconspicuous? "
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Tomás Maia has a bachelor degree in Fine Arts - painting, at the Superior School of Fine Arts in Lisbon (1991); D.E.A. (Diplôme d'Études Approfondies) at the Center for History and Theory of Art at École des Hautes Études en Sciences Sociales Paris (1993) (the corresponding to the Master degree awarded by the Faculty of Social and Human Sciences of the New University of Lisbon in July 2002); PhD in Philosophy of Art at Université Marc Bloch - Strasbourg (2004). In France, as a fellow of the Calouste Gulbenkian Foundation, the National Center for Culture and the Foundation for Science and Technology, he was a student of Louis Marin, Jean-Luc Nancy and Philippe Lacoue-Labarthe. He has published the work Asombra. Essay about the Origin of the Image, book with frames by Marta Maranha and Diogo Saldanha (Lisbon, Assírio & Alvim, 2009), and Incandescence - Cézanne and Painting (Lisbon, Documenta, 2015). Since 2004, he has returned to his artistic activity. His work with André Maranha - Scena (for two voices) - was presented in Lisbon (2008) and in Lucca (Italy, 2009). In 2012, both authors published together the works Éden - O filme desta terra and Scena (for two voices).
