FBAUL Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa
Largo da Academia Nacional de Belas-Artes - Lisboa Ver website
Exposição de Rafael Vascon
Entre o caos e o cosmos, toda certeza é abdicada, todo sagrado é profanado. Entre Hades e Atenas, neste território de ruínas e presságios onde tudo o que é sólido se desmancha no ar, despertam as Erínias — sombras guardiãs de uma memória recusada, ferida, corrompida. Seus cânticos ecoam contra o silêncio imposto por séculos de colonialidade, contra a museificação de corpos que nunca puderam repousar em paz. Elas finalmente retornam, não como espetáculo exótico para olhares que as consumiram, mas como espectro que recusa ser domesticado pela história oficial. Sua carne já não é vitrine: é fissura, rasgo e convocação. Cada fragmento exposto não é objeto, mas testemunho — lembrança viva de que o corpo não é destino, mas invenção política erguida sobre a violência da classificação, do olhar e do desejo. Aqui, arquivos se incendeiam, monumentos se desmoronam e as fronteiras entre mito e história se esvaem. Não há neutralidade possível: cada passo é um pacto com os fantasmas que aqui se erguem, cada olhar é atravessado por aqueles que foram obrigados a sustentar o fardo de uma modernidade manchada. Por isso, antes de entrar, atenção: este espaço não oferece conforto – é rito profano e escárnio, é futuro que só pode nascer da recusa em esquecer.
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Fonte: https://www.ulisboa.pt/evento/erinias-vinganca-rancor-e-punicao
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