18:00
Inauguração de exposição «Circum Navegando a Pedra» de Kassanaya

Inauguração de exposição «Circum Navegando a Pedra» de Kassanaya

Inauguração de exposição «Circum Navegando a Pedra» de Kassanaya 02 MAR | 18h Entrada Livre

A exposição Circum Navegando a Pedra é uma viagem retrospetiva, necessariamente breve, pelos trabalhos que Kassanaya (José Brazão, Praia 1958) tem realizado nos últimos anos, especialmente dedicados à pedra cabo-verdiana, em particular ao basalto.

Um dos aspetos mais evidentes a sublinhar nestas obras, é a relação central com uma das mais poderosas temáticas do imaginário poético e simbólico cabo-verdiano, o mar. Neste particular, destacaríamos, pela ousadia plástica, desafio formal, efeitos cinéticos e materialização criativa, a peça Mar Sunhadu, onde é notória a presença do artesão, nos elementos decorativos, e na solução compositiva, sugestões à obra do escultor Alexander Calder.

A pequena dimensão das obras não significa uma opção plástica e estética pelo decorativo, mas limitações práticas de diversa ordem. O que importa referir, é que em muitas destas obras pressentimos um forte potencial plástico a pedir transposição para o espaço público em escalas mais ambiciosas, o que implicaria uma relação mais próxima dos escultores com os arquitetos, urbanistas e paisagistas, considerando a vocação natural de complementaridade estética entre estas disciplinas, mas também por uma mudança radical na relação do público (institucional e privado) com a arte em geral, e com a escultura, em particular.

O que torna a atividade artística de Kassanaya relevante, é a regularidade e a persistência com que mostra os seus trabalhos, numa “teimosia lúcida” de quem atravessa, quase sozinho, o deserto de uma verdadeira “peregrinação” pela pedra. Por outro lado, o que o singulariza, é esta constante vontade de experimentar novos materiais (conchas, chifre, carapaça de tartaruga, coco e desperdícios diversos – ausentes nesta exposição), de explorar formas sem se submeter a escolas ou correntes, de se exprimir em linguagens e estilos tão diversas como o abstrato e o figurativo, o geométrico e antropomórfico, numa gramática estética ampla que vai do “popular” ao “erudito”, dos materiais “nobres” à “arte povera” (esta a partir de materiais reciclados). Em Kassanaya, o artesão e o escultor andam sempre de mão dadas, dialogando e contagiando-se mutuamente.

José Eduardo Cunha

Biografia Kassanaya, é o nome artístico de José Brazão (Praia, 1958), nascido na ilha de Santiago, Cabo Verde, onde reside e exerce a sua atividade artística desde 2014. O artista desenvolve uma intensa atividade criativa, pluridisciplinar, cuja prioridade centra-se hoje na produção de esculturas em pedra. No entanto, é conhecida a sua polivalência, capaz de conciliar projetos criativos aparentemente inconciliáveis, aos quais se dedica com igual empenho e profissionalismo, seja, enquanto artesão, na arte de caráter mais popular como o artesanato, a “joalharia alternativa” (por influência do avô paterno, conhecido artesão-ourives), seja, na arte mais elaborada e exigente, com a escultura.

É em Cabo Verde que Kassanaya desperta para a vida artística, começando, de início, pelo artesanato decorativo através da transformação de materiais e matérias-primas naturais, como a casca de coco, o marfim, a carapaça de tartaruga, ossos de baleia e chifres. É como artesão e pela qualidade dos objetos que cria, que chega o primeiro reconhecimento, com a participação em feiras internacionais no Senegal, Nigéria e Portugal.

Em 1981 viaja para Portugal para dar continuidade aos estudos e aprofundar a sua formação. O contacto com outros artistas, outras culturas, outras realidades e práticas criativas vão ter um efeito catalisador no seu percurso estético, e na sua evolução técnica, promovendo, naturalmente, um salto qualitativo na sua carreira. Em 1983 regressa a Cabo Verde para um novo e estimulante desafio pessoal e profissional. Integra-se no ensino como Monitor Especializado de Trabalhos Manuais do ciclo preparatório, nas cidades de Praia e Assomada. Em 1991 regressa a Portugal, e com base na experiência vivida em Cabo Verde com crianças e jovens, envolve-se em projetos socioculturais nos bairros degradados e de realojamento social da periferia de Lisboa. Uma nova vocação desperta, quando se propõe trabalhar a pedra. Nascia assim o escultor. Longo, estreito e solitário tem sido o percurso de Kassanaya. Contratempos, contrariedades e injustos esquecimentos têm constituído o caminho de pedras que ele tem vindo a trilhar, cuja resposta tem sido sempre a mesma, incansável nos desafios e perseverante no trabalho, peça a peça, exposição a exposição, percurso que vem sendo percorrido ao longo dos últimos 30 anos.

Através das suas esculturas ele busca captar o perfil de um rosto, os rumores de um destino e os sinais de uma simbologia mítico-poética através da pedra tosca de um espelho desfocado que o tempo teima em polir incessantemente, olhar sobre nós próprios, sobre essa peregrinação existencial, que alguém um dia chamou, acertadamente, aventura crioula.

Recomendamos que confirme toda a informação junto do promotor oficial deste evento. Por favor contacte-nos se detectar que existe alguma informação incorrecta.
Download App iOS
Viral Agenda App
Download App Android