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Ode Marítima - Companhia João Garcia Miguel e Danças Ocultas

Ode Marítima - Companhia João Garcia Miguel e Danças Ocultas

A interminável tarefa que será o comentário à obra de Fernando Pessoa remete-nos, desde logo, para duas questões capitais que são uma constante e um traço verdadeiramente distintivo do corpus literário do autor. Por um lado, a compulsiva multiplicação de um regime de heteronímia, por outro, a verdadeira mise en abyme provocada pelo reenvio constante para uma intricada tessitura intertextual auto-referencial, onde muitas vezes distintas constelações de heterónimos se cruzam e tocam. Este desdobramento e cisão numa espécie de fragmentação identitária do "eu” em diversos "outros”, que além dos heterónimos se revela, ainda, num grande número daquilo que o próprio definiu como as suas "personagens literárias”, atesta aquilo que Fernando Cabral Martins e Richard Zenith definem como um dispositivo que é "uma espécie de anel de Moebius pronominal”. No poema "Contudo, contudo”, de Álvaro de Campos, podemos ler: "(…) Eu que me aguente comigo e com os comigo de mim”. Esse desdobramento pessoano em "comigos de mim”, tal como a sua definição de "personagens literárias” remete-nos também para um efeito dramático que sobressai da sua textualidade e processo de heteronímia. Será o próprio Pessoa, em carta a João Gaspar Simões, que refere: "(…) sou um poeta dramático; tenho continuamente, em tudo quanto escrevo, a exaltação íntima do poeta e a despersonalização do dramaturgo. Voo outro — eis tudo (…)”. Discípulo assumido de Caeiro, Campos é o heterónimo mais sensacionista de todos os "outros” de Pessoa. O seu "sentir tudo de todas as maneiras” remete-nos para uma poesia em constante diálogo com o universo, procedendo também à sua multiplicação em pontos de vista diversos. Como um espelho estilhaçado por uma bola, chutada por uma criança dentro do quarto, também o real de Álvaro de Campos, como bom futurista, explode em fragmentos dispersos de perspetivas vítreas, reluzentes e aleatórias. "Ode Marítima”, com o seu ritmo, a profusão e multiplicação de imagens poéticas, a obsessiva exploração de inúmeras tomadas de vista e perspetivas, ou o seu recorrente apelo e exploração de mecanismos sinestésicos, demonstram bem os efeitos de uma poesia fundada na leitura fragmentária do todo. Este todo invade o corpo e os sentidos. No entanto, é como se esse todo apenas existisse como a sensação de cada parte que o constitui, o que nos remete para o tédio e a inerente frustração conotados com aquilo que nos é inatingível. Por mais que tudo de todas as maneiras se sinta, o todo que é o universo está longe de uma total apreensão. Não é só a falar com o seu mestre Caeiro que Campos considera não estar a falar com outro homem, mas "com outro universo”. Também a sua forma de apreender as coisas do mundo tende para essa profusão de microcosmos, relacionando-se com cada sensação como se de um outro universo inteiro se tratasse. Entre o Maldoror de Lautréamont e esse Uivo que Allen Ginsberg havia de dar, situa-se esta Ode Marítima. Poema selvagem e compulsivo da partida e do regresso, viagem inefável pelos sentidos numa arritmia sensual e explosiva, rica nas suas metáforas, inebriante nas suas enumerações nervosas e sincopadas. Um golpe que o mergulhar do corpo dá mar adentro, por todo esse mar. Uma consciência que antecipa a nossa própria consciência e condição, um hino sensacionista à redenção e sobre essa contemporaneidade que foi a de Pessoa e que agora, por mais estranho que possa parecer, é aquela em que nos detemos por nos estar ainda tão próxima e presente. Um monólogo que é muitos diálogos com o mundo inteiro, dividido nas suas múltiplas aparições como uma noite estrelada ou os aromas texturais de uma brisa marítima.

Ficha Artística/Técnica

Encenação e Interpretação: João Garcia Miguel

Criação e Interpretação Musical: Danças Ocultas

Iluminação e Direção Técnica: Alexandre Coelho

Sonorização: Nuno Rebocho

Assistente à Dramaturgia: Alberto Lopes

Assistente de Encenação: Roger Madureira

Figurinos: Rute Osório de Castro

Direção de Produção: Georgina Pires

Produção & Vendas: Janine Lages

Apoio Teatro Ibérico: Rita Costa

Imagem Fotográfica: Mário Rainha Campos

Assessoria de Imprensa: The Square – Raquel Alfredo

Apoio Técnico: AUDEX

Agradecimento: Bruno Reis pela cedência do espaço Gretua para a realização de ensaios.

A Companhia João Garcia Miguel tem o apoio financeiro da DGARTES, Governo de Portugal

Uma coprodução: Teatro Aveirense - Aveiro | Teatro Cine de Torres Vedras | Teatro Ibérico - Lisboa

Apoios: IEFP | Junta de Freguesia do Beato



Classificação Etária
M/12



Duração
75 minutos


Informações

Bilheteira: 239 857 191

bilheteira@coimbraconvento.pt



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Cadeiras de orquestra e 1ª plateia

Geral: 8€

Estudante, a partir dos 65 anos, grupo a partir de 10 pessoas: 6€


2ª plateia e Balcão

Geral: 6€

Estudante, a partir dos 65 anos, grupo a partir de 10 pessoas: 5€



Informação adicional:

- Dadas as novas medidas apresentadas pelo Governo, é obrigatório a apresentação de certificado de vacinação ou recuperação válidos ou certificado de testagem negativo (teste PCR realizado nas 72h antes do espetáculo ou teste antigénio realizado nas 48h antes do espetáculo). Os menores de 12 anos estão dispensados desta obrigação

- Uso de máscara obrigatório

- Interdita entrada após o inicio do evento

- Respeite o distanciamento físico e a sinalização do espaço

- Respeite as indicações dos assistentes no recinto


- Para adquirir bilhetes de Mobilidade Reduzida, por favor, contacte a bilheteira do Convento São Francisco (diariamente entre as 15h00 e as 20h00, através do telefone n.º 239 857 191, ou envie mail para: bilheteira@coimbraconvento.pt








Fonte: http://www.coimbraconvento.pt/pt/agenda/ode-maritima-companhia-joao-garcia-miguel-e-dancas-ocultas/
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