JANUS Identidade e autopercepção são assuntos muito complexos. A autopercepção pode ser definida como estar ciente de quem somos, de como somos e do que somos capazes de fazer. Como os humanos são muito orientados visualmente, um retrato, ou seja, uma fotografia que mostre apenas o rosto ou a cabeça e os ombros, é uma das maneiras mais importantes de tornar visível para os outros. Quando olhamos para um retrato, a única pessoa que pode ver o que observamos somos nós mesmos. Somos o grande unificador que une toda a realidade externa. O mundo apresenta-se como uma desarmonia de imagens, sons, cheiros. No cérebro, tudo isso está integrado e surge uma visão de um mundo único e unificado. No entanto, o cérebro cria uma realidade externa que pode não existir. Estudos neuroanatómicos de imagiologia modernos mostram que o reconhecimento de rostos depende de várias áreas críticas do córtex cérebral. A percepção de si e das outras faces exige, ao mesmo tempo, uma codificação holística e um reconhecimento de características processadas em várias regiões corticais. Os olhos e a boca são particularmente sujeitos a uma análise imediata. No entanto, mesmo essa leitura de rostos pode ser mal interpretada e levar a ilusões relacionadas com o rosto. Neste projecto, podem ser vistas fotos de ilusões relacionadas com a percepção do meu rosto. Após a observação das imagens, é compreensível que este projeto se denomine Janus, o deus romano das duas faces, uma voltada para o futuro e a outra para o passado, deus de todos os inícios, transição, tempo e dualidade. Algumas dessas ilusões criadas com meu rosto podem fazer sorrir e, espero, pensar em nós mesmos e em como nos vemos, e nas ilusões que potencialmente podem esconder o mundo externo ou criar uma nova realidade que só existe dentro de nós. APOLO Na sequência de Janus surge Apolo, como o deus grego e romano da luz, da poesia, da música e também um deus oracular. Os “videntes-médicos” usaram profecias interpretando a vontade de Apolo e as hipotéticas visões do futuro. Como humanos, não sentimos o mundo diretamente. Percebemos a realidade externa por meio de muitos filtros e diferentes receptores. Alguns desses receptores estão na retina do olho, particularmente na mácula lútea. Os fotões que chegam a essa mácula lútea iniciam uma jornada que terminará em uma enorme quantidade de informações que serão processadas pelo cérebro. Uma percepção é criada nas redes neuronais, referindo-se a uma interpretação pessoal da realidade onde nos inserimos. Uma ilusão de ótica pode ocorrer porque o cérebro está tentando interpretar e dar sentido ao mundo de incertezas ao nosso redor. As ilusões de ótica enganam nossos cérebros para que vejam coisas que podem ou não ser reais. Os artistas visuais usam inconscientemente esses truques para levar um observador a visualizar um novo mundo, uma visão pessoal e virtual. “Lux, et tu, veritas?” Nota biográfica José Paulo Andrade nasceu em Guimarães em 1962 é licenciado e Doutor em Medicina (FMUP) sendo professor de Anatomia. É também regente da disciplina Fotografia Médica e Científica do Mestrado Integrado em Medicina da FMUP e pelo curso de Fotografia Médica e Científica. Terminou em 2020 o Master em Fotografia Artística do Instituto de Produção Cultura e Imagem (IPCI). Participou em várias exposições colectivas com o colectivo Pescada nº5 (Coimbra) e ModusdeVer (Porto) além de várias exposições colectivas e exposições individuais. Conta no seu currículo prémios em concursos de fotografia com a cidade do Porto como tema. Obteve o 2º prémio na Maratona Fotográfica FNAC Porto 2014, o 1º prémio do concurso “Bridges” da American Association of Civil Enginiers (ASCE), o 1º prémio em 2016 e 2º prémio de Pontes Históricas em 2017. Tem trabalhos seus publicado por 5 vezes na revista Black and White, no âmbito de concursos Mobile Photography Award – menção honrosa (2016; 2019; 2020) https://josepauloandrade.smugmug.com/ https://www.behance.net/jandrade
