14:30 até às 19:00
'A Corrida' - Luísa Abreu

"A Corrida" - Luísa Abreu

Após dois meses de encerramento, a Galeria sala117, no Porto, volta a abrir portas no próximo dia 23 de Maio para a inauguração da exposição “A Corrida” da artista Luísa Abreu, que vai decorrer entre as 14h30 e as 19h30.

O uso de máscara será obrigatório e o distanciamento social deverá ser respeitado, com lotação de espaço seguindo as orientações da Direção-Geral de Saúde.

A Corrida é a segunda exposição individual de Luísa Abreu na Galeria Sala 117. Reúne os seus trabalhos mais recentes com materiais diversos, que se transformam e sobrepõem num ambiente expositivo que evoca fortemente o jogo. A exposição conta ainda com dois textos sobre a sua prática artística recente, um da artista Catarina Real e outro do curador e investigador João Terras.

Todas as obras apresentadas habitam um espaço de jogo de tabuleiro que se estende massivamente pelas paredes da sala maior da galeria. O método de apresentação explica-se pelo seu processo de trabalho e pesquisa recentes que se relacionam com um ambiente de jogo, de movimento e território, onde objectos como tabuleiros de jogo, alvos, escadas, bandeiras ou obstáculos são peças de estratégia num mapa imaginário para uma qualquer meta, vitória ou derrota. Uma corrida na parafernália das possibilidades infinitas.

A sorte e o azar entrecruzam-se nesta exposição revelando a dificuldade na tomada de posição e direcção, apresentando-se múltiplos caminhos através de um grande número de peças realizadas com materiais distintos, que se sobrepõe e escondem por todo o espaço expositivo.

A Corrida, tanto pelo aparato da montagem como pelo número de peças e diversidade de meios, envolvem o espectador atirando-o para dentro de um jogo que se apresenta estático como se tivesse sido interrompido várias vezes. A experiência imersiva coloca o público dentro da acção, rodeado por grelhas metálicas que se adaptam ao espaço, panos que mimetizam outros lugares, pinturas que são tabuleiros de jogo impossíveis, vinis recortados que dão ênfase a outras peças vizinhas, dados inúteis e um alvo descentrado que se pode jogar na exposição. Somos cercados por este imaginário e obrigados a percorrer as soluções e hesitações apresentadas como se delas também fizéssemos parte.

Em data a anunciar, será lançado o catálogo da exposição A Corrida, numa colaboração entre a artista e a designer Joana Paulino – pretende-se que o livro seja também ele reflexo da exposição, integrando diferentes formatos de papel, desdobráveis e sobreposições, para além dos textos que o percorrem, com mais ou menos regras, de Catarina Real, João Terras e Maria Bernardino.


Excerto do texto de Catarina Real:
“Há muito muito tempo, existia um lugar onde ainda não tinham sido inventadas as linhas.
Por essa razão, as pessoas que viviam nesse lugar eram simultaneamente felizes e infelizes; estavam constantemente num estado de ansiedade contraditória. Ora destroçadas pela incapacidade de se definirem, e regularem, ora exaltadas e vibrantes e celebratórias por serem a mais bela imagem da unidade primordial, a osmose completa.
Aparte toda a ansiedade, de que me abstenho de aprofundar, o que nos interessa neste pequeno conto ou evocação é a incapacidade que estas pessoas tinham em brincar.
Brincar, ou jogar, significa em traços largos (traço era também uma palavra inexistente neste lugar antigo) ressignificar as linhas, e tornar distintas mas também cinzentas as regras; opções, comando, controlo. As pessoas sem linhas não brincavam porque a distância entre dentro ou fora não existia, assim como a distância entre uma pessoa e outra pessoa. Não sabiam brincar, pronto. Não tinham condições reunidas para que se brincasse. Para que se fizessem brincadeiras e jogos.
A tristeza era um dos estados generalizados (também ela não tinha limites e se juntava a outros estados), porque embora estas pessoas não tivessem nunca brincado, sentiam-lhe a falta.
Talvez não estejamos longe de compreender este lugar de angústia mas em diferentes direcções.

1+2 = A CORRIDA

A Luísa, insubordinada, também decidiu que jamais deixaria de habitar esse tempo de cacofonias intermináveis, a partir de onde se é criança. A sua estratégia, pelo que posso verificar, foi inventar as linhas para o mundo de onde elas tinham desaparecido ou nunca entrado. (Ninguém me contou e posso estar errada, mas uma vez conhecido o conto acima, não hesitei nesta compreensão.) E a partir daí poder brincar novamente, ou melhor, brincar primeiramente, recobrindo a significação dos significados (é melosa esta frase, para ficar colada na boca) que por cá - no nosso lugar - existem; o que é uma rede, o que está fora, quem é o Bacon, a distância e complementaridade entre as cores. Quem vê de fora, e há muito deixou de ser criança, poderá fazer perguntas idiotas - e isto, porque a insolência não existe nesta linguagem horizontalizada - olhando para esta obra, ou poderá deixar-se escorregar para dentro da brincadeira e arriscar saltar as linhas, segmentos, planos, despido do seu  (li esta diferenciação num livro que me divertiu muito, O Animal Social) e arriscar cair - AAAAAAHHHHHH - no , que ao que consta é mítico, tem uma dimensão que foge ao pensamento paradigmático e que se prende com alguma coisa próxima da ética, ou da linha que a separa da moral - a distinção entre bem, mal; sagrado, profano - existindo com uma muito maior compreensão emocional e capacidade narrativa (eu acrescentaria mesmo, literária). Deixo apenas o final de uma descrição de uma brincadeira, presente no mesmo livro, porque acho óptima, e nos serve o caminho:
“Os rapazes reagiram aos invasores com alarme e medo. Lutaram sobre o tapete e alinharam os cavalos contra os invasores, mas gritavam uns para os outros:  Tudo parecia perdido. Mas Harold inventou um cavalo branco gigante, dez vezes maior do que os brinquedos com que brincavam. , gritou ele, e respondeu à sua própria pergunta:  Que investiu contra os invasores. Dois outros rapazes mudaram de equipa e começaram a atirar invasores contra o Cavalo Branco. Uma batalha apocalíptica. O Cavalo esmagou os invasores, mas os invasores feriram o Cavalo. Os invasores estavam quase todos mortos, mas o Cavalo também estava a morrer. Então, taparam-no, fizeram-lhe o funeral e a alma do Cavalo subiu ao céu.”
Ao Cavalo da Luísa, que veio jogar todos os jogos e salvar-nos de um tédio existencial e de um aborrecimento da continuidade (seremos o Rei deste Cavalo?) - e quem sabe o que fará numa próxima exposição - tive vontade de escrever uma dedicatória, em formato de versos, com a qual me despeço.”


- Sobre a artista
Luísa Abreu (1988, Amarante) vive e trabalha no Porto. Integra o colectivo Rua do Sol com quem gere a Galeria do Sol. É co-fundadora do Núcleo de Investigação PARALAXE com um projecto recentemente apoiado pela DGArtes. Expõe regularmente o seu trabalho desde 2009. Licenciada em 2011 pela FBAUP em Artes Plásticas Multimédia, terminou o último ano ao abrigo
do programa Erasmus na HfBKD em Dresden, Alemanha, tendo concluído o Mestrado em Artes Plásticas pela ESAD CR. É representada pela SALA 117.

website: www.cargocollective/luisaabreu

- Exposições individuais
(próxima) 2020 - Galeria Sala 117, Porto
(próxima) 2020 - Extéril, Porto
2018 - O X marca o lugar, Galeria do Sol, Porto
2018 - X, Mupi Gallery - Maus Hábitos, Porto
2017 - 15 minutos de fama, EXTÉRIL, Porto
2017 - Foge-se em grupo porque assim se foge melhor, Galeria SALA 117, Porto
2015 - Aquilo que se dá a ver e poderá ser visto, Rua do Sol 172, Porto
2014 - Nota prévia sobre um assunto qualquer, Hotel Madrid, Caldas da Rainha
2014 - Cronopatológico, Electricidade Estética, Caldas da Rainha
2014 - Estado Crítico, Lugar do Desenho / Fundação Júlio Resende, Gondomar
2011 - Turf Toe, Galeria Espaço Ilimitado, Quarto Escuro, Porto

- Exposições coletivas (Selecção)
(próxima) 2020 - Paralaxe, residência artística no Instituto Geofísico, Gaia
2019 - 20 anos da Extéril, Extéril, Porto
2019 - Residência artística Encontrarte'19, Diálogo e Construção, Amares
2019 - O caminho que corre pelo silêncio, Espaço Mira, Porto
2019 - I will take the risk, Tomaz Hipólito Studio, Lisboa
2019 - Problemáticas do Lugar, Silo-Espaço Cultural, Porto
2019 - A Política das Imagens, Mupy Gallery/Maus Hábitos, Guimarães
2018 - Via Aberta_Mostra de Artes Plásticas e Performativas, Mota-Galiza, Porto
2018 - Trama - Zona de Fiação 0, Museu da Indústria Têxtil, Famalicão
2018 - Passado, Pedra e Forma, Galeria OITAVO, Porto
2018 - Quando o Tacto se faz Contacto, curadoria Hugo Dinis, Galeria SALA 117, Porto
2018 - X, Salas Cinzentas, Ciclo Primavera da Electricidade Estética, Caldas da Rainha
2018 - Variations Portugaises, Abbaye Saint Andre, Centre d’art contemporain, Meymac, França
2017 - Caleidoscópio, Galeria do Sol e Maus Hábitos, Porto
2017 - Mostra Jovens Criadores 2015 e 2017, Mangualde
2017 - Dois para um, SALA 117, Porto
2017 - Noites da Lua Azul, Caldas da Rainha
2017 - Cornea Attack, Caldas da Rainha
2017 - Poste_Matosinhos 8, Curadoria de João Baeta, Mercearia S. Miguel, Matosinhos
2016 - 2016, Galeria do Sol, Porto
2016 - Céu Amorfo, resultados da residência artística realizada em Clermont-
Ferrand, Maus Hábitos e Les Artistes en Residence. Maus Hábitos, Porto
2016 - Exposição e Residência Artística no Av. Espaço Montepio, Porto
2016 - Pódio, Residência Artística Apneia.3, Maus Hábitos, Porto
2016 - Sprint, Residência Artística Apneia.3, Cooperativa Árvore, Porto
2015 - Bienal da Maia 2015 - Lugares de Viagem_Momento II, Maia
2014 - Mini Hotel, Projecto “Passa a Cabine”, Fundação PT / IPLeiria, Caldas da Rainha
2011 - Escarreta, Galeria Painel, Instituto da Saúde Pública da Universidade do Porto
2010 - Standard for the Installation of Private Fire Service Mains and their Appurtenances, exposição Close-up, Edifício RDP, Porto
2009 - Participação na XV Bienal de Cerveira, projecto utopia stand Miraxes s.a.
2009 - Serralves em Festa 2009 Casting “a anunciação”, produção Miraxes s.a.
Outros
2020 - Revista Dose 4, lançamento na Galeria Lehmann + Silva, Porto (https://dose.pt/trabalho/luisa-abreu/)
2018/2019 - Co-curadora do Poste Matosinhos, Mercearia S. Miguel, Matosinhos
2019 - JustLx Lisboa Contemporary Art Fair, expositor SALA 117
2018 - JustLx Lisboa Contemporary Art Fair, expositor SALA 117
2016 - Selecionada para o Jovens Criadores ’15
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