22:30 até às 04:00
Shrown Booger #16 :: Carolina Caramujo :: jitterrr

Shrown Booger #16 :: Carolina Caramujo :: jitterrr

22:30
Carolina Caramujo (harpa céltica)

01:00
jitterrr (DJ SET)

O Bruno era um tigre sem criatividade. Vivia uma vida pacata numa cidade com um desenvolvimento sustentável do qual ele se orgulhava. Era formado em gestão empresarial e trabalhava numa empresa que fazia estofos para carros. Ele próprio nunca percebeu muito bem o seu papel naquela empresa, mas também pouco lhe importava. Assinava uns papéis que estavam embelezados com uns gráficos e uns números e recebia o seu bem merecido dinheiro ao final da semana. A empresa era boa......aliás, muito boa. Pagava um salário acima da média, dispunha de creche, refeitório e benefícios para a saúde. No final de cada semestre de produção faziam uma festa e falavam do quão boa era a empresa e do quão abaixo estava a “Estofar Co.”, que seria a competição direta. 
Fora do trabalho Bruno gostava de olhar para os stands de carros em segunda mão e fazia contas de cabeça ao número de meses que teria que trabalhar e quantos estofos teria de produzir para conseguir aquele modelo que já era duas gerações posteriores ao seu. Ele sabe que precisa de um bom carro porque é mais confortável em longas viagens como aquelas que ele costuma fazer no verão até à praia com o seu grupo de amigos do secundário. Além disso gosta de utilizar cerca de 40% do tempo de viagem para se gabar de todos os extras e curiosidades tecnológicas dos seus novos gadgets. No último verão tinha investido o equivalente a 1.82 salários seus num telemóvel topo de gama. Era de cor preta com tons de roxo (um pigmento extraído de um insecto minúsculo que vivia no topo das árvores no Uganda), tinha um visor com vidro feito directamente na lava de um vulcão com actividade explosiva, tinha lentes frontais, traseiras e laterais para aquelas fotos em 360 graus, um processador que só se utilizava em computadores e como quem mete a cereja no topo do bolo...toques polifónicos. Bruno não se deixava vencer nesta guerra de quem tem o melhor. Não só ele tinha as melhores coisas como guardava os artigos e críticas nos favoritos para fundamentar a sua escolha. 
O Bruno era também do tipo que começava imensas actividades mas nunca as acabava ou desenvolvia. Quando se entra em casa dele e se seguirmos o corredor principal que vai dar a umas escadinhas à direita podemos descer e observar uma arrecadação cheia de planos falhados. Encostadas às paredes húmidas estavam prateleiras que seguravam pranchas de surf, bodyboard, raquetes de ténis, armas de airsoft e paintball, indumentárias para as mais variadas artes marciais, luvas e saco de boxe, carrinhos eléctricos, um taco de basebol, um bocado de coleção de moedas, revistas, aviões miniatura e jogos de tabuleiro ainda fechados. A única coisa que mantinha já desde há algum tempo era aquela subscrição no ginásio ao lado de casa onde ia todas as terças para tirar uma ou duas fotos para as redes sociais. Foi assim que conheceu a namorada. Trocaram uns likes, uns comentários, começaram a falar e por fim ela já entrava no enquadramento da foto. 
Durante os primeiros meses que se dedicou à relação e em que achava que estava apaixonado Bruno levou a namorada ao cinema, a um restaurante que não era fast food e pagou a conta, ofereceu-lhe um colar, tiraram fotos com fundos paradisíacos, visitaram locais de infância, partilharam histórias íntimas e foram passear para um parque verdejante. 
Foi dessa vez em que levou a namorada para o parque da cidade vizinha que a sua vida mudou para sempre. Nos termos mais simples que consigo arranjar e sublinho que os utilizo de forma literal posso dizer que o Bruno comeu a namorada. Começou como um beijo e muito rapidamente se transformou naquela manobra típica que os felinos têm para derrubar a presa. Bruno não tinha tomado o pequeno-almoço nessa manhã e não nos podemos esquecer que ele era um tigre.
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