B1 - A Criação Orquestra de Câmara Portuguesa Carla Caramujo soprano GABRIEL Thomas Michael Allen tenor URIEL Peter Kellner baixo RAPHAEL Ana Quintans soprano EVA Wolfgang Holzmair barítono ADÃO Voces Caelestes Sérgio Fontão maestro do coro Orquestra de Câmara Portuguesa Pedro Carneiro direção musical Joseph Haydn (1732-1809) A Criação «Gastei tempo porque quero que ela dure», dizia Haydn da sua oratória A Criação. Tal como as últimas composições de Bach, minuciosamente preparadas e impressas, A Criação destinava-se à posteridade, iniciativa ainda pouco habitual na profissão musical. Com libreto de Gottfried van Swieten, a partir de um poema anónimo inglês inspirado no Génesis e no Paraíso Perdido, de John Milton (1608-1674), A Criação é uma das maiores obras-primas da história da música, propondo-nos uma reflexão sobre o episódio bíblico da Criação do Mundo. Foi apresentada pela primeira vez numa sessão privada em Viena, no Palácio de Schwarzenberg, a 29 de abril de 1798, tendo chegado ao grande público aproximadamente um ano depois, no dia 19 de março de 1799, no Burgtheater de Viena, com Haydn na direção e Antonio Salieri no cravo. A introdução é uma das páginas mais espantosas de Haydn. Para descrever o caos, explica ele, «evitou as resoluções esperadas; é que ainda nada tomou forma». Três elementos alternam nesta grande obra animada pela filosofia das luzes e pelos ideais da Maçonaria: a narração (recitativo secco dos arcanjos e depois do Génesis); os comentários líricos ou descritivos (recitativos acompanhados, árias, excecionalmente coro); e os cantos de louvor (conjuntos e coro). A influência de Händel foi, sem dúvida, determinante: Haydn tinha podido ouvir as suas oratórias durante as suas duas estadas em Londres. Mas A Criação é, sobretudo, fruto da sua própria experiência. É o primeiro exemplar de um novo tipo de oratória, a do século XIX e XX. - texto: André Cunha Leal, in site CCB