Mona - loja de ideias
Rua das Janelas Verdes Santos-o-velho Nº72 - Lisboa Ver website
Há 37 anos que faço filmes, tanto tempo! Quando o Luís Mileu me pediu para olhas as suas fotografias, houve um encanto justo e pensável que veio ao meu encontro. Eu sei que o cinema trata do movimento, do tempo e da inscrição do corpo no espaço, este “gestus” de que Brecht falava. E se tudo for mais simples? Apenas seres humanos aflitos entre a luz e as sombras que os cercam? Os optimistas procurando a luz, os pessimistas refugiando-se na sombra. As fotografias de Luís Mileu fixam magníficos instantes onde a violenta luz tanto fere como salva, onde a negra sombra tanto pode esconder almas assustadas, como atirar alguém para o mal absoluto. Esta ambiguidade, que o cinema não permite, estala aqui como grande triunfo. Em vez das palavras comuns, o silêncio impiedoso do olhar que revela. Lisboa é conhecida pela magnífica luz que o sol e o reflexo do grande estuário do Tejo esculpem em cascatas de luz os edifícios das suas sete colinas. Mas nas suas fotografias, o Luís desenha outra coisa. Como se tudo (gente, árvores, construções) fosse apenas sombra fugidia, como se todos tivessem o nome inscrito na solidão e no medo. E por fim o nevoeiro, não apaziguador, não menos ambíguo: a reflexão do rosto da rapariga que desaparece no espelho embaciado, um improvável e sinistro pássaro negro que o Luís fez parar no seu vertiginoso voo. Nestes 28 espectros tantas histórias suspensas que podiam explodir! João Botelho Curador da exposição
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