21:30 até às 23:30
Cruzamentos 2017 - sessão 6

Cruzamentos 2017 - sessão 6

2017
C R U Z A M E N T O S
4ª série

Nova série, novo formato:
um livro
apresentação
debate com o público


Paulo Guimarães
11 de outubro
apresenta
Noam Chomsky, A Construção do Consentimento: a Economia Política da Comunicação de Massas (1988).


Sobre o livro
É uma convicção generalizada que a liberdade de informação (de produção, acesso e difusão) constitui um dos pilares duma economia livre de mercado e um dos pilares das sociedades democráticas. Nestas sociedades, os meios de comunicação social expressam as preocupações dos cidadãos e espelham a opinião pública, uma força que os governos democráticos não podem ignorar. A acção dos governos é assim escrutinada pelo público e a posse privada dos meios de comunicação, a par de outros meios, cuidam que aqueles não possam influir sobre a liberdade de expressão nem sobre os conteúdos mediáticos que são por eles veiculados.
Por tendência profissional, não posso deixar de invocar a história mais recente. As críticas ao “jornalismo amarelo” nos E.U.A. nos finais do século XIX encontraram-se associadas ao aparecimento da grande imprensa controlada por empresários que não hesitavam a recorrer ao sensacionalismo e às notícias falsas com objectivos de conquista de mercado e políticos. A este termo ficaram associadas as figuras de Joseph Pulitzer (que se quis redimir com um prémio destinado a premiar o jornalismo «de qualidade») e de William Randolph Hearst (imortalizado na película do jovem Orson Wells, Citizen Cane = O Mundo a seus pés, 1941) bem como a utilização da grande imprensa sensacionalista para acções de propaganda política consertada. Seria esta propaganda anti-espanhola que conduziu a opinião pública a apoiar a guerra hispano-americana em 1898, em Cuba e nas Filipinas. Apesar disso, a ideia de que «a imprensa livre» e uma «opinião pública» bem formada eram basilares na sociedade norte-americana permaneceu viva no seu ideal identitário como «sociedade livre» e por oposição aos regimes totalitários.    
Em 1988, Noam Chomsky publicou com o economista Edward S. Herman Manufacturing Consent: The Political Economy of the Mass Media e, no ano seguinte, Ilusões Necessárias: o Controlo do Pensamento nas Sociedades Democráticas. As duas obras foram de alguma forma tributárias do pensamento de Walter Lippmann (1889-1974). Este publicara, em 1922, Opinião Pública, mostrando que a emergência da comunicação de massas constitui um ponto de viragem das democracias. Foi ele, aliás, quem desenvolveu o conceito de «construção do consentimento» como sendo um processo útil e necessário à coesão social. Na nova era, caberia aos especialistas da informação colher e analisar os dados duma realidade demasiado complexa destinada aos decisores políticos, os quais usariam da “arte da persuasão” para informar o público das suas acções. Chomsky e Herman vão, porém, mais longe, desenvolvendo o “modelo de propaganda” que considera cinco «filtros editoriais tendenciosos» associados à natureza do comportamento de mercado das empresas de comunicação capitalistas.
O “modelo de propaganda” assenta essencialmente na análise textual de Chomsky combinada com a perspectiva económica de Hermann (notória na definição dos filtros como resultantes da “economia de mercado”) e apresenta-se como um instrumento de defesa intelectual. O modelo afasta-se da concepção gramsciana de “hegemonia”, propondo uma metodologia analítica dos media que não procura a exclusividade. Passado um quarto de século, em que se assistiu à emergência e consolidação da Internet como novo meio de comunicação, a questão que parece colocar-se, em minha opinião, não é se este “modelo” é ainda útil mas se a economia de mercado livre e a ideologia que a sustenta são compatíveis, afinal, como a constituição duma sociedade democrática. Fica aberto o debate.


Sobre o leitor 
Paulo Eduardo Guimarães (n. Lisboa, 1960) é doutorado em História Contemporânea, Professor Auxiliar com Agregação no Departamento de História da Universidade de Évora e membro integrado do Centro de Investigação em Ciência Política. Aqui participa na sub-linha de investigação DYRET (integração regional e desenvolvimento sustentável). É fundador do Grupo de Estudos sobre Conflitos Ambientais, tendo editado recentemente, com Juan Diego Pérez Cebada (Universidade do Huelva) Conflitos Ambientais na Indústria Mineira e Metalúrgica: o Passado e o Presente (Rio de Janeiro, CETEM, 2015). Tem participado em fóruns internacionais e nacionais de discussão sobre história ambiental (Congresso Mundial, Braga, 2014; Conferência Europeia, Versalhes, 2015, etc.) e, mais recentemente, procedeu a um primeiro balanço dessa historiografia em Portugal num texto com Inês Amorim (para a Areas. Revista Internacional de Ciencias Sociales, Universidade de Murcia, no prelo). O seu percurso como historiador tem sido marcado por diversas publicações sobre a história social do trabalho, sobre o comportamento económico de grupos de elite e mobilidade social intergeracional, sendo de destacar Indústria e conflito no meio rural: os mineiros alentejanos, 1858-1938 (2001) e Elites e Indústria no Alentejo (1890-1960), 2006. Actualmente é membro da comissão de acompanhamento do Mestrado em Estudos Históricos Europeus e Africanos e do Doutoramento em Histórica Contemporânea.  

A lista (não exaustiva) das suas publicações pode ser encontrada no Google Académico ou no Repositório da Universidade de Évora, aqui. 

Mais informação: 

http://www.uevora.pt/pessoas/(id)/5009  

http://orcid.org/0000-0002-9893-0614 


Inscrições via mail (jaf@escritanapaisagem.net) ou telefone (931 763 350).
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