A Invenção do Oráculo Partindo da prática artística de Jonathan Uliel Saldanha, esta apresentação abordará os vectores fundamentais que atravessam o seu trabalho: a contaminação do corpo pela paisagem, a mutação da linguagem, a pressão sonora e o ritmo como catalisador do hiper-presente. Serão explorados os mecanismos dramatúrgicos e cibernéticos que operam as relações entre o corpo ressonante, o sangue tecnológico, a contaminação pelos espectros sonoros e o sonho sintético, abrindo assim um espaço para a reinvenção da escuta. Através da construção e utilização de diagramas, serão evidenciados processos composicionais nos quais cosmogonias, timbres e mecanismos coexistem e interagem, gerando continuamente um espaço sonoro em permanente mutação. --- Bio Compositor, artista visual e encenador, Saldanha trabalha na intersecção entre som, corporeidade e construção espacial. A sua prática recorre a linguagens pré-verbais, feedback cibernético, lógicas animistas e cosmologias especulativas para criar ambientes imersivos, onde percepção, presença e realidade se fundem em estados instáveis de intensidade sensorial. Em 2024 apresentou a sua primeira exposição individual de grande escala, SURFACE DISORDER, na Galeria Municipal do Porto, acompanhada por uma publicação monográfica distribuída pela Mousse Publishing. Entre 2020 e 2022, como artista associado ao Teatro Municipal do Porto, estreou Red Mercury, Lithium Faust e Libidinal Lake, obras cénicas híbridas que combinam paisagens sonoras sintéticas, distorção vocal e dramaturgias especulativas. O seu trabalho foi exposto em instituições como o Museu de Serralves, Palais de Tokyo e Centro Cultural de Belém (CCB). Activo desde finais dos anos 90 na cena experimental portuguesa, fundou em 1998 o colectivo SOOPA. Actualmente lidera os projectos sonoros HHY & The Macumbas, HHY & The Kampala Unit e o colectivo percussivo Arsenal Mikebe, tendo actuado em festivais internacionais como Primavera Sound, Le Guess Who, Unsound e CTM. É representado pela Galeria Duarte Sequeira. --- Facebook https://web.facebook.com/events/3125136247661032 --- Data: 29 de Novembro de 2025 Hora: 15:30h Entrada livre Local: MAC/CCB Praça do Império, Lisboa. Organização: MAC/CCB . ECATI . CICANT --- Mais informação: Esta conferência insere-se no ciclo de conferências Outros Espaços, que é uma parceria entre o Centro Cultural de Belém e a Escola de Comunicação, Arquitectura, Artes e Tecnologias da Informação (ECATI) e o Centro de Investigação em Comunicação Aplicada, Cultura e Novas Tecnologias (CICANT) da Universidade Lusófona-Centro Universitário de Lisboa. O objetivo desta parceria é ligar a produção académica e científica com a comunidade, proporcionando a possibilidade de transmissão de conhecimento ao mesmo tempo que se mostra como um espaço de diálogo plural. A ação que cada instituição leva a cabo contempla a possibilidade de sinergias temáticas, que vão desde as artes visuais, o cinema, as artes cénicas e as artes sonoras, a comunicação e a cultura, a arquitectura e os novos dispositivos digitais. Estas conferências anuais terão lugar no Centro Cultural de Belém uma vez por mês, Sábado, 15:00h no auditório do MAC/CCB e com uma programação que se estende entre Março e Dezembro. A arte do século XXI…? Outros espaços: Margens criativas. Em 1926, o historiador e teórico da arte, Carl Einstein, publica, em Berlim, na famosa Propyläen-Verlag, a A arte do século XX. Bem cedo, pensaram muitos. Logo nos primeiros parágrafos da obra, Einstein toca um problema que parece repetir-se agora, o do «cepticismo desta época». O fazer criativo do homem consiste, também, em criar uma dimensão que não pertence ao regime do natural, da cognição, do conhecimento, mas sim da imaginação e das novas formas de redesenhar os objectos, ainda que às primeiras dimensões possa ainda estar ligada; a arte, porque age a partir do real, e sobre ele, é construtora e configuradora do real, já que o organiza, reorganizando os seus objectos em torno de leis que não existem na natureza, mas só e sim na própria pulsão criativa do homem; porque só a arte tem o poder de «transformar as coisas em signos nunca vistos» (Carl Einstein). Compreende-se esta caracterização porque para Einstein se tratava sempre, e principalmente, de se afastar do seu tempo, de criar distâncias para poder pensar, de um querer ir mais além da época histórica, procurando a simultaneidade temporal das formas de ver que a história até então tinha produzido, «o dever», diz em A arte do século XX, de «transformar a actividade e a percepção humanas». Para Einstein tudo se jogava nas formas de afecção da visualidade e da organização das imagens, antecipando muito das fracturas que, no mesmo século, vieram a produzir-se e que ainda hoje subsistem. É essa forma de reorganização da visão que recolhe dentro de si o conceito do alucinatório, um elemento que para ele pertence à arte enquanto instrumento que permite recriar novas formas de ver, não um meio ou instrumento que dá a ver formas, que projecta ideias ou sensações, mas sim que provoca modificações do olhar e, ao fazê-lo, produz novos modos de ver, de recriar a própria realidade. Por isso, para este, a arte é sempre, também, da ordem do político. O uso do conceito de alucinatório remete, em Einstein, para processos psíquicos complexos que ligam condições subjectivas e condições objectivas, processos psíquicos e fenómenos perceptivos, fenómenos sociais, também. Quando o alucinatório se produz, ocorrem para este processos de reacções entre o psiquismo e o fenómeno biológico, produzindo-se dessas reacções o trans-visual, um conceito que vai mais além da simples definição da arte como algo estanque, completamente definido. Entre estas possibilidades, queremos pensar, um século depois, a situação da arte no século XXI e para tal, não só Carl Einstein nos interpela, também vem a jogo a conhecida afirmação, vezes sem conta repetida na última centúria, de Samuel Beckett num título muito afim ao que propomos: «É o fim que é o pior, depois o meio, depois o fim, no fim é o fim que é o pior» (L'Innommable, 1958). —