Duração 1h30 aprox.
Certos versos olham-nos nos olhos. A escrita que escapa ao dia-a-dia sem se escusar em floreios ou rebuscados de palavras, mas insistindo mesmo na matéria de que se fazem os dias, essa escrita interpela-nos. Ela toma-nos pelo braço e dá-nos a volta, de repente, fazemos uma pirueta e ainda estamos com os pés no chão, só que olhamos, agora, para o céu azul. Essa escrita, voltada para a raiz e para a corola ao mesmo tempo, desenvolve-se em arcos e abraços sem mesura, espraia-se na gargalhada fácil e no olhar húmido, essa escrita demora-se no silêncio e atenta, com encanto, no existir. Ela é de casa, portas abertas. É da rua, do jardim, anda por aí. Quando as horas caem nas armadilhas sucessivas de um mundo arredado do viver, de um mundo que grita a cada momento a empresa, o perfil, a reação, é aí que a brisa leda dessa escrita vem e nos levanta os cabelos, quando os temos, para lembrar com um friozinho nas orelhas que tudo passa eternamente. Olhemo-la de volta, tão abertos quanto pudermos, olhos nos olhos: aí é uma voz peregrina que se ouve, solitária na sua travessia que é também a de tantos – todos? – e ela trauteia, nesta época de catástrofe permanente sempre um pouco adiada, brinca muito a sério.
Alexandre Pieroni Calado
O Faroleiro, de Tiago Mateus
Uma seleção de textos dramáticos e de textos de prosa poética escritos nos últimos 10 anos, com prefácio de Alexandre Pieroni Calado.
Uma conversa com o autor, Tiago Mateus.
Leitura de pequenos excertos do livro e intervenientes na conversa, os atores David Pereira Bastos e Marcello Urgeghe.
Apresentação e mediação de Alexandre Pieroni Calado.
Datas e Horários
11 janeiro
domingo, 19h30 (após o espetáculo Fantasia sem Abrigo)
Local
Sala Bernardo Sassetti
Fonte: https://www.teatrosaoluiz.pt/espetaculo/apresentacao-do-livro-o-faroleiro/