16:00 até às 13:00
PUNCTUM - Ser Criança Atrás das Grades

PUNCTUM - Ser Criança Atrás das Grades

Exposição de Fotografia "PUNCTUM - Ser Criança Atrás das Grades" Inauguração dia 20|Janeiro|2024 Forum Actor Mário Viegas, Santarém Horário: Segunda a Sexta das 14h30 às 18h30 Sábados das 10h00 às 13h00

Durante quase 4 meses, Catarina Araújo Ribeiro fotografou a cumplicidade entre estas mães e estes filhos : o colo, o mimo, os sorrisos, as brincadeiras, os cuidados. Na cadeia não há fotografias !

…E se, por hipótese, a nossa mãe tivesse sido detida e condenada por um crime quando ainda estávamos na sua barriga, e vivêssemos os nossos primeiros anos de vida dentro de uma cadeia? E se, por isso mesmo, não tivéssemos nenhuma fotografia nossa até aos 3 anos, lembrar-nos-íamos de nós próprios?

Quando soube desta realidade (na prisão não há fotografias) pensei que não podia ser, tinha de fotografar estas crianças ... e fiz estas 24 fotografias, que contam histórias que tinham mesmo de ser contadas. Para um fotógrafo que, como eu, vem do analógico, este é o número de fotografias permitidas pelo rolo fotográfico médio, e fez-me sentido serem 24.

Para além da estética, a escolha das fotografias teve em conta constrangimentos legais e de segurança, mas também uma narrativa fotográfica. Por vezes usei técnicas fotográficas que permitem destacar subtilmente os retratados do contexto, e isto não foi inocente; quis frisar que este contexto é apenas temporário, uma parte de uma história maior, de uma vida maior. Mais do que fotografar o que vi, fotografei o que senti.

O maior desafio do Retrato é revelar o oculto, o intangível, o que se passa dentro das almas, e isso só se consegue com uma relação de confiança, amadurecida ao longo do tempo. Estes não são retrato DE crianças com as suas mães, são retratos SOBRE estas crianças e estas mães.

As imagens falam da cumplicidade entre estas mães e estes filhos, que partilham uma cela particular, com casa de banho própria. As reclusas cuidam, como qualquer mãe, do seu quarto/cela, e decoram-no com toda a dedicação, criando um ambiente encantador, apesar do contexto. A interação mãe-filho fez com que se tenham esquecido das poses e se tenham entregue à fotografia, deixando-se ver como realmente são. Empolgadas, arranjaram-se para cada sessão fotográfica como se fossem para uma festa, uma festa de partilha, de olhar e ser olhado.

Não quis saber que crimes cometeram, porque, nas mães que conheci, isso não afetou a sua capacidade de serem mães cuidadoras e ternas. E não fui para as julgar.

Esta exposição é, no fundo, sobre o TEMPO : o tempo de uma criança, que parece passar de forma diferente do tempo de um adulto ; o tempo na cadeia, que é diferente do tempo em liberdade ; e o tempo que o espectador dedicou a ver a exposição, breve pausa num corropio quotidiano.

Convido-vos à reflexão a partir do estímulo visual destas Fotografias. O título, PUNCTUM, alude ao conceito de Roland Barthes, que define os detalhes que, numa fotografia, tocam e ferem emocionalmente o espectador, um arrebatamento que faz com que a fotografia passe a viver dentro de quem a observou.

Através destas imagens podemos refletir, questionar e perceber coisas simples como a importância de uma Fotografia, a importância do colo da mãe, de ser amamentado, ou de um abraço, ou de ser olhado, sem pressas, e de ser fotografado. Ou a importância de uma janela, que se agiganta no contexto prisional, por onde entra luz e ar fresco, e por onde se pode espreitar e ver o céu e as estrelas.

É incrível como tantas vezes criamos uma relação afetiva com um pequenino pedaço de papel chamado fotografia. Quando lhas entreguei, percebi que estas fotografias são, para estas mães, preciosas. Será que estas mulheres, sem fotografias, que se vêm refletidas apenas na imagem turva dos espelhos foscos das suas celas, se podem, com os anos, esquecer de como eram ou de como são ?

Foram as crianças que aqui vêm, hipocentro de todo este projeto, mestres de resiliência, que me abalaram como terramotos e me mostraram, com sorrisos e olhares doces, e com toda a sua energia avassaladora e contagiosa, que ser criança atrás das grades pode ser, no fundo, apenas, Ser Criança.

Obrigada pela vossa visita…

Catarina Araújo Ribeiro

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