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PEDRO PROENÇA / Los Teólogos

PEDRO PROENÇA / Los Teólogos

Pedro Proença Los Teólogos

Há mais de quatro décadas que me persegue este conto de Borges. Há quem o considere excessivo em referências, mas muitas destas (aqui há gato!) são falsas, e as circunstâncias historicamente inadequadas (na suposta altura, por exemplo, não existia inquisição). Em 1982 pintei um asceta histrião, verde e repugnante, inspirado nessa história, sobre o qual Manuel João Vieira escreveu um divertido (popíssimo) texto crítico. A minha "heterónima" Sóniantónia expôs na Fundação Eugénio de Almeida em 2018, um peça múltipla que parte desta narrativa, e tentou, com insucesso, escrever uns evangelhos histriões e anulares nele inspirados. Mais recentemente a mesma Sóniantónia tem estado ocupada com um extenso ensaio em que relaciona os temas de Los Teólogos com o bizarro percurso de Pierre Klossowski, irmão de Balthus, romancista e ensaísta que abandonou as letras para se dedicar exclusivamente a desenhos eróticos (há quem diga perversos). Nesta exposição mostro dois tipos de obras: 1) aguarelas, virtuosísticas, grandes, objectuais e florais, uma espécie de naturezas mortas irrequietas; 2) pinturas sobre papel com sobreposições em tons ocres, estilo que pratiquei a meio dos anos 80 e que me apeteceu retomar, estilo este povoado de ficções narrativas, burlescas e filosóficas. As aguarelas são afins a um estilo realista, mas procedem quer da observação ("reproduções à vista"), quer de uma mui exercitada arte combinatória, onde é exigido (pelo medium), quer rigor, quer espontaneidade. Respondem a um tempo perdido, fortuito, deslaçado. Nas segundas o tempo acumula-se, sobrepõe-se, é recorrente, e as formas são simbólicas: há pântanos, anéis, árvores e a imprescindível paixão. Vêm este tipo de obras depois (e ao mesmo tempo) de um período heteronímico, hiper-conceptual e meta-curatorial em que me tenho divertido imenso. Não se trata aqui de um regresso ao desenho e à pintura (que nunca deixei) mas sim de uma insistência nesse filão paradisíaco, sempre apetecível, instigador do prazer e exigente nas práticas. Não há nele espaço para bluffs, nem para cinismos, nem para carreirismos, pesem embora as referências todas que aqui borbulham sem sublinhados. São mesmo para ver, a nu, sem bizantinas preleções.

Pedro Proença

Patente: 13.01 a 02.03.2024 Terça a Sábado das 15h às 19h30 Galeria Pedro Oliveira Calçada de Monchique, 3 . 4050-393 Porto. Portugal T +351 222 007 131 M +351 918 494 794 gpo@galeriapedrooliveira.com / http://www.galeriapedrooliveira.com/

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