21:30
“VII Grande Noite do Fado e da Canção de Coimbra | Serenata de Inverno: Canção, Luta, Protesto”

“VII Grande Noite do Fado e da Canção de Coimbra | Serenata de Inverno: Canção, Luta, Protesto”

Durante a década de 60 do século passado a Canção de Coimbra respirava uma atmosfera de tal maneira salutar e pujante que hoje é possível designar a Geração de 60 como a 3.a Geração de Oiro do Canto e da Guitarra de Coimbra. Tão forte era a sua riqueza que as tendências estéticas, musicais e temáticas que se desenvolveram ao longo desse período, poder-se-ão caracterizar por quatro campos ideológicos, acabando por revelar quem era quem àquela época.

Enquanto cantores como Barros Madeira (1934-2021), Casimiro Ferreira (1937-2018), Lacerda e Megre (1939-2021) e João Farinha (1945-2012) davam continuidade a uma tendência clássica, Fernando Gomes Alves (n. 1941), numa vertente recriada, nos anos 50, por Fernando Machado Soares (1930-2014), repercutia as influências da música popular portuguesa no repertório conimbricense. Igualmente José Miguel Baptista (n. 1943) e José Manuel dos Santos (1943-1989) desalinhavam-se de uma "linhagem” mais conservadora e ortodoxa e apareciam com gravações algo surpreendentes para a época, do ponto de vista da composição melódica e harmónica e dos textos cantados, ao que não terão sido alheias, respetivamente, as contribuições, por volta de 1964, dos guitarristas Eduardo (n. 1939) e Ernesto de Melo (n. 1944), com o LP "Portugal. Fados from de Coimbra” e, entre 1965 e 1967, do poeta e guitarrista Nuno Guimarães (1942-1973) com 4 EP’s gravados.

Todavia, uma linha mais interventiva haveria de surgir nos inícios daquela década, pois alguns cultores tomaram consciência de que a Canção de Coimbra poderia ser uma arma de "arremesso” de palavras e de denúncias no combate político contra a ditadura. Nascia assim um Canto de Resistência a partir do Movimento das Trovas e Baladas que teve como principal "cantor de serviço” na Academia de Coimbra, Adriano Correia de Oliveira (1942-1982). A Trova foi a fórmula revolucionária encontrada pelos estudantes de Coimbra para a difusão de novas mensagens e a poesia de Manuel Alegre (n. 1936), com a bonita conjugação da palavra com a guitarra de António Portugal (1931-1994), o impulso perfeito para a luta pela Liberdade. Foi a partir de 1961 com Trova do Amor Lusíada que Adriano Correia de Oliveira emergiu no Movimento de Resistência, mas, foi em 1963, com a gravação da Trova do Vento que Passa, que a Canção de Coimbra se abriu aos horizontes de jovens de outras universidades que igualmente passaram a ver, neste tipo de Canto, uma forma eficaz de lutar pelos seus ideais. A certa altura, este Canto de Resistência foi levando uma mensagem poética de intervenção social e política cada vez mais distante, deixando de ser exclusivo de uma elite intelectualmente culta – a burguesia estudantil – para chegar às mais amplas camadas sociais.

Paralelamente, é na viragem para os anos 60 que José Afonso (1929-1987), libertando-se da guitarra e tendo a viola de Rui Pato (n.1946) no acompanhamento, recria a Balada na Canção de Coimbra, tendo sido, a partir de 1961-63, o grande responsável pela sua renovação formal, temática e estética com base num forte lirismo (fruto do recurso ao cancioneiro popular que o conduziu a formas tradicionais, algumas vezes, muito próxima da nossa poesia trovadoresca), com alguns temas rente ao Surrealismo (grande novidade na Canção de Coimbra) e, a partir de 1963, na inclusão de uma temática de intervenção social e política. Foi com Menino do Bairro Negro e Vampiros, gravados em 1963, que José Afonso inicia o seu Canto de Resistência num Movimento de Baladas que viria a influenciar ainda mais o Canto de Adriano Correia de Oliveira.

Igualmente, a partir de 1965, o guitarrista e poeta Nuno Guimarães (1942-1973) deixar-nos-ia a sua marca no torrencial temático do Movimento de Resistência através de poemas gravados na voz de António Bernardino (1941-1996), de José Manuel dos Santos e de Mário Soares da Veiga (n. 1945).

O próprio António Bernardino, no balanço final dos anos 60, deixou-nos um LP que não pode ser esquecido em qualquer narrativa que se faça sobre a Canção de Coimbra: o disco Flores para Coimbra editado em 1969. Com poesia de Manuel Alegre, o que sobressai, e importa destacar, é um poema de Orlando de Carvalho (1926-2000) – lente da Faculdade de Direito que sempre esteve ao lado dos estudantes durante a Crise Académica de 1969 – Trova da Planície. Um disco emblemático que a contestação académica da altura fez passar despercebido.

Igualmente, em 1969, Luiz Goes (1933-2012) reapareceria com uma intervenção social de registar quando grava o LP Canções do Mar e da Vida, no qual surgem as suas primeiras incursões no Canto de Resistência.

Por fim, em 1971, Armando Marta (1940-2007) gravaria um EP intitulado 4 Canções de Coimbra, que o colocaria, também, na galeria dos cultores da resistência oriundos de Coimbra.

Diga-se, ainda, que, o período entre 1969 e 1974 foi riquíssimo em termos de discografia de cultores oriundos da Canção de Coimbra no âmbito do Canto de Resistência.

Adriano Correia de Oliveira deixou-nos álbuns que importa relembrar para não esquecer Abril, entre os quais: o Canto e as Armas (1969), Cantaremos (1970) e Gente de Aqui e de Agora (1974).

José Afonso deixaria a sua pegada de resistência com álbuns como Traz Outro Amigo Também

(1970), Cantigas do Maio (1971), Eu Vou Ser como a Toupeira (1972) e Venham Mais Cinco (1973).

Igualmente Luiz Goes gravaria o LP Canções de Amor e de Esperança (1971).

Porém, não é possível falar da Canção de Coimbra dos anos 60 sem ter em conta a segunda metade dos anos 50, pois, nos finais desta década, as movimentações daqueles que partiam e que chegavam – para além daqueles que por Coimbra ficaram – acabaram por criar a vaga de fundo que haveria de sustentar os alicerces do Movimento das Trova e Baladas que marcou presença, como Canto de Resistência, ao lado da luta do Movimento Associativo e Estudantil da Academia de Coimbra durante a década de 60.


Jorge Cravo



Ficha Artística/Técnica

Organização: Coro dos Antigos Orfeonistas da Universidade de Coimbra/Câmara Municipal de Coimbra/Convento São Francisco

Produção: Coro dos Antigos Orfeonistas da Universidade de Coimbra em colaboração com o Convento São Francisco e a Divisão de Cultura do Município de Coimbra



Classificação Etária
M/6

Duração
90 minutos



Informações

Bilheteira: 239 857 191

bilheteira@coimbraconvento.pt

Compre o seu bilhete aqui


Cadeiras de Orquestra e 1.ª Plateia

€10

€8 estudantes / maiores de 65 anos / grupos (mínimo 10 pessoas) / desempregados / profissionais de artes performativas e de música


2.ª Plateia e Balcão

€8

€6 estudantes / maiores de 65 anos / grupos (mínimo 10 pessoas) / desempregados / profissionais de artes performativas e de música


Cartão Amigo CSF aplicável (40% de desconto)



- Para adquirir bilhetes de Mobilidade Reduzida, por favor, contacte a bilheteira do Convento São Francisco (diariamente entre as 15h00 e as 20h00, através do telefone n.º 239 857 191, ou envie mail para: bilheteira@coimbraconvento.pt



Fonte: http://www.coimbraconvento.pt/pt/agenda/vii-grande-noite-do-fado-e-da-cancao-de-coimbra-serenata-de-inverno-cancao-luta-protesto/
Recomendamos que confirme toda a informação junto do promotor oficial deste evento. Por favor contacte-nos se detectar que existe alguma informação incorrecta.
Download App iOS
Viral Agenda App
Download App Android