11:00 até às 19:00
ANTES QUE O INVERNO CHEGUE: Recordando a CANVAS

ANTES QUE O INVERNO CHEGUE: Recordando a CANVAS

Na sequência das exposições Fénix I e Fénix II a Galeria Graça Brandão apresenta ANTES QUE O INVERNO CHEGUE: Recordando a CANVAS.

Serão apresentadas obras de Albuquerque Mendes, Ana Marchand, Pedro Sousa Vieira, Pedro Tudela, Abilio Leitão, Victor Arruda, Carlos Nogueira, Gil Heitor Cortesão, Margarida Lagarto, Constança Meira, Rosa Carvalho, Carlos Schwartz, Rita Carreiro, Amélia Alexandre e Rubens Azevedo.

Texto de José Mário Brandão

"Depois de uma algo problemática saída da Galeria Nasoni e da Galeria Atlântica avancei, por desafio para comigo próprio, com um minúsculo espaço na Rua da Restauração, nascendo assim a Canvas & Companhia. 

O Francisco aceitou ser meu parceiro e os artistas que participaram na primeira exposição, inaugurada em Abril de 1996, com desenhos que seriam para um projeto do Darocha em França, que nunca se realizou, foram o Albuquerque, o Gerardo e o Tudela. O Bernardo escreveu um texto a que chamou “Constelações Afectivas”, nome em que me revi e que muitas vezes passei a citar na minha vida.  Ao mesmo tempo juntou-se o Chafes e, mais tarde, começaram a chegar, trazendo com eles uma frescura muito especial, os artistas brasileiros. Alguns viram o Porto como o ponto de partida para Espanha e para a Europa. O primeiro a chegar foi o Victor Arruda e depois o Efrain – cujo trabalho conhecêramos, eu e o Albuquerque, na Galeria Anna Maria Niemeyer no Rio, quando lá nos encontrámos, pela primeira vez, com – a Lygia Pape, o melhor presente que o Albuquerque me deu, a Sandra e o Albano, a Nazareth Pacheco, a Eliane Duarte, o Vicente de Mello, o Daniel Senise e outros. 

O Victor trouxe com ele a sua pintura provocatória, que originou perguntas estranhas que a Inês fazia quando os via “Mãe, porque é que aquele homem tem mamas?”. E a mãe lá lhe ia explicando isto e aquilo… 

Não saberia quem poderia escrever para o minúsculo catálogo que então publicávamos, mas o Albuquerque, como sempre, acertou na mouche. E o Victor comoveu-se quando lhe li, ao telefone, o poema que Al Berto escreveu utilizando, com mestria, os títulos de algumas das pinturas apresentadas na exposição. Subúrbio; Na Areia Movediça; Auto Estrada entre dois Túneis; Ciúme; Plano Imperfeito; À Beira do Abismo. 

O Bernardo Pinto de Almeida, o Alexandre Melo, o João Pinharanda, o Eduardo Paz Barroso, o João Miguel Fernandes Jorge, o Márcio Doctors, o Paulo Cunha e Silva e a Fátima Lambert com a sua generosidade, desde sempre apoiaram a galeria com os textos que escreveram para os catálogos. O Guilherme e o Rui fizeram sempre fotos que registaram esses momentos. A chegada dos brasileiros não foi muito bem vista por muitos que, imbuídos ainda de um certo ranço colonialista, consideravam, nitidamente por falta de conhecimento, que o Brasil era só cerveja, samba e futebol. Não sabiam que, enquanto em Portugal, salvo raras exceções, se pintavam paisagens, o Brasil já estava muitos anos à nossa frente, criando Grupos, que continuam a ser marcantes e influentes. O Marcantonio Vilaça, que teve muito pouco tempo para o fazer, começava a desfazer essa ideia colonialista, e a Lygia Pape só em 1999 expôs na Galeria, colocando o Brasil na ponta do iceberg. A Canvas foi a primeira galeria a expor regularmente artistas brasileiros, quebrando, contraventos e marés, a barreira então existente.

A Galeria Módulo tinha já apresentado Daniel Senise e Cravo Neto e a Galeria 111 também apresentara um ou outro artista brasileiro. Também conseguimos, na altura, expor o Albuquerque Mendes, o Pedro Tudela, o João Galrão e o Nuno Pontes no Brasil.

Para mim, os anos da Canvas foram especialmente felizes, coincidindo com a minha participação no programa de rádio Bossa Nova, do Jorge Costa, na Rádio Nova e, como escreveu o Paulo Reis, a minha era uma “casa modernista, a dois passos de Serralves, e a autêntica Embaixada do Brasil no Porto”. Pelo programa passaram artistas brasileiros que expunham na Canvas, ou artistas ou pessoas ligadas às artes plásticas, que passavam pela cidade. Assim aconteceu com a Lygia Pape, que amava a música brasileira, com o Efrain, a Iliana Pradilla, e mesmo a Varejão que expôs na Pedro Oliveira, mas ficou na Pousada da Praça do Império, a minha casa, também passou por lá. Antes de irmos para o Estúdio, escolhíamos os discos na minha estante, e voávamos até aos Pinhas da Foz para fazermos aquilo que nos dava tanto prazer. 

Também foi durante a existência da Canvas que surgiu na vida de todos nós o Paulo Reis, o nosso Índio Tupinambá, que não o era, que continuou o trabalho de ligação Brasil/Portugal e que, com o seu desaparecimento precoce, a todos abalou. Ainda conheceu o tempo em que o Brasil parecia ter deixado de ser o “país sempre adiado”, mas que, para nosso desencanto, não deixou ainda de o ser. 

 A Canvas, durante a sua existência participou em várias Feiras de Arte, tentando divulgar os trabalhos dos artistas com quem trabalhava. Esteve na Arco, na FAC de Lisboa, no Fórum de Matosinhos, na Marca na Madeira, no Fórum Atlântico da Corunha e na Ferira de Colónia na Alemanha. 

Em 2004 surgiu a possibilidade de fazer uma sociedade com um galerista que funcionava em part time em Lisboa, e um industrial neo colecionador do Porto. A empresa criada foi uma LLC, pois grandes voos se previam para a Graça Brandão que então nasceu, dando início à quarta fase da minha vida como mero mercador de arte que sou. Mas isso é outra história…"

José Mário Brandão
Setembro de 2022 

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