Mudança e revolução, o Rádio Faneca espeta o dedo na ferida através da única arma possível. Do Minho para Lisboa, a música de chica surge da implosão política e pessoal que caiu no seu lugar mais natural: a canção. "Brincar com o Cão", de 2020, foi o primeiro single do seu projeto a solo, onde se diz tudo antes de se pensar e se imaginam os espaços que não nos são concedidos. Em 2022, estreia-se com o EP “Cada Qual no seu Buraco”. As canções foram escritas e pensadas à sombra do desencantamento de quando se bate com o nariz na porta da vida adulta. A deriva rotineira é de fácil reconhecimento – nas casas, nas ruas e nos lamentos que lançamos para o tampo da mesa. Assim, este trabalho é o registo dessa decepção, mas também da realização de “que atrás de tempos vêm tempos e outros tempos hão de vir” (Fausto): a gestão diária entre a sobrevivência na engrenagem e o desprezo que lhe temos são obrigatórios para quem sabe que há muito mais. Trabalhado em banda, gravado em live-take e produzido com Luís Severo, a sonoridade deste disco movimenta-se entre os sons do folk, anti-folk e jazz e o seu elemento principal é o diálogo. É que se há lugar para procurar aquele muito mais ali de cima, é nos outros.
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