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Sereias apresentam 'Sereias'

Sereias apresentam "Sereias"

Apresentação do novo disco de Sereias no Porto.

Bilhetes: https://sixemotions.bol.pt/Comprar/Bilhetes/108945-sereias_apresentam_sereias-terraco_da_sala_estudio_perpetuo/</p>

Disco: https://loversandlollypops.bandcamp.com/album/sereias</p>


UM IMPULSO VITAL E URGENTE

“Recomecemos tudo de novo” grita A. Pedro Ribeiro a descerrar o novo álbum dos Sereias, abrindo espaço para o deambular de uma guitarra abrasiva sobre um ritmo persistente e incursões de teclados com reminiscências jazz-rock à anos 70. É este o mote para o novo álbum, um recomeço onde encontramos o free rock dos Sereias em todo o seu esplendor, uma mistura de post-rock e kraut em progressão contínua, tenso, obsessivo, massacrante, em jogos de texturas e piscar de olhos ao free-jazz e à música contemporânea e mesmo a algum tribalismo. Deste caldeirão sónico sai a voz psicótica de A. Pedro Ribeiro, ora gritada ora murmurada ora declamada, ora colérica ora depressiva, e a sua poesia bruta, de poeta de café em invectivas contra o mundo ou em lamentações existenciais. Mas contrariamente a “O País A Arder”, o disco de estreia, há aqui menos palavras de ordem sonantes, tipo “quero um primeiro-ministro para comer ao pequeno-almoço” ou “as putas da tv”, e um maior desespero face ao mundo, com as ambiências musicais a ganharem um protagonismo e um espaço inesperado, como em “Las Cadenas” – onde as vozes electronicamente traficadas desenham estritas narrativas sonoras –, e as ladainhas recitadas a serem repetidas uma e outra vez, a sublinhar a sensação de perda e o tom melancólico e angustiado que percorre todo o disco. “Ela vem, volta sempre, a depressão”, como rediz à exaustão A. Pedro Ribeiro, abandonando-se ao fado da inadaptação social e da carência afectiva que o faz cair “no fundo do copo, no fundo do abismo” por entre farrapos de melodia. E de nada valem as visões apocalípticas nem os avisos de que “a coisa vai estoirar” apoiados num crescendo rítmico de tramas explosivas, pois o destino está traçado: “voltar, voltar sempre”. E que bom que é este regresso! Numa altura em que a música portuguesa navega maioritariamente por um nacional-cançonetismo modernizado disfarçado de pop é uma bênção ouvir estes Sereias e a sua quimera disruptiva sob a forma de música, onde a criação é um impulso vital e urgente. Bem hajam!

Adolfo Luxúria Canibal

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