Flores de música – Corneto e órgão na Europa de Seiscentos João Vaz [PT] + Tiago Simas Freire [PT] A idade de ouro da corneta histórica situa-se principalmente no norte de Itália entre 1580 e 1630, mas a sua prática desenvolveu-se por toda a Europa ao longo de mais de dois séculos. Todas as catedrais, capelas de nobres e orquestras de corte teriam que incluir bons cornetistas entre os seus instrumentistas. Na Península Ibérica a corneta aparece nos efetivos das catedrais espanholas desde o início da segunda metade do séc. XVI e em Portugal o primeiro registro data de 1593 na Sé de Évora onde permanecerá em uso pelo menos até 1725. Nos nossos dias, o público em geral associa facilmente a corneta à Toccata que abre o Orfeo de Monteverdi. Mas que outros repertórios seriam interpretados especificamente pelos cornetistas? O presente programa é constituído como um pequeno panorama em diálogo entre a corneta e o órgão, seu cúmplice inseparável. Ao serviço das diversas instituições eclesiásticas, a corneta seria o ornamento de várias e numerosas canzonas e sinfonias. Para além disso, o repertório virtuoso para a corneta seriam sobretudo “diminuições” ou “glosas”, ou seja improvisações solistas sobre o repertório polifónico. Muitos instrumentistas gravaram esta arte em tratados didáticos, entre os quais o cornetista Girolamo dalla Casa que assumiu o cargo de diretor do agrupamento instrumental ao serviço da capela ducal de São Marcos de Veneza. Em verdade, a arte do cornetista (e de qualquer instrumentista) consiste neste período em imitar os cantores. Giovanni Bovicelli, cantor soprano que esteve ao serviço da Capela Sistina, deixou-nos um tratado em que descreve a arte vocal com minúcia. Finalmente, nas funções do cornetista incluir-se-ia igualmente a interpretação de arias e de “suaves melodias” de câmara, bem como suites de música para dança nos inúmeros bailes. Ainda que uma dezena de cantatas de Johann Sebastian Bach mencionem a sua utilização, a corneta cairá em desuso a partir de meados do século XVIII sendo substituída pelo violino na música virtuosa, pelo oboé na música sacra e de câmara e pela trompete na música cerimonial. Programa Claudio Monteverdi (1567-1643) Tocata e ritornello (L'Orfeo, 1609) Manuel Rodrigues Coelho (ca.1555-1635) Kirios de 1º tom * (Flores de música, 1620) Girolamo Frescobaldi (1583-1646) Canzon Terza Canzona * (Fiori musicali, 1635) Bartholomeu Trosilho (1500-1567) Circumdederunt me (Diminuições: Tiago Simas Freire) Frei Diogo da Conceição (séc. XVII) Meio registo de 2º tom * (Livro de órgão de Frei Roque da Conceição, 1695) Thomas Crecquillon (1505-1557) / Giovanni dalla Casa (?-1601) Petite fleur coincte et jolie (canzona com diminuições) (Il vero modo di diminuir, 1584) Frei Domingos de São José (séc. XVII) Obra de 5º tom * (Livro de órgão de Frei Roque da Conceição, 1695) Andrea Falconiero (1585/6-1656) La suave melodia & su corrente Cipriano di Rore (1515/6-1565) / Giovanni Bovicelli (1550-1594) Angelus ad pastores (motete com diminuições) António Carreira (ca.1530-ca.1594) Tento com cantus firmus sobre «Con que la lavaré» Bernardo Pasquini (1637-1710) Partite sopra l’aria della folia da Spagna * (Ms. 964, Arquivo Distrital de Braga) Nicolas le Bègue (1631-1702) Ou s'en vont ces gays bergers (Troisième livre d'orgue, c.1685) Claude Gervaise (1525-1583) Pavane Gaillarde Tourdion (Livres de danceries, 1547-1557) Tiago Simas Freire, corneta histórica, flauta e gaita de foles João Vaz, órgão * – órgão solo Entrada gratuita, limitada à lotação disponível. --- É obrigatório o uso de máscara e a observação das regras de distanciamento entre os participantes. É obrigatória a apresentação de certificado digital COVID-19 para acesso aos locais dos espetáculos.