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SULitude - Flávio Horta - desenho e pintura

SULitude - Flávio Horta - desenho e pintura

Sobre a obra de Flávio Horta
 
Quando o autor é um amigo, torna-se delicado escrever sobre as suas obras de arte, sem cair na cumplicidade do elogio desmedido, como também não é fácil para o autor, artista criador, percorrer os caminhos que envolvem as artes. 
Quem escreve sobre alguém, tem o dever de dizer com isenção e rigor, aquilo que pensa do homem e da sua obra, pois aquele que cria uma pintura, escultura ou outra obra de arte, está a dar aos outros o que lhe vai na alma e um pouco de si mesmo e, por tal facto, merece total respeito e admiração.
É nesta relação dramática de cumplicidades mútuas, entre brancas casas e cenários de beleza indescritível, que se ergue magnifica a obra de Flávio Horta. 
Obra onde podemos abordar a problemática da linguagem e comunicação na Arte contemporânea, tratando da relação imagem/palavra, a linguagem interna, aceitando que não será possível captar, analisar e utilizar semioticamente aquilo que denominamos imagem visiva, sem a existência de qualquer referência fórmica ou visual, sustentando e defendendo que a criação artística da obra de arte, nasce num sublime momento de pensamento e que paradoxalmente nunca esse momento virá alcançar a exteriorização, já que tudo o que é posterior a esse momento é mera representação do criado no imaginário. É criar assim, entrando no conceptual, desejando um absurdo paradoxo de querer transmitir uma mensagem e paralelamente, qual maldade infantil, desejar que a não encontrem. É criar uma expectativa, é incutir a ideia de que existe uma mensagem, para além da imagem, mas que afinal ninguém a vê. É assim responsabilizar o espectador, fruidor, avaliador. É fragilizar o sujeito que observa, colocar-lhe a dúvida, a interrogação. É aparentar um caos inexistente, que é sustentado por uma rígida ordem. É criar uma estranheza, e esta é essencial, pois é o motor da percepção da obra de arte. É criar um não lugar, na representação dum espaço, através do tratamento da virtualidade de uma paisagem urbana ou outra, que é horizonte de compreensão e, dum retrato que é densidade psicológica, que é entidade que se estabelece sobre algo, cuja localização espacial é incerta, um não lugar, o centro do sistema. 
Tal como só podemos sentir o espaço, quando nos libertamos do ponto de apoio, a Terra, nessa procura, onde a obra é epifania e transfiguração, a alma do objecto surge cheia de brilho e surgem espaços perdidos, espaços de anjo, espaço de imagem, espaço de imaginação, utopia, passagem, fluxo, elo que tem dupla vertente: uma arcaica e material, outra mais original e intimista, a inocência do paraíso perdido, o espaço perdido. Com a caracterização do rosto, espaço de epifania, procurou-se perscrutar uma estética tópica ou topológica mediatizada por um traço comum, envolvendo três pontos: a noção do espaço arcaico como revelador do traço simbólico do arcaísmo original do rosto, mundo e inmundo, do humano e do inumano, do anjo e da besta, que habitamos e transportamos, pois todas as coisas, tal como nós, possuem aparência e essência, mascara e verdade e se alcançarmos apenas a aparência, ao invés da essência, essa mascara cega-nos a ponto de impedir encontrarmos a verdade. Se queremos julgar uma obra de arte pelo virtuosismo da representação objectiva, pela vivacidade da ilusão, e se acredita descobrir o símbolo da sensibilidade inspiradora, na própria representação objectiva, nunca se poderá alcançar o prazer de fundir-se com o verdadeiro conteúdo de uma obra de arte. Aí reside todo o mérito da obra de Flávio Horta que não se fica pela mera representação do figurativo realista, vai muito mais além, criando cenários com movimento e vida que a todos nos deixa encantados pelo virtualismo do seu enorme sentido estético e plástico.
Silvestre Raposo
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