Há questões de poder absoluto que vão bem além da régia Magna Carta ou da eterna busca pelo Santo Gral, passagens que metaforizam a Guerra dos Tronos do Hip Hop a que hoje assistimos. Logo, será justo dizer que Magna Carta Holy Grail é muitas coisas, para bom reforço do ego e poderio do autor. É, sobretudo, um Jay Z munido de cavaleiros e de armas de peso, ao longo de 16 faixas onde tenta reinventar o old school. Sabe bem tentar... E assim o Rei vai ganhando terreno para o palmarés do ano.
Sem pudores, Jay Z já se comparou a Mike Tyson, Michael Jordan, Michael Jackson ou Notorious “Biggie” B.I.G. Hoje, revê-se nas letras como Jean-Michel Basquiat, honradas as doses de genialidade e contemporaneidade reinventada (musicalmente). Com muita Paris na guelra e muito Tom Ford no armário, ostenta a postura que o assina enquanto rapper, reflectindo sobre o seu umbigo e o de uma América de fragmentos e futuro incerto.
E quando a indústria parece ganhar cada vez mais teias palacianas, Jay salta fora do registo e responde com apetrechos de marketing que poucos dominam ou elevam tão bem: depois da largada surpreendente de Decoded, Magna Carta Holy Grail foi lançado num exclusivo para os utilizadores Samsung, com uma app própria e aparato promocional a condizer com o "americanão" 4 Julho. A ansiedade perante o teaser subiu e, na realidade, cumpriram-se as expectativas. Nem mais, nem menos. Sem os minimalismos de um – ora cruxificado ora amado – Yeezus, chegou-nos um álbum com novos clássicos e apontamentos de produção bem magistrados, em samples que ficam no ouvido.
Onde há novidade e qualidade aprimorada, também há preciosismos revisitados, a abrir portas para uma nova audiência que Old Man Carter parece querer agradar consensualmente. Seja através de referências a Nirvana no single protagonizado por Justin Timberlake ou a R.E.M., sob uma costela que lembra Beat Konducta em Heaven, vamos circulando num universo onde os referentes são cativantes e mesmo dançáveis – não se tivesse dado a reconciliação com o mago Timbaland, mesmo a tempo de pôr no forno um álbum bem cozido, faixa a faixa.
E se Somewhereinamerica pisca o olho ao passado com a sample de Still, hit protagonizado por Snoop Dog sob a co-autoria de Jay Z e Dr Dre, outros são os tunes que piscam o olho ao futuro próximo, sublinhado por uma filha a crescer, uma Beyoncé a idolatrar e amigos a manter por perto – com carreiras sólidas como as de Pharrell Williams, ou em ascensão como Frank Ocean e peso pesado Rick Ross.
Magna Carta Holy Grail não é incontestável, mas é uma declaração de força e de passos bem estudados, que nos fazem bem mexer o pézinho. Me likey, damn rightey.