Centro de Exposições de Odivelas (CMO)
Rua Fernão Lopes (junto ao Jardim da Música) - Odivelas Ver website
de Saulo Silveira
Recordar as coisas no coração, como novelos de linhas que se desenrolam. Tirar lá do fundo da alma o velho caixote onde estão as lembranças da minha infância. No meu tempo de menino, eu não conseguia ouvir os meus professores, mas tinha que fingir que ouvia (e por isso tornei-me um rato de bibliotecas, galerias de arte e museus). Há um momento particular que ficou gravado para sempre na minha memória, numa galeria de arte, quando me deparei com um quadro com as perspetivas todas confusas e erradas. Fiquei intrigado, olhava o quadro de um ângulo, de outro, abaixava-me e voltava a olhar para o quadro, sem saber bem o que procurava.
O galerista, um senhor bondoso, notou a minha curiosidade e colocou-se ao meu lado com um leve sorriso, até que dei por ele e lhe disse, com certa timidez, que achava as perspetivas do quadro distorcidas, visivelmente erradas. O galerista sorriu e disse-me, que o artista era livre para criar as suas próprias perspetivas, palavras que foram como uma chave para abrir a minha mente e me fizeram sair da galeria andando feliz pelas ruas, com a cabeça fervilhando de ideias. A escola ensina, mas a arte não só ensina como torna-nos mais criativos e espirituais. É uma poderosa ferramenta para projetar novos caminhos e ajudar-nos a vencer os desafios nos momentos complicados, quando perdemos o futuro de vista.
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