Pintura de RICARDO PAULA & SEBASTIÃO PAULA “Junho é por excelência, o mês dos santos populares e os bairros mais típicos e antigos das cidades transfiguram-se em enfeites de cor e ambiente de intensa alegria. É nestes locais tão genuínos que se celebram as festas populares que têm origem nos antigos rituais pagãos do solstício de verão, que a cristianização abençoou através de dois dos seus filhos, António e João. Estes santos pertencem ao povo e concedem-lhes, num acordo tácito e anualmente renovado, que viva a sua natureza por uma noite e um dia. As ruas enchem-se do cheiro de sardinhas assadas, o vinho canta nos copos, a música e os folguedos invadem as cidades em romarias e marchas povoadas de arcos e balões. Benze-se o povo com o alho-porro, salta-se a fogueira para dar sorte, compra-se o manjerico que se cheira com a mão para que não seque. Segundo a tradição, que nos nossos dias se vai perdendo, as crianças armam à porta de casa o trono do santo e pedem um tostãozinho para o Santo António ou São João.” Baseado nesta época festiva, o pintor Ricardo Paula, resolveu e muito bem, homenagear o Santo padroeiro de Lisboa, com esta excelente exposição comemorativa. Ao longo de mais de 30 anos de carreira, Ricardo Paula, tem vindo a ser um intransigente pesquisador de verdades e de liberdades interiores, não cessando de se transformar – mantendo-se, no essencial, fiel a si mesmo. Ricardo Paula perfaz o contorno, realiza o movimento, concretiza a ideia num imaginário pictórico único que lhe atribui um lugar marcante nas artes plásticas portuguesas. No envolvimento cálido e terno das pinturas aqui apresentadas, que conferem harmonia e beleza à trivialidade do quotidiano, sabe-se a vontade e o modo de subtrair riqueza plástica a um seu muito pessoal universo imagético. O grafismo, aqui afirmado como elemento estilístico, afirma a autonomia da cor, que polariza e atrai a fluidez antropomórfica das formas, é na sua obra de uma importância fundamental. Fala-nos pela incidência da cor que transporta e assume o papel de interlocutor entre a obra e o espectador. Estamos agora perante um artista sem hesitações, de um saber constante e ritmado, onde cada tomada de consciência nos abre o caminho para o seu mundo multidisciplinar, onde cada gesto tem o sabor de uma certeza. A arte de Ricardo Paula, extraordinariamente sensível na fluidez da linguagem das formas, na vigorosa materialidade da cor, na força e no encanto da sua evasão e do seu êxtase, é uma fascinante e esplêndida aventura espiritual e técnica. As suas obras, são pois materialização de anseios e de sonhos, notas de realce, na Pintura Portuguesa Contemporânea. A devoção e o profissionalismo, a continuidade e o empenho que Ricardo Paula nos transmite nas suas obras, revelam-nos estar perante um grande pintor e um excelente artista, reconhecido não só em Portugal como internacionalmente. Em “Santo António e a cidade por dentro” título da exposição que agora nos apresenta no MAC- Movimento Arte Contemporânea, mostra-nos a sua constante evolução, a sua busca sem fadiga, a qualidade intranquila da sua poética, que faz de cada momento uma reencarnação imprevisível, uma nova conquista, um constante enriquecimento. O vigor e qualidade do conjunto destas obras farão, com toda a certeza, que Ricardo Paula ocupe um significativo lugar nas artes plásticas do nosso país, pela pintura que vem construindo e a que já nos habituou, confirmando o talento e sobretudo a qualidade técnica e criativa deste artista. Álvaro Lobato de Faria Diretor Coordenador do MAC Movimento Arte Contemporânea