Quem conhece o trabalho de Design de Filipe Matos para marcas como a Optimus ou a Pantene não imagina que, nas profundezas do seu laboratório secreto, se desmultiplica uma parafernália de insólitas peças de net.Art capazes de arrancar uma gargalhada de pura delícia ao mais acabrunhado dos hackers da velha guarda. Foi numa dessas nocturnas deambulações semiconscientes pelos meandros da sempre surpreendente World Wide Web que tropeçámos no seu website G3, onde além do trabalho mais institucional podem ser encontrados esses verdadeiros tesouros da experimentação online.
Uma forma retorcidamente astuta de criar arte na e através da rede que a vira do avesso e lhe ilumina as costuras escondidas.
Fomos ainda, de seguida e pelo mesmo método, virtualmente abduzidos pela sua página de Facebook: aqui Filipe Matos apropria-se, numa atitude algo semelhante (contudo numa estética bastante distinta) ao famoso Glitchr, dos erros da própria plataforma, explorando a desconstrução desta através da subversão da sua linguagem e modos de funcionamento. Desmultiplicado nos seus vários alter-egos - Filipe Matos, Ellen Ripley, Hal Nine Thousand – o artista cria interacções e duelos entre as personagens, resultando em adventos cósmicos como o reaparecimento da persona Filipe Matos sob a forma de Cristo Renascido ou a eventual expulsão por parte do Facebook do heterónimo Hal Nine Thousand por suposta “falta de identificação”. Ou de comparência aos treinos, quem sabe.
A net.Art, forma de expressão artística surgida com a popularização da Internet a meados dos anos 90 do século passado, inspira-se na linguagem comunicativa - explícita e implícita – da própria rede, corrompendo muitas vezes essa mesma linguagem, e deturpando meio e mensagem num contexto de colorida subversão e ironia digital. Alex Shulgin, Cosic, Heath Bunting, Olia Lialina, o colectivo JODI e Franco Mattes aka 0100101110101101.ORG são alguns dos percursores desta forma retorcidamente astuta de criar arte na e através da rede, que a vira do avesso e lhe ilumina as costuras escondidas por entre erros interactivos e sarcásticas interferências.
Embora tendo em conta iniciativas como a Virose que, surgida no Porto em 1997, foi a primeira comunidade online portuguesa a promover uma reflexão sobre o tema, o CADA - Centro de Artes Digitais Atmosferas, ou a galeria virtual Net.Arte, promovida pela Direcção Geral das Artes, o fenómeno da net.Art parece ter-se manifestado com relativa timidez em Portugal quando visto à luz do prolífero panorama internacional.
Talvez por isso também tenhamos sucumbido de maneira tão natural à visão distorcida deste Senhor dos Pixéis. Por isso e porque dos simples fundos desmantelados, às paródias de Facebook, passando pelos desktops interactivos do inferno, identificámos no trabalho de Filipe de Matos algo de muito familiar: a mesma vontade disruptiva que nos levou em última instancia a criar a plataforma VIRAL, uma vontade incomensurável de ver o circo a arder.